Superávit comercial com Argentina salta 165% no primeiro semestre

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 28 de julho de 2023

A despeito da crise experimentada pelo país vizinho, a Argentina aumentou suas compras de produtos e mercadorias brasileiras em 26,31% na primeira metade deste ano na comparação com os mesmos seis meses do ano passado, superando em muito o desempenho médio das exportações brasileiras em igual período. O crescimento refletiu o avanço das vendas de veículos, partes e acessórios e o salto nas exportações de soja em grão, num resultado, por sua vez, da quebra severa na produção argentina, causada por uma seca de proporções históricas associada ao fenômeno climático El Niño. Como resultado, o saldo comercial do Brasil com a Argentina experimentou um salto de 165,5% na mesma comparação. 

Os dados oficiais mostram que as exportações brasileiras com destino ao mercado do país vizinho subiram de US$ 7,483 bilhões para US$ 9,452 bilhões, crescendo praticamente US$ 1,969 bilhão. A participação em relação ao total das vendas externas do País avançou ligeiramente, de 4,56% para 5,70% entre o primeiro semestre de 2022 e idêntico período deste ano. Mas a variação registrada entre os dois períodos suplantou o incremento observado para o total das exportações, que praticamente não saiu do lugar, variando 0,98% e passando de US$ 164,070 bilhões para US$ 165,680 bilhões, num acréscimo levemente inferior a US$ 1,610 bilhão.

Soja “turbinada”

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A alta das vendas externas para a Argentina foi influenciada sobretudo pelo forte incremento de soja, diante de uma quebra de 43,0% na safra daquele país. As exportações brasileiras do grão com destino ao mercado argentino dispararam no primeiro semestre deste ano, alcançando US$ 1,548 bilhão, diante de um valor irrisório, ao redor de US$ 123,22 milhões, nos primeiros seis meses do ano passado. Os produtores argentinos, nos dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês), colheram apenas 25,0 milhões de toneladas do grão na safra 2022/23, numa quebra correspondente a 18,9 milhões de toneladas em relação à produção de 43,9 milhões de toneladas no ciclo anterior. Sob condições climáticas bem menos adversas, conforme esperado, a produção tende a crescer 92% na safra 2023/24, com a safra alcançando perto de 48,0 milhões de toneladas, na projeção do USDA, agregando em torno de 23,0 milhões de toneladas adicionais à oferta doméstica e mais do que repondo as perdas provocadas pela La Niña. Conforme especialistas nesta área, a produção agrícola na América do Sul tende a apresentar um comportamento mais próximo da normalidade em períodos de El Niño.

Balanço

  • Essa volta ao normal, com algumas consultorias indicando até mesmo a possibilidade de uma produção mais próxima de 50,0 milhões de toneladas, tende a reduzir drasticamente as necessidades de importação da Argentina nesta área, derrubando as vendas externas brasileiras. Grupos do agronegócio, tradings e produtores brasileiros aproveitaram-se de uma “janela de oportunidade” que muito provavelmente não se repetirá em 2024.
  • Além da soja, as vendas brasileiras de veículos, suas partes, peças e acessórios subiram ao redor de 23,4% no primeiro semestre, com o mercado argentino comprando US$ 1,809 bilhão diante de US$ 1,466 bilhão nos primeiros seis meses do ano passado.
  • As importações de mercadorias brasileiras pelo mercado argentino encolheram na mesma comparação, mas numa queda menos intensa do que a retração de 7,08% acumulada no semestre pelo total das compras internacionais realizadas pelo Brasil. No primeiro semestre deste ano, o Brasil comprou da Argentina US$ 5,930 bilhões, o que se compara com quase US$ 6,157 bilhões no ano passado, num recuo de 3,68% (ou seja, US$ 266,69 milhões a menos). As importações brasileiras totais caíram 7,08%, como se recorda, saindo de US$ 129,813 bilhões para US$ 120,615 bilhões.
  • Com exportações em elevação e importações em baixa, o superávit brasileiro frente a Argentina saltou de US$ 1,326 bilhão nos seis meses iniciais de 2022 para US$ 3,522 bilhões em valores aproximados, num acréscimo de pouco mais do que US$ 2,195 bilhões. Embora tenha respondido por 5,7% das exportações e apenas 4,92% das importações realizadas pelo Brasil, o mercado argentino foi responsável por 20,3% do aumento registrado pelo superávit total da balança comercial brasileira.
  • Parcela mais relevante desse crescimento veio da China (aqui incluídas as regiões de Hong Kong e Macau), como mostram os dados oficiais brasileiros. Paradoxalmente, Argentina e China estão entre as nações hostilizadas aqui dentro pelas hostes da extrema direita e principalmente pela horda que ocupou a chefia do governo até dezembro passado. Sob liderança da soja, que sozinha respondeu por 45,7% das vendas externas brasileiras para os chineses, as exportações do Brasil com destino ao mercado chinês cresceram 5,79%, avançando de US$ 47,749 bilhões para US$ 50,514 bilhões, o que elevou sua fatia nas vendas externas do Brasil de 29,10% para 30,49%.
  • Seguindo a tendência, as importações de bens chineses caíram 8,77%, de US$ 28,384 bilhões (21,87% das importações totais) para US$ 25,895 bilhões (21,47% do total). Combinados, os dois movimentos fizeram o superávit comercial com a China aumentar 27,13%, de US$ 19,365 bilhões (56,53% do saldo brasileiro total) para US$ 24,619 bilhões (com a participação recuando para 54,63%).
  • Com tombo de 21,53% nas importações e baixa de 2,06% nas exportações, ambas tendências relacionadas ao setor de petróleo, o déficit comercial brasileiro com os Estados Unidos despencou 67,57%, saindo de US$ 7,436 bilhões para quase US$ 2,412 bilhões (ou seja, US$ 5,025 bilhões a menos). A baixa nas vendas brasileiras para aquele mercado foi determinada principalmente pela redução de 33,95% nas exportações de petróleo em bruto (de US$ 2,285 bilhões para US$ 1,509 bilhão). Nas importações, pesou a retração de 52,75% registrada nas compras brasileiras de óleos combustíveis de petróleo.
  • A melhora na relação comercial entre Brasil e EUA foi ofuscada pela virada no sinal da balança comercial com a União Europeia, que passou de um superávit de US$ 4,388 bilhões para déficit de US$ 611,60 milhões, correspondendo a uma reviravolta de US$ 5,0 bilhões em valores aproximados.