Taxa de inflação retoma ritmo de alta, passado o “efeito eleição”

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 11 de novembro de 2022

Como amplamente esperado e antecipado por quase todos analistas, consultores e comentaristas econômicos, as taxas de inflação retomaram o ritmo de alta observado no final do primeiro semestre, depois de esgotado o chamado “efeito eleição” causado artificialmente pela redução de impostos cobrados sobre combustíveis, energia e comunicações. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), tomando como base os preços coletados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) entre os dias 29 de setembro e 27 de outubro, apresentou variação de 0,59% diante de 0,16% nas quatro semanas finalizadas em meados de outubro. Em setembro, a inflação oficial ainda transitou por terreno negativo pelo terceiro mês consecutivo, apresentando baixa de 0,29%.

No trimestre entre julho e setembro, a deflação (quer dizer, a queda nos preços médios cobrados dos consumidores) ficou em 1,32%. Principalmente por conta da redução temporária nos preços dos combustíveis e da energia. O custo da alimentação, em igual período, subiu em média qualquer coisa ao redor de 1,03%. A “inflação negativa” ao longo do período beneficiou quase que exclusivamente parcelas da classe média e toda a classe alta que utiliza seus veículos para se locomoverem no dia a dia.

Para reforçar aquela hipótese, ao longo de janeiro a outubro, os preços em geral apresentaram variação de 4,70%, o que pode ser considerado até “modesto” quando comparado ao salto de 10,32% acumulado pelo custo da alimentação. A carestia afetou justamente as faixas de renda mais baixa entre as famílias, obrigadas a destinar parcela proporcionalmente maior de seu orçamento para a compra de alimentos.

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Mais sacrificados

Na estrutura de ponderação do IPCA, que afere a evolução do custo de vida para famílias com renda entre um e 40 salários mínimos (em torno de R$ 48,5 mil mensais), o grupo alimentos e bebidas tem peso de 21,80% – o que significa dizer que, grosso modo e para facilitar a conta, a cada aumento de 10% nos custos da alimentação haveria um acréscimo de 2,18 pontos percentuais. O peso da alimentação sobe para 24,82% no caso das famílias com renda entre um a cinco salários mínimos, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que acompanha a inflação para consumidores naquela faixa de rendimentos. A mesma variação de 10% nos custos dos alimentos teria um impacto de 2,48 pontos sobre o INPC. Parece evidente que os efeitos sobre a renda serão proporcionalmente maiores para aquelas famílias de rendimentos mais baixos, reduzindo sua capacidade de consumir outros bens, o que terá impacto sobre todo o restante da economia, segundo já se pode observar mesmo nos dados sobre o desempenho recente do varejo.

Balanço

  • A inflação de outubro, de todo modo, veio acima das expectativas dos mercados, que vinham calibrando suas previsões para uma taxa em torno de 0,42%, embora algumas instituições, a exemplo do Itaú BBA, aguardassem um índice ao redor de 0,52%. O fato é que o IPCA veio muito pressionado, em outubro, pela alta nos preços dos alimentos, que avançaram 0,72% nos 30 dias pesquisados até 27 de outubro. Para comparação, os alimentos chegaram a ficar 0,51% mais baratos em setembro, tendência agora revertida, como se observa.
  • Os custos de transporte, com menor queda da gasolina, alta do etanol e um salto de 27,38% nos preços das tarifas aéreas, sofreram elevação de 0,58% e haviam sofrido redução de 1,98% em setembro. A mudança de tendência vinha se desenhando desde a primeira metade de outubro. Entre a quinzena final de setembro e as duas primeiras semanas do mês passado, a queda no custo dos transportes passou a ser de 0,64% e apresentou forte elevação em apenas duas semanas, como sugerem os dados do IPCA “cheio” de outubro.
  • Sob efeito também das passagens aéreas, cuja alta sozinha respondeu por 27,1% de todo o IPCA de outubro, os preços livres passaram a anotar elevação de 0,73% segundo cálculos da equipe de macroeconomia do Itaú BBA. Descontada a escalada nos preços das passagens, que aliás parecia ceder nas semanas finais de outubro, os demais preços livres subiram algo próximo a 0,57%.
  • Na medição do IPCA-15, que mediu a variação dos preços entre as duas últimas semanas de setembro e as duas primeiras de outubro, as passagens aéreas chegaram a subir 28,17% e tiveram impacto de 0,19 pontos de porcentagem sobre a inflação geral. Os preços livres haviam apresentado alta de 0,47% no período, com elevação de 0,29% se desconsiderada a “inflação” das passagens aéreas.
  • Como se percebe, excluído um item altamente volátil como as tarifas aéreas, a tendência que tem prevalecido entre os chamados preços livres (que não são determinados pelo setor público) é de alta, saindo de 0,29% para 0,57% em apenas duas semanas. No acompanhamento do Itaú BBA, grande parte daquela elevação teve origem no aumento da inflação dos alimentos no domicílio, que saiu de 0,14% para 0,80% no mesmo período. Os preços industriais (produtos de higiene e limpeza, medicamentos, higiene pessoal entre outros) anotaram alta de 0,77% as quatro semanas de outubro, depois de subirem 0,20% entre a quinzena final de setembro e a primeira de outubro. Em igual período, como compensação, os serviços anotaram desaceleração no ritmo de alta nos preços, passando de 0,80% para 0,67%.
  • Os chamados “núcleos” da inflação, que excluem preços mais voláteis e outros menos associados ao comportamento geral da economia (quer dizer, que não sofrem influência direta da demanda), igualmente indicaram alguma aceleração, passando de 0,51% para 0,55%.
  • O “índice de difusão”, que mede o percentual de itens e subitens em alta, chegou a baixar para 59,95% no IPCA-15 de setembro, elevou-se para 61,54% já no fechamento do mesmo mês, atingindo 62,67% ao final dos primeiros 15 dias de outubro para fechar o mês em 67,90%. O índice supera os níveis de junho (66,6%), quando o IPCA havia alcançado 0,67%.