Quinta-feira, 28 de março de 2024

Setores de menor qualificação criam 60% dos novos empregos

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 01 de outubro de 2022

O cenário no mercado de trabalho sofreu alterações apenas ligeiras em relação ao trimestre finalizado em maio deste ano e continuou registrando predominância das ocupações que demandam menor qualificação no avanço do emprego em todo o País. Além disso, os recordes anotados no total de pessoas na força de trabalho e para o número de trabalhadores ocupados vieram acompanhados mais uma vez por recordes no total de informais e, claro, para o número de trabalhadores por conta própria e para empregados no setor privado sem carteira assinada. A combinação mostra um mercado de trabalho ainda com níveis altos de precariedade, num avanço que se mostra ainda instável e sujeito às perspectivas ainda incertas para a recuperação do emprego de maior qualidade, que paga salários mais altos e ajuda a construir níveis de produtividade mais elevados em toda a economia.

A série de dados apurados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que a taxa de desemprego recuou de 9,8% para 8,9% entre os trimestres finalizados, respectivamente, em maio e agosto deste ano, retomando aos mesmo níveis registrados no trimestre junho-agosto de 2015. Comparando ao trimestre encerrado em agosto do ano passado, a taxa baixou 4,2 pontos percentuais, saindo de 13,1% então.

Em qualquer análise, é preciso ter uma perspectiva de prazo mais longo para conferir uma dimensão pretensamente mais precisa a estatísticas impessoais, sempre levando em consideração que por traz desses números estão pessoas, trabalhadores e suas famílias, por mais óbvio que isso possa parecer. A taxa de desocupação mantém-se muito acima de seu melhor resultado na série histórica, alcançado no trimestre finalizado em novembro de 2013, quando o desemprego era de apenas 6,6%.

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Outra perspectiva

Foi também na mesma época que o chamado nível de ocupação – percentual de pessoas ocupadas em relação à população total em idade para trabalhar (14 anos ou mais de idade) – chegou ao seu maior percentual, aproximando-se de 58,5% então. Esse nível saiu de 53,4% no trimestre junho-agosto de 2021 para 56,4% entre março-maio deste ano, passando para 57,1% no trimestre junho-agosto de 2022. Para retomar os mesmos níveis de novembro de 2013, a economia teria que gerar mais 2,384 milhões além dos 99,013 milhões registrados no trimestre terminado em novembro deste ano, exigindo um incremento de aproximadamente 2,4%. Esse tipo de ponderação ajuda a colocar o recorde de empregos sob outra perspectiva, talvez mais próxima das tendências em cena no mercado de trabalho atualmente.

Balanço

  • O total de pessoas ocupadas registrou variação de 1,5% na comparação entre os trimestres finalizados em maio e agosto deste ano, correspondendo à abertura de 1,497 milhão de vagas (já que o número de empregos havia atingido 97,516 milhões em maio passado). Em torno de 56,4% desses empregos novos vieram de serviços de menor qualificação, da construção civil e do setor agropecuário.
  • Em conjunto, aqueles setores de atividade empregaram 57,225 milhões de pessoas no trimestre junho-agosto deste ano, frente a 56,381 milhões nos três meses imediatamente anteriores. Entre um trimestre e outro, portanto, aqueles segmentos abriram 844,0 mil vagas para um total de 1,497 milhão de novas ocupações criadas em toda a economia.
  • A comparação com igual trimestre do ano passado mostra uma participação ainda mais relevante. A economia como um todo gerou mais 7,287 milhões de ocupações desde o trimestre junho-agosto de 2021, quando a PNADC chegou a anotar um número total de ocupados ao redor de 91,725 milhões. Comparado ao mesmo período deste ano, a ocupação avançou 7,9%.
  • Em idêntico intervalo, os setores que requerem menor qualificação contrataram 4,569 milhões de trabalhadores, correspondendo a 62,7% de todas as novas ocupações abertas em igual período. Neste caso, as vagas ocupadas nesta área chegavam a 52,656 milhões, representando 57,4% do total de ocupações registradas há 12 meses, percentual elevado ligeiramente para 57,8% em agosto deste ano.
  • A evolução do emprego, de qualquer forma, movida também pela retomada dos serviços desde o esgotamento das medidas de distanciamento social, contribuiu para derrubar o total de desempregados de 13,874 milhões no trimestre junho a agosto de 2021 para 10,631 milhões nos três meses finalizados em maio deste ano e daí para 9,694 milhões no trimestre terminado em agosto de 2022. Em 12 meses, a queda chegou a 30,1%, com 4,180 milhões de trabalhadores deixando a situação de desocupados.
  • Para comparar, o total de desempregados havia alcançado seu nível mais baixo no trimestre setembro a novembro de 2013, quando a pesquisa identificou 6,465 milhões de desocupados. Por essa medida, seria necessário reduzir o número de desempregados em praticamente um terço, com a criação de mais 3,229 milhões de vagas, sem considerar variações eventuais no total de pessoas na força de trabalho.
  • A informalidade, embora tenha crescido proporcionalmente menos, ainda desempenha papel de alguma importância para dar alguma sustentação ao emprego. Incluindo trabalhadores dos setores privado e público sem carteira, conta própria e empregadores sem CNPJ e trabalhadores familiares, os informais saíram de 39,419 milhões para 42,241 milhões entre os trimestres finalizados em agosto de 2021 e igual mês deste ano, num acréscimo de 7,2% (ou seja, 2,822 milhões a mais, representando quase 39% de todas as ocupações geradas no mesmo período).