Sete entre dez setores demitiram pessoal no primeiro trimestre

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 30 de abril de 2022

A melhoria do desemprego no primeiro trimestre deste ano pode ser explicada principalmente pela saída de um contingente expressivo de trabalhadores da força de trabalho, aparentemente motivada pela redução do emprego no período. A falta de colocações que ofereçam condições mais dignas de subsistência igualmente pode estar por trás dos movimentos mais recentes no mercado de trabalho. O dado concreto, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é que o número total de ocupados caiu de 95,747 milhões no último trimestre do ano passado para 95,275 milhões nos três primeiros meses deste ano, num recuo de 0,5% – o que correspondeu ao fechamento de 472,0 mil empregos.

Entre 10 setores de atividade organizados pelo IBGE, sete cortaram vagas no mesmo período, com destaque para os setores da construção, para a agricultura e para o segmento de comércio e reparo de veículos. Pela ordem, o emprego foi reduzido de 7,465 milhões para 7,213 milhões de vagas no primeiro setor (252,0 mil a menos, em baixa de 3,4%); de 8,881 milhões para 8,743 milhões no segundo (corte de 138,0 mil empregos, numa redução de 1,6%); e de 18,444 milhões para 18,339 milhões de ocupações (somando 104,0 mil demissões, com recuo de 0,6% frente ao quarto trimestre de 2021).

Mesmo assim, o número de trabalhadores desocupados registrou recuo em torno de 0,5% entre aqueles dois trimestres, saindo de 12,011 milhões para 11,949 milhões, ou seja, 62,0 mil a menos, o que manteve a taxa de desemprego em 11,1% (a mesma registrada no quarto trimestre do ano passado). Conforme anota o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), “mesmo com o recuo recente, a taxa de desemprego entra no seu sétimo ano consecutivo em dois dígitos, o que, juntamente com a aceleração da inflação, tem restringido o consumo das famílias e a evolução dos mercados de bens e serviços no país. O emprego permanece um problema a ser equacionado”.

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Por trás do desemprego

Mas como explicar a redução no total de desempregados ao mesmo tempo em que o emprego igualmente sofreu perdas? Isso ocorreu porque o número de pessoas com 14 anos ou mais na força de trabalho (a soma de ocupados e desempregados que ainda buscavam uma colocação no mercado) encolheu 0,5%. Aquele número baixou de 107,758 milhões para 107,224 milhões, correspondendo à saída do mercado de 534,0 mil trabalhadores. O pessoal fora da força de trabalho, que inclui trabalhadores disponíveis para trabalhar, aqueles que desistiram de buscar emprego por desalento e outros que optaram por se manter fora do mercado por razões diversas (a decisão de se dedicar à criação dos filhos, por exemplo, ou falta de opções descentes de emprego), aumentou ainda mais, passando de 64,525 milhões para 65,454 milhões (ou 929,0 mil a mais, numa variação de 1,4%).

Balanço

  • Num exercício meramente hipotético, suponham, rara leitora e raro leitor, que o número de pessoas fora do mercado tivesse se mantido estável no primeiro trimestre deste ano (sempre comparando com o trimestre imediatamente anterior). Isso significa que a economia teria que arranjar alguma forma de colocação para 929,0 mil trabalhadores a mais. Como a oferta de empregos não se moveu, ou antes, até caiu, a consequência teria sido um aumento no total de desempregados, que passaria de 11,949 milhões para 12,878 milhões, subindo 7,8%.
  • Nesta hipótese, a taxa de desocupação sairia daqueles 11,1% para 11,9% (considerando que a força de trabalho também cresceria, aproximando-se de 108,153 milhões de pessoas). Como se sabe, a taxa de desocupação corresponde à relação entre o número de desempregados e o total de pessoas na força de trabalho.
  • Potencialmente, tomando outros parâmetros oferecidos pela PNADC, a taxa de desocupação seria quase duas vezes mais alta do que aquele verificada na medição convencional, aceita internacionalmente. Em outro exercício, que ajuda a dar uma visão mais aproximada das fragilidades no estágio atual de desenvolvimento do mercado de trabalho brasileiro, a coluna somou o número de trabalhadores desempregados com o total de pessoas fora da força de trabalho por desalento e ainda com o contingente de trabalhadores igualmente fora do mercado, mas dispostos ainda a trabalhar.
  • A soma mostra 25,897 milhões de trabalhadores naquela situação, pouco acima dos 25,764 milhões registrados no trimestre final de 2021. Nessa contagem, a taxa de desocupação estaria ao redor de 21,6% (acima dos 21,2% observados no quarto trimestre do ano passado, mas abaixo dos 27,2% alcançados no trimestre inicial de 2021). O número mostra o tamanho do desafio à frente para encontrar empregos dignos para todo aquele contingente ou ao menos para a maior parte daquelas pessoas. Esses deveriam ser dados centrais no debate econômico e na formulação de políticas e planos de governo pelos candidatos que buscam a cadeira presidencial, a esta altura.
  • Considerando o primeiro trimestre do ano passado, base muito achatada pela pandemia, o total de ocupados apresentou avanço de 9,4%, com criação de 8,193 milhões de colocações, saindo de 87,082 milhões para 95,275 milhões. Mais da metade desse incremento, no entanto, deveu-se ao aumento da informalidade. O total de trabalhadores informais, quer dizer, sem direito a férias, 13º salário, aposentadoria e ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), aumentou de 34,054 milhões para 38,203 milhões, saltando 12,2% (4,149 milhões a mais).
  • O número de desempregados caiu proporcionalmente menos, saindo de 15,257 milhões para aqueles 11,949 milhões de trabalhadores (3,308 milhões a menos, num tombo de 21,7%, ainda que a oferta de novos empregos tenha se aproximado de 8,2 milhões, como visto). Isso se explica porque mais 1,594 milhão de pessoas chegaram ao mercado e outras 3,292 milhões, que estavam fora da força, voltaram a procurar emprego com a crescente normalização na movimentação de pessoas e fim das restrições a aglomerações.