Setor de serviços reforça sinais de perda de dinamismo em agosto

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 18 de outubro de 2023

O resultado do setor de serviços em agosto parece confirmar uma tendência de perda de dinamismo no início deste segundo semestre, depois de dois meses de “virtual estagnação” na leitura do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). O acompanhamento mensal realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que o nível de atividade do setor recuou 0,9% na saída de julho para agosto. Nos dois meses anteriores, ainda na séria sazonalmente ajustada (quer dizer, descontados fatores e eventos que se repetem nos mesmos períodos todos os anos), o volume de serviços havia registrado variação positiva de 0,2% e de 0,4% frente respectivamente a maio e junho deste ano.

Nas contas do IBGE, o setor devolveu em agosto pouco mais de dois quintos dos ganhos acumulados entre maio e julho, quando o setor havia avançado 2,1% na série com ajuste sazonal. A perda de dinamismo surge com maior nitidez na comparação quadrimestral. O setor chegou a avançar 7,8% no último quadrimestre do ano passado, diante do mesmo período de 2021, passando a apresentar crescimento de 4,8% no primeiro quadrimestre deste ano e anotando variação de 3,4% no quadrimestre maio a agosto, igualmente em relação a idêntico intervalo de 2022.

Ainda conforme o IBGE, entre os 166 tipos de serviços acompanhados pela pesquisa mensal do instituto, 63,9% apresentaram crescimento em agosto do ano passado, índice reduzido para 49,4% em igual mês deste ano, mostrando, muito evidentemente, que pouco mais da metade dos segmentos pesquisados anotaram taxas negativas. Em parte, o desaquecimento apresentado agora pode ser relacionado aos níveis já elevados registrados em períodos anteriores. Outra parte parece sugerir alguma acomodação na capacidade de consumo das famílias, seja por conta de um endividamento ainda elevado, seja pelas pressões altistas ainda presentes sobre os preços dos serviços.

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Reação em cadeia

Na análise do Iedi, a “evolução recente [dos serviços] está associada à robustez das bases de comparação, dado que o faturamento do setor está 11,6% acima do nível pré-pandemia [ou seja, na comparação com fevereiro de 2020]. Além disso, a inflação de serviços segue sendo superior ao IPCA geral [o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo] e a capacidade de compra da população continua restringida por seu nível de endividamento e as altas taxas de juros, o que afeta em primeiro lugar os mercados de bens, mas que, cedo ou tarde, também impacta os serviços”.

Balanço

  • Os resultados de agosto, na comparação com julho, ficaram no vermelho em quatro dos cinco setores que compõem o setor de serviços na classificação do IBGE. Houve perdas, na mesma comparação, para serviços prestados às famílias, com queda de 3,8%; assim como os serviços de informação e comunicação recuaram 0,8%. Transportes e outros serviços sofreram perdas, respectivamente, de 2,1% e de 1,4%. Como exceção, os serviços profissionais e administrativos cresceram 1,7%.
  • No primeiro caso, uma das principais influências negativas veio da retração de 3,5% nos serviços de alojamento e alimentação, que envolvem hotéis, bares e restaurantes, entre outros associados àquelas atividades. No segundo setor, os serviços de tecnologia da informação e comunicação (TIC) anotaram baixa de 0,9% em agosto diante do mês imediatamente anterior.
  • Entre os serviços de transportes, o “efeito-safra” parece começar a perder força, desacelerando o segmento de transporte de cargas, que sofreu baixa de 1,2% em agosto, depois de crescer 5,7% tanto em junho quanto em julho – quando foi registrado o melhor resultado da série histórica.
  • Em Goiás, também na série com ajuste sazonal, os serviços saíram de um crescimento de 5,6% em julho – o que permitiu ao setor alcançar seu melhor momento desde que esse tipo de pesquisa começou a ser realizado no Estado – para tropeçar em agosto e cair 2,7%. A queda, como se percebe, foi mais intensa do que aquela registrada na média em todo o País.
  • Na comparação com igual mês do ano imediatamente anterior, o nível de atividade em todo o setor de serviços alcançou a 30ª taxa mensal positiva, avançando 0,9% em agosto deste ano frente ao mesmo período de 2022. O dado em si, sustentado pelos resultados positivos de dois entre cinco segmentos pesquisados, mostra uma tendência novamente de desaquecimento no ritmo de crescimento do setor, que havia avançado 4,2% em junho e 3,6% em julho.
  • Comparado a agosto do ano passado, os serviços de informação e comunicação e a prestação de serviços profissionais, administrativos e complementares cresceram, pela ordem, 2,4% e 5,6%. Houve baixas de 1,5% para serviços prestados às famílias, de 1,2% para o segmento de transportes e tombo de 6,2% para outros serviços.
  • Nas mesmas bases, em Goiás, a atividade cresce há 31 meses, desde fevereiro de 2021, e tem revelado maior resiliência do que a média brasileira. Num período mais recente, o setor avançou 8,3%, 9,4% e 9,9% em junho, julho e agosto, frente aos mesmos meses de 2022. No acumulado do ano, a taxa chegou mesmo a anotar algum avanço, saindo de 7,2% no primeiro semestre para 7,9% nos oito primeiros meses deste ano (sempre tomando como base idêntico períodos de 2022).
  • Na média brasileira, os serviços acumularam elevação de 4,1% entre janeiro e agosto frente aos mesmos oito meses do ano passado, mas seguem tendência de desaceleração, quando se compara com o avanço de 4,7% anotado no primeiro semestre.