Vendas perdem fôlego no País (mas ganham ritmo em Goiás)
As pesquisas conjunturais continuam apontando um cenário de perda de ímpeto da atividade econômica no terceiro trimestre deste ano, tendência reforçada a partir dos dados mais recentes sobre as vendas do varejo divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os números acompanham, de certa forma, a desaceleração registrada pelos preços em geral e parecem sancionar um cenário de menores pressões inflacionárias daqui em diante, reforçado pelo dólar muito bem-comportado – muito obviamente, caso não sobrevenham surpresas negativas ao longo das próximas semanas.
Em setembro, período mais recente investido pela equipe de pesquisadores do IBGE em todo o País, as vendas do comércio varejista mais tradicional, que exclui o chamado “atacarejo” de materiais de construção e de alimentos e ainda as concessionárias de motos e veículos, recuaram 0,3% na passagem de agosto para setembro, na série de dados ajustados sazonalmente. Nesse mesmo tipo de comparação, com exclusão de eventos e fatores que ocorrem nas mesmas épocas ano a ano, as vendas sofreram cinco baixas em seis meses, com ligeira elevação de 0,1% em agosto.
Nitidamente, o varejo convencional não conseguiu sustentar os volumes vendidos em março deste ano, quando o setor chegou a alcançar seu melhor momento na série histórica, passando a acumular um recuo de 1,1% na comparação entre setembro e março deste ano. Na saída de agosto para setembro, seis entre oito segmentos acompanhados pelo IBGE registraram números negativos, com crescimento apenas para as vendas de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria e para outros artigos de uso pessoal (com elevações, pela ordem, de 1,3% e de 0,5%).
Oscilações
No caso das farmácias e demais lojas do ramo de saúde e beleza, foi o terceiro resultado positivo em sequência, depois de um recuo de 0,6% em junho. Postos de combustíveis registraram o segundo revés mensal, com baixas de 0,7% e de 0,9% em agosto e setembro, sempre em relação ao mês imediatamente anterior. As redes de super e hipermercados, assim como as lojas de tecidos, roupas e calçados, mais dependentes dos rendimentos das famílias, vêm oscilando mais recentemente entre altos e baixos. As vendas dos supermercados chegaram a avançar 0,3% em agosto, depois de sofrerem baixas entre abril e julho, voltando ao terreno negativo em setembro, num recuo de 0,2%. Um comportamento semelhante tem sido observado para o segmento de lojas de equipamentos para escritório, informática e comunicação, que tiveram quedas de 2,3% e de 3,1% em junho e julho, com alta de 4,9% em agosto e novo revés em setembro, quando as vendas nesta mesma área recuaram 0,9%.
Balanço
No varejo mais amplo, que inclui o “atacarejo” e concessionárias de veículos, as vendas registram o segundo mês consecutivo de desaceleração, já que haviam registrado alta de 1,9% em julho, passando a variar 0,8% em agosto de apenas 0,2% em setembro, também tomando o mês imediatamente anterior como base.
Embora aponte ainda um dado positivo, o fato é que a pesquisa do IBGE apontou em setembro quedas de 0,8% e de 0,1% para as vendas de veículos, motos e autopeças e para materiais de construção, pela ordem. O avanço naquele mês parece ter sido sustentado pelo atacado especializado em alimentos, bebidas e fumo (embora o instituto ainda não divulgue resultados dessazonalizados para o segmento).
Os números registrados pela pesquisa em Goiás anotam um desempenho mais positivo frente ao restante do País, na média das regiões acompanhadas pelo IBGE. Na comparação dessazonalizada, o varejo convencional registrou aceleração na velocidade de crescimento das vendas, que haviam alcançado elevação modesta em agosto, variando 0,2% sobre julho (quando chegaram a cair 0,8% no quarto dado negativo em sequência), e passaram a crescer 1,8% em setembro. No varejo mais amplo, o Estado observou desaceleração, com avanço de 1,5% em setembro na sequência de uma alta de 4,3% em agosto.
Na comparação com o mesmo mês do ano passado, em todo o País, as vendas avançaram 0,8% no varejo restrito, na sexta alta seguida nesse tipo de comparação, com alta de 1,1% para o comércio varejista ampliado, saindo de três meses de números no vermelho. Neste caso, houve perdas de 1,6% e de 0,3% para veículos e materiais de construção. Todo o desempenho positivo ficou concentrado nas redes de atacado especializadas em alimentação, bebidas e cigarros, que elevaram suas vendas em 7,7% na primeira alta em 13 meses.
Em Goiás, o varejo mais convencional teve comportamento semelhante ao avançar 2,5% em setembro e encerrar um ciclo de três meses de quedas nas vendas, puxadas principalmente pela alta de 13,0% nas vendas de móveis e eletrodomésticos e de 12,6% para o segmento de artigos de saúde e beleza.
No varejo ampliado, ainda em Goiás, houve aceleração mais vigorosa, com alta de 7,4% nas vendas em relação a setembro do ano passado, o que se compara com a variação de apenas 1,2% em agosto e perdas sequenciais entre fevereiro e julho. Nesse período, os piores resultados haviam sido registrados em abril, maio e junho, quando o setor chegou a experimentar perdas de 8,8%, de 7,8% e de 6,6% respectivamente.
A reação em setembro veio influenciada, mais uma vez para o varejo amplo no Estado, pelo salto de 18,2% nas vendas de concessionárias de carros e motos e pela alta de 6,8% nas vendas de materiais de construção.
As séries trimestrais, tomando idênticos períodos do ano anterior para comparação, deixam mais evidente o desaquecimento observado para as vendas em todo o País. O varejo restrito teve suas vendas elevadas em 3,3% e 3,8% no terceiro e quatro trimestre de 2024, com altas de 1,3% no primeiro trimestre deste ano e de 2,5% no seguinte. Mas observou avanço de apenas 0,8% no terceiro trimestre.No varejo mais amplo, as vendas sofreram baixas de 0,6% e de 1,2% no segundo e no terceiro trimestres deste ano.