Sistema cooperativo funciona como “escudo” para produtores, diz OCB

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 28 de julho de 2024

Um sistema democrático de tomada de decisões, lastreadas em planejamento estratégico de curto, médio e longo prazo, flexibilidade na operação e diversificação de investimentos tornaram as cooperativas um modelo de negócios “vencedor de adversidades”, resume João José Prieto, coordenador do ramo agro da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB). A sequência recente de eventos climáticos extremos, com períodos de estiagem mais prolongada nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste, secas e depois enchentes no Sul do País, torna o cenário para este ano ainda incerto, diante da quebra das safras de soja e de milho e de perspectivas de menor faturamento no exercício. Mas, numa visão de prazo mais longo, Prieto acredita na capacidade de gestão de crises acumulada pelo setor cooperativo nas últimas décadas.

 “As cooperativas agropecuárias têm cumprido seu papel por meio de trabalho conjunto, organizado e cooperativo, para que obstáculos sejam atenuados e cooperados e comunidades sigam avançando”, avalia ele. Como “estratégia número um”, prossegue Prieto, a interação entre os diversos atores das áreas de gestão e de governança, eleitos diretamente pelos cooperados, permite ao setor antever e se antecipar a cenários mais difíceis, de forma a endereçar soluções mais eficientes.

A diversificação do portfólio, com a presença das cooperativas desde a produção até o processamento final de grãos, carnes e leite, ainda na avaliação de Prieto, contribui para “diluição de riscos inerentes à atividade rural, gerando riquezas em todos os elos da cadeia, agregando valor à produção agrícola e evitando perdas aos produtores cooperados”. A capilaridade do sistema, na mesma linha, reforça a capacidade das cooperativas agropecuárias de difundir “conhecimento e boas práticas”, associada ainda a um maior poder de comercialização “gerado pela escala para compra de insumos e venda da produção”, aponta ele. Todo esse conjunto de fatores, comenta Prieto, permite que, mesmo em anos desafiadores, como em 2023 e novamente agora, as cooperativas operem como um “escudo”, amenizando riscos para os produtores.

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Novos investimentos

A despeito dos desafios colocados à frente, as principais cooperativas anunciaram ou já estão investindo em novos projetos, especialmente nos segmentos de armazenagem e agroindústria, considerados prioritários pelo sistema cooperativo, segundo Prieto, e considerados estrategicamente necessários para a continuidade do negócio. As perspectivas sugerem a continuidade daqueles investimentos ao longo deste ano, antecipando-se projetos “que devem superar os R$ 18,0 bilhões”, direcionados para a instalação de armazéns e indústrias para processamento de grãos, proteínas animais, biocombustíveis e fibras.

Balanço

  • Às voltas com problemas climáticos nas regiões atendidas e com a safra de inverno do milho então em fase final de colheita, a Cocamar Cooperativa Agroindustrial não havia conseguido definir, até o final de junho, uma previsão para as receitas esperadas para este ano. Em 2023, o faturamento havia crescido 17,0% na comparação com o ano anterior, avançando de R$ 11,1 bilhões para R$ 13,0 bilhões, segundo Leandro Cezar Teixeira, engenheiro agrônomo e superintendente de relação com o cooperado.
  • A recorrência de adversidades climáticas levou a Cocamar a desenvolver um trabalho de manejo dos solos, em parceria com instituições de pesquisa como a Embrapa. Profissionais da área, que trabalham na orientação dos cooperados, recebem treinamento periódico para oferecer serviços de assistência técnica alinhada com as melhores recomendações da pesquisa, afirma Teixeira.
  • Segundo ele, todas as unidades da cooperativa adotam o uso de braquiária na cobertura do solo, como forma de proteção contra insolação excessiva e chuvas mais intensas. A gramínea é cultivada de forma solteira ou em consórcio com o milho no inverno e a cooperativa tem utilizado drones para a “sobressemeadura”, realizada em torno de 20 dias antes da colheita da soja, “agilizando seu desenvolvimento”, descreve o agrônomo.
  • “Uma das bandeiras da Cocamar é o programa de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), já adotada em cerca de 200 mil hectares nas regiões de influência da cooperativa”, acrescenta Teixeira. No setor pecuário, a cooperativa adota um programa de remuneração diferenciada aos criadores que adotam protocolos específicos de qualidade da carne.
  • Desde o ano passado, a Cocamar investe na ampliação de sua capacidade estática de armazenamento de grãos de 2,2 milhões para 2,5 milhões de toneladas, num incremento próximo a 14%, como parte de sua estratégia para consolidação de sua presença em novas regiões nos Estados onde atua, incluindo Paraná, São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás. Em fase de estudos, a indústria de esmagamento de soja de Maringá poderá ser ampliada como parte de um programa de cooperação com as cooperativas Integrada e Cocari.
  • A Integrada Cooperativa Agroindustrial, segundo seu superintendente geral, Haroldo Polizel, trabalha com a perspectiva de redução do faturamento neste ano, depois de ter registrado um aumento acumulado de 42% nos dois anos anteriores. Mas já tem adotado medidas para minimizar a queda no faturamento, provocada por perdas na produção ocasionadas por problemas climáticos e pela retração nos preços agrícolas. Entre outras ações, descreve Polizel, a Integrada decidiu reduzir estoques, contas a receber e também despesas, implantando uma gestão financeira “rigorosa, com controle de custos e alocação eficiente de recursos”.
  • De toda forma, mesmo num período de frustração de safra, a cooperativa mantém um investimento médio de R$ 200,0 milhões na expansão da capacidade de armazenagem, na recepção e secagem de grãos e estuda investir na ampliação de suas plantas industriais. A partir de 2020, num processo progressivo de instalação, foram implantadas 29 usinas solares, com geração atual de 530,0 megawatts/hora por mês, o que permitiu uma economia de R$ 3,5 milhões na conta de energia. Em Andirá, no Paraná, a Integrada investiu em um projeto inovador na Unidade Industrial de Milho (UIM), para transformação de resíduos de milho em biogás. O combustível produzido no processo, integralmente sustentável, conforme Polizel, permitiu reduzir o consumo de lenha em 30%, “gerando uma economia mensal de aproximadamente R$ 100,0 mil”.