Setores eólico e solar respondem por 72,4% do aumento do setor elétrico

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 25 de dezembro de 2021

Em conjunto, os setores de energia eólica e solar fotovoltaica assumiram em outubro deste ano uma participação em torno de 14,0% da capacidade total instalada do sistema elétrico brasileiro, saindo de 8,2% em 2017 e tornando-se a terceira principal fonte de geração de energia elétrica, atrás das fontes hidráulica e térmica, segundo dados mais recentes da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). O avanço combinado da geração solar e fotovoltaica aproximou-se de 88,0% em quase quatro anos e as duas fontes contribuíram com 72,35% para o aumento geral da capacidade de geração de todo o sistema no período. Ainda assim, como já registrado neste espaço (O Hoje, 22/12/2021), as fontes eólica e solar foram solenemente desprezadas no primeiro leilão de reserva de capacidade, que envolveu a contratação de energia e potência a serem entregues ao sistema integrado em 2026 e 2027.

As séries estatísticas da CCEE mostram que a capacidade instalada em todo o sistema cresceu pouco menos de 10,0% desde o final de 2017, saindo de 165.424 para 181.941 megawatts (MW) – um acréscimo de 16.517 MW. A geração fotovoltaica, que era incipiente em 2017, somando 952 MW (0,58% do total), foi multiplicada em praticamente quatro vezes, para 4.640 MW (passando a 2,55% do total), quando considerada apenas a geração centralizada. Para a eólica, o aumento chegou a 65,34%, com a capacidade do setor passando de 12.644 para 20.906 MW e sua participação avançou de 7,64% para 11,49%.Na soma das duas fontes, a capacidade evoluiu vigorosamente, saltando de 13.596 para 25.546 MW, o que correspondeu à contratação de uma capacidade adicional de 11.950 MW.

Os dados da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica) e da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) diferem ligeiramente, quando considerada apenas a geração centralizada, ou seja, aquela originada de usinas de maior porte. No primeiro caso, a associação estima crescimento de 67,4% na capacidade do setor, de 12.764 MW em 2017 para 21.365 MW neste ano, com a participação aproximando-se de 12,0%.

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A Absolar informa uma capacidade de 4.574 MW em novembro deste ano, frente a 968 MW em 2017, correspondendo a um incremento de 372,5%.Mas a geração fotovoltaica descentralizada passou a superar a centralizada desde o ano passado, quando atingiu 4.798 MW de potência instalada. Até novembro deste ano, a capacidade havia crescido 58,75% e aproximava-se de 7.617 MW, acumulando salto de 3.867,2% frente a 2017, quando alcançava apenas 192 MW. Ainda em 2021, perto de 42,6% da geração descentralizada estava instalada no setor residencial.

Danos ambientais

Conforme já noticiado, o leilão de energia de reserva contratou 17 projetos, apenas um com fonte em biomassa. Nove projetos são de termelétricas a gás, com cinco de plantas movidas a óleo combustível e duas usinas a óleo diesel, somando 4.314 MW de potência injetada (corresponde, resumidamente, à energia que será lançada no sistema integrado) ou 97,36% da potência total contratada no leilão. Na avaliação do Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema), a cada ano, “as 16 usinas fósseis ganhadoras do certame emitirão um total de 1,6 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2e). Esse valor corresponde a 4% das emissões de todo setor elétrico em 2020, segundo dados do SEEG” (Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa, uma iniciativa do Observatório do Clima para calcular as emissões brasileiras de carbono).

Balanço

  • Ainda conforme o Iema, para se ter uma dimensão mais próxima da realidade do potencial poluidor daquelas plantas, “uma única usina vencedora pode emitir durante um ano uma quantidade de óxidos de nitrogênio (NOx) equivalente a 100 dias de tráfego de automóveis na cidade de São Paulo”.
  • “Apesar do setor elétrico brasileiro entender que termelétricas têm papel importante em sua matriz de fontes, é preciso, no planejamento da contratação desses empreendimentos, considerar os importantes impactos ambientais inerentes”, defende o instituto. Como são usinas que geram impactos locais cumulativos, “que se somam aos de outras atividades (como transportes, no caso das emissões atmosféricas)”, sustenta ainda o Iema, “é essencial que os efeitos negativos da operação de atuais ou futuras plantas não sejam considerados individualmente, mas, sim, de maneira sistêmica, de local a local”.
  • Sete daquelas plantas, com geração a partir de diesel e óleo combustível, ainda poderão ser excluídas do leilão, o que poderia abrir espaço para a contratação de novos projetos, possivelmente menos poluidores. São projetos que conseguiram concorrer à força de liminares, porque seu custo de operação supera os limites fixados para o leilão.
  • O único projeto ambientalmente amigável a vencer o certame foi apresentado pelo grupo IBS Energy. Depois de atuar 19 anos no mercado de compra e venda de energia e na prestação de serviços no setor elétrico, o grupodecidiu complementar seu portfólio com um investimento de R$ 502,3 milhões em uma planta de geração de energia com potência nominal de 80 megawatts (MW)– a usina termelétrica Cidade do Livro, numa referência a Lençóis Paulista, sede da nova térmica.
  • As obras, a cargo do braço brasileiro da PowerChina, vão incluir a construção de uma linha de transmissão de 26 quilômetros entre a planta e Barra Bonita e deverão ser iniciadas entre abril e maio de 2022, com previsão de conclusão em dois anos, de acordo com Luiz Mello, presidente da empresa.O projeto embute uma série de novidades, na versão de Mello, a começar pelo fato de não estar associado a processos de produção.
  • “Decidimos investir em uma termelétrica estruturante, que não depende de uma única biomassa e nos dará controle do despacho de eletricidade, gerada a partir de fontes renováveis”, resume Mello. A tecnologia escolhida, a partir do trabalho do especialista Glauco Palhoto, um dos donos da IBS Energy, torna possível a geração de energia a partir de praticamente qualquer tipo de biomassa, desde bagaço e palha de cana até casca de arroz, incluindo cavaco, casca e aparas de madeira e outros resíduos de origem vegetal.
  • A queima da biomassa ocorrerá em caldeira com leito fluidizado, mais eficiente na geração de vapor, que será na sequência resfriado a partir do aproveitamento de água de descarte processada na Estação de Tratamento de Efluentes de Lençóis Paulista.O projeto da usina, que nasce já com a certificação I-REC, plataforma que permite o comércio de certificados de energia renovável, permitiu à IBS Energy vencer o leilão A-5 com a contratação de 15,6 MW e início de despacho em janeiro de 2026. A empresa tem planos de disputar ainda os leilões programados para abril e setembro de 2022. “Os contratos de fornecimento no mercado regulado servem como lastro nas operações de financiamento, permitindo condições mais favoráveis, além de facilitarem o acesso a outros mercados”, sustenta Mello.