Tímida reação da indústria muda pouco na tendência à estabilidade

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 04 de outubro de 2023

A modesta reação esboçada pela produção industrial em agosto traz algum refresco, mas não altera fundamentalmente o cenário observado ao longo de meses e meses pelo setor, que continua demonstrando incapacidade para engatilhar um crescimento mais vigoroso e duradouro. Em seu conjunto, o setor industrial apresentou variação de 0,4% na saída de julho para agosto e avançou 0,5% em relação a agosto do ano passado, anotando ainda recuo de 0,3% no acumulado dos oito primeiros meses deste ano frente a igual período do ano passado. Nos 12 meses encerrados em agosto deste ano, a produção mais uma vez não saiu do lugar e até recuou ligeiramente, com a produção baixando 0,1% em relação aos 12 meses imediatamente anteriores.

Há dois pontos a observar, inicialmente. O tímido avanço observado em agosto veio na sequência de dois meses sem crescimento ou queda da produção, lembrando que em junho a indústria havia reeditado os mesmos volumes fabricados um mês antes e anotou baixa de 0,6% em julho, na comparação com os 30 dias imediatamente anteriores. Vale dizer, a elevação de 0,4% sequer repôs a perda registrada em julho. Na comparação com iguais períodos do ano passado, a situação não muda muito, já que a produção havia sofrido queda de 1,1% em julho. Novamente, a reação anotada um mês depois foi modesta o suficiente para sequer recuperar o terreno perdido em julho.

Para avaliar o comportamento mais recente da produção industrial, o setor em geral registra uma redução de 0,5% entre março e agosto, mostrando que a indústria tem girado em torno do mesmo ponto depois de uma sequência de altos e baixos. As indústrias extrativas e de transformação, da mesma forma, registram baixas de 1,2% e de 0,3% naquele mesmo período, respectivamente. Com um detalhe: o setor extrativo vem de dois meses de queda, com reduções de 1,6% e de 2,7% em julho e agosto (sempre em relação aos meses imediatamente anteriores), acumulando perda de 4,2% em dois meses.

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Sobe-desce

Na análise do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), “a indústria, novamente sem se distanciar muito na região de estabilidade, conseguiu crescer na passagem de julho para agosto de 2023, já descontados os efeitos sazonais”. Ainda de acordo com o instituto, “os responsáveis por este desempenho foram os macrossetores que vinham acumulando perdas e, por isso, contavam com bases mais deprimidas de comparação. Foram os casos de bens de capital, que cuja produção aumentou 4,3%, e de bens de consumo duráveis, com alta de 8,0%, sempre com ajuste sazonal”. Para emendar na sequência: “Nenhum deles, entretanto, compensou as quedas anteriores”.

Balanço

  • A indústria de bens de capital continua posicionada entre os setores mais sacrificados, novamente indicando que o investimento continua derrapando e mesmo retrocedendo nos últimos meses. O avanço de 4,3% anotado em agosto veio na comparação com o tombo de 7,7% anotado em julho e depois da redução de 2,3% em junho.
  • Considerando períodos idênticos do ano passado, a produção de bens de capital despenca há 12 meses. Apenas nos dados mais recentes, na mesma comparação, a produção de bens de capital desabou 11,3%, 11,1%, 16,9% e 15,4% em maio, junho, julho e agosto, pela ordem. Esses dados levaram o setor a registrar tombo de 11,4% no acumulado entre janeiro e agosto deste não em relação aos mesmos oito meses do ano passado.
  • Em 12 meses, a queda na produção de bens de capital chega a 8,5%. Além disse, o nível da produção realizada em agosto deste ano encontrava-se 36,7% abaixo daquele alcançado em março de 2011, quando a produção no setor havia anotado seu recorde histórico.
  • Considerado o “coração” da indústria, por fornecer insumos a todas as empresas industriais, o setor de fabricação de bens intermediários vem caindo há quatro meses, com taxas negativas de 0,1%, de 0,3%, de 0,5% e de 0,3% em maio, junho, julho e agosto, respectivamente, na comparação com os meses imediatamente anteriores, já com ajuste sazonal.
  • Comparada aos mesmos meses de 2022, a produção de bens intermediários (borracha, plásticos, cimento, aço, celulose, componentes eletroeletrônicos e outros) havia tropeçado em março e abril, com baixas de 1,0% e 2,8%. Em maio e junho, o setor avançou 3,1% e 1,8% pela ordem; ficou paralisada em julho e avançou 0,4% em agosto. Nos oito meses iniciais deste ano, frente a idêntico intervalo de 2022, o setor recuou 0,4%.
  • Ainda sob a ótica do Iedi, os setores de bens de consumo semi e não duráveis “seguiram no azul”, mas em ritmo de desaceleração, com o crescimento passando de 1,7% em julho, na comparação com junho, para 1,0% em agosto, diante do mês anterior. Mas na comparação com iguais meses de 2022 o avanço de 3,5% anotado em agosto veio na sequência de um recuo de 0,3% em julho. O consumo desses bens manteve-se minimamente positivo no acumulado do ano, com elevação de 1,7%, e em 12 meses, crescendo 1,2%.
  • A indústria de bens duráveis saiu de dois meses negativos para crescer 8,0% em agosto sobre julho e 2,8% em relação a agosto do ano passado. Em oito meses, a produção acumulou elevação de 4,1% e avançou 4,7% em 12 meses.
  • Na previsão do Iedi, “devido à fraqueza dos meses positivos, quando eles ocorrem, é muito provável que o terceiro trimestre de 2023 venha a ficar no vermelho, tal como nos dois primeiros trimestres do ano”.