Superávit da indústria salta 140%, mas transações externas encolhem

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 24 de outubro de 2023

Os dados da balança comercial da indústria goiana de transformação mostram uma deterioração na qualidade dos resultados colhidos ao longo deste ano. Houve perdas tanto nas exportações quanto nas importações, com queda mais severa nas compras externas do setor, concentradas em produtos de valor agregado mais elevado na comparação com bens de conteúdo tecnológico reduzido que predominam nas vendas ao exterior nesta área. A essa degradação estatística e também econômica, na medida em que a indústria continua dando mostras de sua incapacidade de promover maior agregação de valor aos produtos que vende lá fora – o que sugere muito sobre a eficácia e eficiência das políticas de incentivos fiscais do governo estadual –, correspondeu, enfim, a um crescimento vigoroso do superávit comercial do setor.

A indústria de transformação exportou, a partir de Goiás, pouco menos de US$ 4,308 bilhões entre janeiro e setembro deste ano, correspondendo a 40,75% das exportações totais do Estado. Mas aquele número correspondeu a uma redução de 12,02% em relação aos US$ 4,897 bilhões exportados nos mesmos nove meses do ano passado, quando a indústria havia respondido por 43,69% das exportações totais. A perda aqui chegou a US$ 588,691 milhões, correspondendo a 92,54% da queda sofrida pelas vendas externas realizadas por toda a economia goiana no mesmo período. Como se recorda, as exportações goianas haviam registrado baixa de 5,68%, caindo de US$ 11,208 bilhões para US$ 10,571 bilhões – ou seja, uma redução de US$ 636,138 milhões nos primeiros nove meses deste ano.

As importações da indústria caíram um pouco menos do que a média, numa retração de 22,73% diante de baixa de 25,24% para as compras externas totais. A indústria goiana de transformação comprou lá fora perto de US$ 3,534 bilhões entre janeiro e setembro deste ano, frente a quase US$ 4,574 bilhões em igual intervalo de 2022, significando praticamente US$ 1,040 bilhão a menos. Como o tombo foi menos intenso nesta área, a participação da indústria nas compras externas totais avançou de 95,20% para 98,40% e sua contribuição para as perdas sofridas nesta área atingiu 85,73%.

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Corrente de comércio

Como reflexo dessa combinação de tendências, o superávit comercial da indústria foi multiplicado em mais de duas vezes ao saltar de US$ 322,625 milhões para US$ 773,533 milhões, num aumento de 139,76%. A contribuição do setor para o saldo comercial do Estado até elevou-se de 5,03% para 11,08%, sustentando uma participação muitas vezes inferior à fatia que o setor ocupa tanto nas exportações quanto nas importações. De toda forma, diante de um crescimento mais do que vigoroso, o setor teve contribuição relevante no incremento observado para o superávit comercial goiano, respondendo por 77,80% do avanço acumulado entre janeiro e setembro. A melhoria, de certa forma enganosa, resulta, entre outros fatores, de uma redução das transações daquele setor da economia goiana com o restante do mundo. A chamada “corrente de comércio”, resumidamente a soma de exportações e importações, caiu 17,19% na comparação com os primeiros nove meses do ano passado, reduzida de US$ 9,471 bilhões para US$ 7,842 bilhões, quer dizer, em torno de US$ 1,628 bilhão a menos.

Balanço

  • Como os números demonstram, a indústria goiana tem perdido espaço no mercado internacional neste ano, a despeito dos esforços conduzidos por diversas instituições, públicas e privadas, para promover a internacionalização da economia e maior inserção das empresas goianas nos mercados externos.
  • Mas há um conjunto de outros dados que merece análise mais detida. A começar pela distância quase abissal entre exportações e importações de bens industriais. Não se trata, por óbvio, de diferenças meramente numéricas, mas de qualidade entre bens e mercadorias importados e exportados.
  • A pauta de exportações da indústria de transformação instalada no Estado é dominada por bens de baixo valor, com níveis tecnológicos igualmente reduzidos. As vendas de farelo e óleo de soja e de carne bovina resfriada, congelada e miúdos bovinos, somadas, responderam neste ano por 52,47% das exportações totais da indústria.
  • Na pauta de exportações, um grupo de oito produtos ou itens passou a concentrar 89,82% das vendas externas totais da indústria, ligeiramente acima de 88,94% registrados entre janeiro e setembro do ano passado. O avanço registrado deveu-se unicamente porque a queda das exportações daquele grupo ficou levemente inferior à redução acumulada pelas vendas externas totais, já que saíram de US$ 4,355 bilhões para US$ 3,869 bilhões, numa redução de 11,16%.
  • A queda foi determinada pela queda de 42,46% nas exportações de óleo de soja, que saíram de US$ 312,327 milhões para US$ 179,716 milhões, o que correspondeu a uma perda de US$ 132,611 milhões, e sobretudo pelo tombo de 53,77% nas vendas externas de ouro, despencando de US$ 394,882 milhões para US$ 182,542 milhões (quer dizer, US$ 212,340 milhões a menos). Os embarques de farelo de soja e de carne bovina estão entre os dois principais produtos da pauta e, em ambos os casos, os números encolheram na comparação com o acumulado entre janeiro e setembro de 2022.
  • As vendas externas de farelo de soja baixaram de US$ 1,085 bilhão para US$ 1,031 bilhão, em baixa de 5,01% (US$ 54,456 milhões a menos), com retração de 9,07% para a carne bovina, que recuou de US$ 1,155 bilhão para US$ 1,050 bilhão, numa redução de US$ 104,816 milhões. Houve perdas ainda nas vendas externas de ferroligas (-19,0%) e de couros (-24,36%).
  • Como compensação, a forte alta dos preços no mercado internacional impulsionou as exportações de açúcar, que saltaram 54,43% (de US$ 245,113 milhões para US$ 380,983 milhões). Os embarques de carnes de aves subiram 15,45%, de US$ 325,357 milhões para US$ 375,635 milhões.
  • Entre as compras externas, embora as importações de produtos farmacêuticos tenham crescido 27,72%, subindo de US$ 958,599 milhões para US$ 1,224 bilhão, houve queda de 62,10% nas despesas com adubos, com as compras encolhendo de US$ 1,718 bilhão para US$ 651,120 milhões. Os preços médios dos adubos desabaram 47,5%, com os volumes despachados para o Estado caindo 27,83%.
  • Entre os principais produtos importados, incluem-se veículos, tratores, suas partes e acessórios, máquinas e aparelhos mecânicos e elétricos, equipamentos ópticos e médicos, além de matérias-primas e produtos da indústria química. Notadamente de maior conteúdo tecnológico.
  • Em volume, as exportações da indústria de transformação até avançaram levemente, subindo 2,37%. Mas os preços médios dos bens exportados pelo setor baixaram 14,59%. Também em volume, as importações baixaram 5,30%, enquanto os preços médios dos bens importados anotaram variação de 0,68%. Os termos de troca, como consequência, anotaram uma piora relevante, com o custo médio de cada unidade importada passando a superar em 44,1% o preço médio dos bens exportados. Essa diferença havia sido de 22,24% em 2022.