Quinta-feira, 28 de março de 2024

Vendas fecham primeiro semestre do ano praticamente estagnadas

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 11 de agosto de 2022

O comércio varejista encerrou o primeiro semestre do ano praticamente no mesmo nível observado na metade inicial de 2021, quer dizer, virtualmente não saiu do lugar, depois de derrapar nos dois finais do período, o que parece sinalizar um segundo semestre de dificuldades. Os indicadores mais recentes da pesquisa mensal do comércio, conduzida regularmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram aparentemente que a antecipação do 13º salário de aposentados e pensionistas e a liberação de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e do PIS/Pasep tiveram impacto muito reduzido, quase nulo, sobre as decisões de consumo das famílias, já que não foram correspondidas por alguma reação das vendas.

“Em tempos de desemprego ainda elevado, inflação de dois dígitos e aumento dos juros, as famílias adiam o consumo do que podem”, avaliam os economistas do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento da Indústria (Iedi). Para eles, “os candidatos mais frequentes a ‘variáveis de ajuste’ são os bens de consumo duráveis, que representam um gasto expressivo frente ao rendimento da maioria das famílias”. A equipe do instituto sugere, numa hipótese a ser ainda checada, que o controle aparente da pandemia teria estimulado a “recomposição do consumo de serviços” à disposição das famílias de renda mais alta, o que, paradoxalmente, tenderia igualmente a “enfraquecer a demanda” por bens duráveis.

As restrições ao crédito, com a escalada das taxas de juros, combinada com o endividamento crescente das famílias e algum incremento da inadimplência, da mesma forma, podem ter contribuído para minar a capacidade de consumo, diante da maior dificuldade para contratar empréstimos e da destinação de parcelas maiores da renda pessoal para o pagamento de dívidas. Tudo somado, o fato concreto é que o setor varejista, em seu conceito restrito ou mesmo no mais amplo, com inclusão de concessionárias de veículos e motos, lojas de autopeças e de materiais de construção, terminou o semestre com dificuldades evidentes para fazer suas vendas deslancharem.

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Os números, os números

Pelo segundo mês consecutivo, as vendas do varejo restrito sofreram baixa na comparação com o mês imediatamente anterior e também em relação a idêntico período de 2021. Na saída de abril para maio, o volume de vendas do setor já havia recuado 0,4%, depois de ter avançado 0,6% em abril. Em junho, comparadas a maio, as vendas caíram 1,4%. Tomando os mesmos meses do ano passado como base de comparação, os volumes vendidos encolheram 0,2% e 0,3% respectivamente em maio e junho, encerrando o semestre com variação de 1,4%. No varejo ampliado, o tombo em junho foi mais severo, numa queda de 2,3% em relação a maio e de 3,1% sobre junho do ano passado. Para registro, as vendas no segmento mais amplo do varejo já haviam recuado 0,7% em maio (na comparação com o quinto mês de 2021). No semestre, a pesquisa do IBGE anota variação de apenas 0,3% nesta área, no que poderia ser caracterizado como estagnação.

Balanço

  • Comparadas a maio, as vendas de combustíveis, dos supermercados, das lojas de tecidos, roupas e calçados e ainda de móveis e eletrodomésticos anotaram quedas de 1,1%, de 0,5%, de 5,4% e de 0,7% naquela mesma ordem. Houve perdas ainda de 3,8%, de 1,7% e de 1,3% para revistarias, papelarias e livrarias, equipamentos e materiais de escritório e para outros artigos de uso pessoal.
  • Igualmente saindo de maio para junho, o varejo ampliado registrou a terceira mensal consecutivo para as vendas de veículos, motos e autopeças e para os materiais de construção. Respectivamente, as perdas chegaram, em junho, a 4,1% e a 1,0%.
  • Em relação a junho do ano passado, as lojas de móveis e eletrodomésticos, artigos de uso pessoal e doméstico, veículos e motos e de materiais de construção foram os destaques negativos, com perdas, na mesma sequência, de 14,7%, de 11,4%, de 7,1% e de 11,4%. Dadas as dimensões das quedas e dos setores afetados, uma das leituras possíveis desses dados parece sugerir o duplo efeito sobre as vendas do crédito mais curto e mais caro e das perdas salariais por conta da inflação mais elevada.
  • A despeito da disparada nos preços dos combustíveis, anota o Iedi, seu consumo mostrou algum “dinamismo”, quando comparado aos mesmos períodos do ano passado, com avanços de 9,8%, 7,2% e de 7,8% em abril, maio e junho. “Por serem bens essenciais, há limites para a compressão de seu consumo”, considera o instituto. Os postos fecharam o semestre com aumento de 5,0%.
  • No segmento de hiper e supermercados, as vendas têm oscilado mês a mês, alternando bons e maus resultados: caíram 0,9% em abril, diante de março, avançaram 1,0% em maio e recuaram 0,5% em junho na comparação com os meses imediatamente anteriores. Compradas a junho de 2021, houve crescimento de 1,5%. Mas, no semestre, a variação ficou limitada a 0,4%.
  • O varejo em Goiás registrou tímida reação, em seu conceito mais amplo, variando 0,4% em junho, comparado a maio. Mas a reação veio na sequência de dois meses muito ruins, com baixas de 3,4% em abril e de 1,5% em maio, frente a março e abril respectivamente. No varejo restrito, tomando o mês imediatamente anterior, foram três meses de resultados negativos, com redução de 1,9%, de 1,7% e de 2,3% em abril, maio e junho.
  • Na comparação com junho do ano passado, as vendas avançaram 1,1% no varejo amplo, com o salto de 13,3% observado para as concessionárias de veículos e motos contrabalançado pelo tombo de 17,4% nas lojas de materiais de construção. No varejo restrito, as vendas já haviam caído 2,7% em maio e encolheram mais 3,8% em junho, ainda frente aos mesmos meses de 2021.
  • Ainda com base em junho do ano passado, registraram perdas em junho deste ano as vendas de combustíveis (-10,3%), de hiper e supermercados (-6,0%), de tecidos, vestuário e calçados (-10,5%) e de móveis e eletrodomésticos (recuo de 0,1%). O primeiro semestre foi encerrado com recuo de 0,1% no varejo restrito e elevação de 4,6% no comércio ampliado.