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quinta-feira, 14 de novembro de 2024
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Valor de indenizações no campo avança com clima mais adverso

O pagamento de indenizações passou a crescer 7,7%, avançando de R$ 2,887 bilhões para R$ 3,109 bilhões

Foto Reprodução

A sequência de eventos dramáticos no setor do clima, com enchentes e geadas no Sul do País, uma estiagem histórica nas regiões Centro-Oeste e Sudeste e seca igualmente drástica no Norte já havia reforçado o papel estratégico do seguro rural. E o início do ano parecia mesmo trazer novas perspectivas para o setor, como mostrava levantamento conjunto da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg) e Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg). Conforme o trabalho, o primeiro trimestre deste ano havia registrado elevação de quase 6,5% na arrecadação de prêmios e uma queda de praticamente 15% no valor das indenizações pagas. Mas o cenário foi revertido nos meses seguintes, com a arrecadação recuando 1,6% nos sete primeiros meses deste ano em relação ao mesmo período de 2023, recuando de R$ 7,840 bilhões para R$ 7,714 bilhões. O pagamento de indenizações, ao contrário, passou a crescer 7,7% na mesma comparação, avançando de R$ 2,887 bilhões para R$ 3,109 bilhões.

As enchentes no Rio Grande do Sul, analisa Gláucio Toyama, presidente da Comissão de Seguro Rural da FenSeg, causaram “impacto mediano” sobre as lavouras. Mesmo porque, relembra Adailton Dias, diretor de produtos e resseguro da Sompo, 83% das safras de arroz e milho e 75% da soja já estavam colhidos. Mas as geadas prejudicaram os plantios de trigo, enquanto ondas de calor, a seca e uma série de incêndios entre abril e maio afetaram culturas de cana, café, citros e outras frutas, aponta Toyama. A sinistralidade chegou a alcançar 70% no milho de segunda safra no sul de Mato Grosso do Sul, em São Paulo e no Paraná.

Sinistralidade extrema

O setor havia se reestabelecido depois de enfrentar seu pior momento na safra 2021/22, quando algumas empresas do setor chegaram a enfrentar níveis de sinistralidade entre 200% e até 500% em suas carteiras e três entre as 15 seguradoras em operação deixaram o mercado agrícola no período, conforme Fábio Luiz Perfeito Damasceno, diretor técnico de seguro rural da Mapfre. Na descrição do secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), Guilherme Campos, a estiagem severa no Sul do País naquele ano agrícola levou ao pagamento de indenizações recordes pelas seguradoras, algo da ordem de R$ 8,0 bilhões. “A partir daquela safra as seguradoras ajustaram os custos das apólices em alguns municípios, restringiram a comercialização em determinadas regiões e em alguns casos reduziram a cobertura ofertada”, afirma ele.

Balanço

No começo deste ano, retoma Damasceno, “as seguradoras voltavam a olhar o mercado do agronegócio. Mas não se esperava a queda nos preços das commodities, margens mais enxutas e uma janela para o plantio de culturas de inverno muito apertada”. O volume de negócios efetivados experimentou redução de quase 50% mais recentemente, ao mesmo tempo em que as operações de crédito rural despencaram, de acordo com ele.

Os dados do Banco Central (BC), segundo Damasceno, entre julho e setembro deste ano, comparado ao mesmo trimestre de 2023, as contratações de crédito para custeio agropecuário e para investimentos foram reduzidas, respectivamente, de R$ 68,284 bilhões e R$ 22,115 bilhões para R$ 41,235 bilhões e R$ 7,550 bilhões, caindo 39,6% e 65,7% na mesma ordem. Sem crédito, o produtor também não tem acesso ao seguro, acrescenta ele.

Num agravante, Amauri Vasconcelos, presidente da Brasilseg, aponta que o déficit na cobertura securitária no País aproxima-se de 90%, “o que causa um ônus muito grande à sociedade para reparo de danos econômicos e sociais em ações de salvamento pós ocorrência de eventos mais catastróficos e severos”. A situação torna-se mais crítica, registra Toyama, nos casos do parque cafeeiro e das lavouras de cana, onde 95% e 99% dos produtores não têm proteção do seguro rural.

Na Brasilseg, segundo Vasconcelos, a carteira de agronegócio experimentou avanço de 4,2% no primeiro semestre. Em igual período, foram pagos em sinistros em torno de “R$ 1,4 bilhão a produtores de diversos Estados, por perdas decorrentes principalmente de chuvas, secas, granizos, ventos e incêndios em culturas agrícolas”.

O valor de prêmios emitidos de seguro rural, pondera Campos tem registrado avanços nos últimos 10 anos. Com exceção para 2023, quando houve “uma leve redução em relação a 2022”. O secretário do Mapa aponta que o valor total de prêmio emitido saltou de aproximadamente R$ 1,4 bilhão em 2014 para R$ 6,4 bilhões em 2022.

Considerado por Toyama o “calcanhar de Aquiles” do setor, Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) anotou “crescimento significativo” entre 2018 e 2021, quando o orçamento “saltou de R$ 370 milhões para R$ 1,1 bilhão, proporcionando a cobertura de 14,0 milhões de hectares”, de acordo com Campos. No ano passado, no entanto, a subvenção foi reduzida para R$ 933,0 milhões, reduzindo a área coberta para 6,25 milhões de hectares, resultado também do aumento nos custos de produção e da elevação da taxa de prêmio para determinados cultivos em regiões sujeitas a riscos mais elevados.

A Sompo, que opera no ramo de seguros para máquinas e implementos agrícolas há quase 20 anos, passou a oferecer soluções completas de seguro para o agronegócio desde 2019 e espera crescer “acima de dois dígitos no seguro agrícola e outros 12% em (seguro para) máquinas e equipamentos até o final de 2025”, prevê Adailton Dias, diretor de produtos e resseguro da empresa. Entre janeiro e julho deste ano, comparado aos mesmos sete meses de 2023, o valor dos prêmios emitidos no ramo agrícola cresceu 123,6%, saindo de R$ 48,8 milhões para R$ 108,4 milhões, ao mesmo tempo em que a sinistralidade cresceu de 30,1% para 51,9%, sob influência de “ocorrências climáticas severas”, afirma Dias. No segmento de máquinas e equipamentos agrícolas, os prêmios recuaram 13,2%, de R$ 226,3 milhões para R$ 196,3 milhões diante da queda nas vendas do setor.

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