Setores mais atingidos pela pandemia em 2020 apontam melhores números

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 09 de julho de 2021

A indústria goiana experimentou algum alívio em maio, depois de meses muito negativos, com uma ressalva importante – a produção industrial continuou sustentando números negativos na comparação com o ano passado. Em linhas gerais, os números vieram melhores quase sempre para os setores que haviam registrado desempenhos muito ruins em 2020, não coincidentemente por terem sido também os setores afetados mais duramente pelas medidas de restrição à circulação de pessoas e ao funcionamento dos negócios em geral.

A pesquisa mensal da produção industrial regional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)aponta alta de 4,8% para o setor em Goiás no mês de maio, em comparação a abril deste ano, mas mostra recuo de 0,3% frente a maio de 2020. O levantamento, no entanto, não traz dados desagregados por setor de atividade na comparação com o mês imediatamente anterior. Pode-se inferir, no entanto, que a saída de abril para maio trouxe números relativamente melhores para as indústrias de biocombustíveis, alimentos e possivelmente medicamentos, que, no entanto, ainda apresentam resultados inferiores aos do ano passado.

Sempre na comparação com o período mensal imediatamente anterior, a produção industrial no Estado sofreu baixas entre outubro do ano passado e janeiro deste ano, com baixas, mês a mês, de 4,2%, 1,6%, 0,4% e 1,2% (respectivamente em outubro, novembro, dezembro e janeiro). Depois disso, avançou 2,4% e 0,8% em fevereiro e março, antecipando uma desaceleração na velocidade de crescimento, para cair 1,7% em abril antes de avançar 4,8% em maio. Na prática, a produção praticamente não saiu do lugar desde setembro do ano passado, acumulando, na verdade, um recuo de 1,3% até maio deste ano. Entre janeiro e maio deste ano, comparado aos mesmos meses de 2020, a produção registrou queda de 4,2% (diante de alta de 13,1% para o setor industrial como um todo no País).

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Biocombustíveis

No caso dos biocombustíveis, as estatísticas da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) indicam crescimento de 74,76% na produção entre abril e maio deste ano, considerando a produção somada de biodiesel e etanol. Nesta soma, a produção saltou de 382,67 milhões de litros em abril para 668,77 milhões de litros em maio. Neste caso, o grande salto veio do etanol, que vinha patinando em função de dois fatores centrais – a queda do consumo de combustíveis e a quebra na safra de cana, que afetou diretamente a oferta de matéria prima para as usinas. A produção de etanol saiu de 309,75 milhões para 589,36 milhões de litros também entre abril e maio, o que representou alta de 90,3%. Ainda assim, a produção do setor continuava 6,24% abaixo de 2020, na comparação entre os cinco primeiros meses deste ano e igual período do ano passado.

Balanço

  • A produção de biodiesel avançou 8,9% de abril para maio deste ano, saindo de 72,926 milhões para 79,404 milhões de litros. No acumulado entre janeiro e maio, ainda aponta recuo de 1,84% (saindo de 342,378 milhões para 336,069 milhões de litros). Na soma de biodiesel e etanol, a produção saiu de 1,438 bilhão para 1,363 bilhão de litros, caindo 5,19%.
  • Na pesquisa do IBGE, a produção de biocombustíveis avançou 6,2% em maio, na comparação com o mesmo mês do ano passado. Mas vinha de perdas de 15,8% e de 5,7% em março e abril, tanto que acumulava queda de 2,6% no acumulado dos cinco primeiros meses deste ano frente a igual intervalo de 2020.
  • Os dados da pesquisa do IBGE mostram uma correlação às avessas no caso de alguns setores. Em linhas gerais, aqueles que cresceram mais ao longo dos cinco primeiros meses do ano passado embarcaram em queda neste ano. De outro lado, praticamente todos os que experimentaram perdas históricas em 2020 passaram a apresentar números melhoras, obviamente muito em função da base de comparação bastante reduzida.
  • Esse movimento parece mais claro nas indústrias de veículos e de medicamentos. No primeiro caso, a produção havia desabado 84,0% entre maio de 2020 e o mesmo mês de 2019, acumulando perdas de 48,2% em cinco meses. Neste ano, a produção disparou, com saltos de 693,0% sobre maio de 2020 e alta de 102,6% no acumulado em cinco meses. Quando se olha para um horizonte mais amplo, no entanto, a indústria de montagem de veículos em Goiás acumula perdas de 67,4% entre julho de 2012 e maio deste ano (tomando o índice de base fixa sem ajustes sazonais, já que o IBGE não publica indicadores dessazonalizados por setor de atividade para os Estados).
  • A indústria de medicamentos havia crescido 17,2% em maio do ano passado e 19,9% nos cinco meses iniciais de 2020 (comparados a 2019). O setor, como se sabe, operou sem grandes restrições desde o começo da pandemia. Neste ano, a produção despencou 37,6% em maio (frente a maio de 2020) e acumulou perdas de 34,7% também em relação aos primeiros cinco meses do ano passado.
  • A produção de minerais não metálicos (areia, brita, cimento e concreto, entre outros) baixou 5,1% em maio do ano passado, com perdas acumuladas em cinco meses de 6,2%. Em maio deste ano, o setor produziu 19,6% a mais em maio e 25,2% em cinco meses, mais do que compensando as perdas de 2020.
  • A indústria de alimentos, que responde por mais de dois terços do valor agregado do setor de transformação industrial em Goiás, chegou a apresentar crescimento de 9,3% em maio do ano passado, fechando o período entre janeiro e maio com ligeiro avanço de 1,2% diante dos maus resultados colhidos no início daquele ano. Em 2021, o cenário mudou radicalmente, refletindo o encarecimento dos alimentos, a queda da renda das famílias e o desemprego elevado. A produção de bens alimentícios sofreu baixa de 3,6% em maio e acumula redução de 4,5% em cinco meses.
  • As indústrias extrativas surgem como exceção: cresceram 23,0% em maio e 10,7% nos cinco primeiros meses do ano passado e, em 2021, avançaram 7,6% no mesmo mês de maio. No acumulado dos cinco meses iniciais deste ano, no entanto, a produção cresceu em menor ritmo, numa variação de 3,2% diante de igual período de 2020.