Segunda-feira, 22 de julho de 2024

Tombo de 25% na importação “compensa” recuo na exportação e saldo avança 9,0%

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 17 de outubro de 2023

Os números recordes atingidos pela balança comercial (exportações menos importações) de Goiás nos primeiros nove meses deste ano resultam de uma combinação nada virtuosa de recuo das exportações realizadas a partir do Estado e de uma retração vigorosa das importações na comparação com o mesmo período do ano passado. O desempenho das exportações tem sido afetado, desde os últimos meses do ano passado, pela queda nos preços médios dos principais produtos vendidos no mercado internacional, parcialmente compensada, ao longo deste ano, pelo aumento nos volumes embarcados, especialmente de milho em grão. O tombo experimentado pelas compras externas veio principalmente da redução nos volumes importados, com influência decisiva de adubos e fertilizantes, mas igualmente por uma redução nos preços médios das importações.

Entre janeiro e setembro deste ano, o Estado registrou exportações de US$ 10,571 bilhões, segundo melhor resultado para o período na série histórica do setor, perdendo apenas para os números de 2022 nos mesmos nove meses, quando as vendas externas haviam alcançado quase US$ 11,208 bilhões, em valores aproximados. Entre os dois anos avaliados, as vendas externas encolheram 5,68%, correspondendo a uma perda de receitas ao redor de US$ 636,138 milhões.

Na mesma comparação, as importações saíram de praticamente US$ 4,805 bilhões no ano passado, recorde histórico, puxado pelas compras de energia elétrica e adubos, para pouco menos de US$ 3,592 bilhões neste ano, num retrocesso de 25,24% – ou seja, uma redução equivalente a US$ 1,213 bilhão em nove meses. O valor importado foi apenas o sexto mais elevado para o período, perdendo ainda para 2021 (US$ 3,693 bilhões), 2013 (US$ 3,732 bilhões), 2012 (US$ 3,877 bilhões) e 2011 (US$ 4,052 bilhões), além das importações realizadas nos mesmos nove meses do ano passado.

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Rumo a novo recorde

Como se percebe, seja proporcionalmente, seja em valores absolutos, a redução das importações foi muito mais intensa. Numa comparação possível, a queda das compras do Estado lá fora, mais uma vez em números absolutos, foi pouco mais de 90% maior do que a redução observada para as exportações. Isso favoreceu um aumento de 9,05% no superávit comercial, a diferença entre exportações e importações, que avançou de US$ 6,403 bilhões entre janeiro e setembro do ano passado para alguma coisa abaixo de US$ 6,980 bilhões, tornando-se o mais elevado em toda a série para o período. Tudo o mais constante, como gostam os economistas, o superávit comercial tenderia a superar o resultado de 2022, variando entre US$ 8,70 bilhões e US$ 9,30 bilhões numa versão mais otimista, diante do saldo de US$ 8,167 bilhões acumulado nos 12 meses do ano passado, um recorde absoluto até aqui. O lado menos positivo, de toda forma, estará no desempenho negativo das exportações e pouco animador das importações.

Balanço

  • Houve uma mudança de tendências, em certa medida, a partir do segundo semestre deste ano. Afinal, até a primeira metade de 2023, o superávit entre exportações e importações praticamente não havia avançado, registrando variação de meros 0,68% em relação aos seis meses iniciais de 2022. Desde então, as exportações anotaram alguma aceleração – modesta, mas suficiente para amenizar o ritmo da queda relativamente a iguais períodos do ano passado. Ao mesmo tempo, as importações ampliaram a velocidade de queda.
  • Até o final do primeiro semestre, as exportações acumulavam perdas de 8,09%, chegando a setembro com redução de quase 5,7% como registrado linhas acima. O contrário ocorreu com as importações, que caíam a um ritmo de 20,6% no primeiro semestre, passando a desabar pouco mais de 25,0% até setembro.
  • Os dados do terceiro trimestre retratam melhor as tendências em vigor mais recentemente. Entre julho e setembro, as importações despencaram nada menos do que 33,9%, reduzidas de US$ 1,675 bilhão para US$ 1,107 bilhão. As exportações continuavam em baixa, mas de forma muito mais moderada do que nos meses anteriores, saindo de US$ 3,678 bilhões no terceiro trimestre do ano passado para US$ 3,472 bilhões em idêntico período deste ano, num recuo de 5,6%. O superávit comercial avançou 18,1% entre aqueles dois períodos, passando de US$ 2,003 bilhões para US$ 2,365 bilhões, sempre em números aproximados.
  • Os preços médios dos bens e mercadorias exportadas a partir de Goiás sofreram baixa de 18,2%, caindo de alguma coisa abaixo de US$ 769,00 para menos de US$ 629,00 por tonelada embarcada. No prato das importações, os valore médios pagos pelos importadores goianos tiveram baixa menos severa e recuaram de US$ 1.516 para US$ 1.406, numa redução de 7,27%.
  • Essa disparidade agravou os chamados “termos de troca”, deixando as importações proporcionalmente ainda mais caras do que cada unidade de produto exportado, exigindo um esforço maior do Estado, na ponta das exportações, para compensar os custos mais elevados das compras externas. Esse desequilíbrio explica-se não apenas por fatores conjunturais, mas por questões estruturais relacionadas à elevada dependência das exportações de bens de baixo teor tecnológico, envolvendo produtos primários com nível reduzido de processamento e baixo valor agregado.
  • Para comparar, o custo da tonelada importada havia sido 97,2% mais alto do que o valor de uma tonelada exportada pelo Estado, em termos médios. Neste ano, essa diferença elevou-se para 123,6%. Colocado de outra forma, o preço de cada tonelada embarcada para fora do País a partir de Goiás correspondeu a 47,8% do gasto para trazer lá de fora uma tonelada de bens. No ano passado, na média dos nove meses iniciais do exercício, o preço por unidade exportada cobria 50,7% do custo de uma tonelada importada.