Tecnologia desde a gestão de estoques até o consumidor final

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 25 de novembro de 2022

A indústria de embalagens busca agregar sustentabilidade à cadeia, incrementando o desenvolvimento de produtos que utilizem materiais recicláveis, numa tendência que inclui também inovações tecnológicas para prolongar a vida de prateleira dos produtos, afirma Denis Balaguer, diretor de inovação e do wavespace da EY para América Latina. Numa escala ainda inicial, parte do setor investe também em tecnologias para assegurar ao consumidor informações transparentes sobre a rastreabilidade do que será consumido, combinando QR Code com sistemas de dados baseados em blockchain. A partir do rótulo dos produtos, uma parte dessas inovações permite ainda novas experiências sensoriais, com aplicação de ferramentas de realidade ampliada.

Neste caso, gatilhos digitais acondicionados nos rótulos de algumas bebidas, num dos exemplos citados por Balaguer, levam ao consumidor imagens em 3D, visualizadas a partir da câmera de celulares e smartphones, com informações adicionais sobre o produto ou mesmo com vídeos curtos, remetendo a séries de televisão. Em outra tendência, prossegue ele, neste caso já utilizada no Brasil pelo Grupo Boticário, a gestão logística de estoques vem ganhando eficiência com o uso de etiquetas inteligentes, que incorporam sistemas de identificação por radiofrequência (Radio Frequency Identification ou RFID, em inglês). A plataforma utiliza antenas ou um leitor manual que estimula as etiquetas, captura e interpreta os dados automaticamente, fornecendo informações em tempo real sobre a posição dos estoques.

Conservação de alimentos

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Em outra vertente, ao considerar os custos elevados do desperdício de alimentos para produtores e consumidores, a Embrapa Agroindústria de Alimentos, do Rio de Janeiro decidiu investir no desenvolvimento de embalagens anatômicas, que acompanham o formato do produto, asseguram maior proteção e reduzem perdas na manipulação, no transporte, no armazenamento e na comercialização. Confeccionadas em poliuretano e fibras vegetais, detalha o pesquisador Antônio Gomes Soares, as embalagens reduzem aquelas perdas, no caso de frutas como mamão e manga, escolhidas por sua importância na exportação, caqui, morango e ainda no tomate, de 40% para 5%, na comparação com as embalagens de papelão. De acordo com Soares, a tecnologia gerou 39 patentes depositadas no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). “O passo seguinte será firmar contratos de cooperação com fabricantes de embalagens interessadas em produzir e vender o produto”, afirma o pesquisador.

Balanço

  • Selecionada em 2019 para participar do programa de aceleração da Plug and Play, plataforma global de inovação com sede no Vale do Silício, nos Estados Unidos, a brasileira Nanox Tecnologia espera expandir sua operação no mercado norte-americano, onde instalou a Nanox Technology em 2016, na cidade de Boston (Massachusetts), segundo Luiz Gustavo Pagotto Simões, diretor presidente da empresa. Nascida em 2006 como spin-off do Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF) da Fundação de Apoio à Pesquisa de São Paulo (Fapesp), instalado na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), a Nanox desenvolveu, nos anos seguintes, compostos baseados em nanopartículas de prata com propriedades antibacterianas e antifúngicas, que podem ser aplicadas a qualquer material plástico, incluindo embalagens para alimentos e para produtos da linha branca.
  • O filme antimicrobiano da Nanox já recebeu certificação da Food and Drugs Administration (FDA) e está em fase final de avaliação pela agência ambiental norte-americana (Environmental Protection Agency ou EPA). “Em seguida, já poderemos iniciar as vendas naquele mercado”, adianta Pagotto.
  • A Camargo Cia de Embalagens investiu em torno de R$ 14,0 milhões para modernizar sua fábrica de embalagens laminadas flexíveis instalada em Tietê (SP). A planta tornou-se a 11ª empresa do setor no mundo a operar com um sistema de impressão digital, de acordo com Felipe Toledo, diretor de negócios da companhia. Desenvolvida por uma empresa israelense, atualmente controlada pela gigante HP (Hewlett-Packard), a tecnologia trouxe flexibilidade para a linha de produção, permitindo a produção de lotes menores, e abriu espaço para agregar maior sustentabilidade ao produto final. No final de setembro, a Camargo apresentou ao mercado seu primeiro projeto com uso de polietileno verde, resina produzida pela Braskem a partir do etanol.
  • O time de inovação da Camargo, criado em 2018 e nomeado internamente como myPACK, chegou juntamente com a tecnologia digital e trabalhou no desenvolvimento da solução que passou a embalar, desde outubro, suplementos veganos produzidos pela parceira Rakkau. “Posso agora replicar o processo para grandes volumes”, aponta Toledo. Segundo dados da Braskem, acrescenta ele, a fabricação de 200 mil toneladas de polietileno verde mitiga emissões de gases do efeito estufa geradas por 89,5 mil pessoas.
  • Líder no mercado de biopolímeros, a Braskem, em parceria com a Antilhas Flexíveis, destinou esforços e recursos para o desenvolvimento de uma embalagem stand up pouch monomaterial. Confeccionada unicamente com polietileno, o que permite sua reciclagem, o produto chegou ao mercado no final de abril de 2019.
  • Segundo a empresa, o uso da tecnologia de impressão Gelflex, associada ao processo de cura com feixe de elétrons EB (Electron Beam) – processo patenteado pela Antilhas – dispensa a laminação, facilita o reuso e gera uma resina pós-consumo de maior qualidade, com possibilidades mais amplas de aplicação. A tecnologia desenvolvida pela Antilhas ainda permite reduzir o consumo de energia elétrica em até 50% e um corte de até 95% no uso de compostos orgânicos voláteis, diminuindo emissões de gases do efeito estufa.