Associação LGBTQIA+ pede punição contra Bruno, dupla de Marrone, por declarações transfóbicas

A Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT) denunciou o cantor Bruno, da dupla com Marrone, ao Ministério Público de São Paulo após realizar declarações transfóbicas contra a repórter da Rede TV!, Lisa Gomes.

No documento entregue ao órgão institucional, o deputado estadual Agripino Magalhães (MDB-SP) pede para que o artista seja responsabilizado pelo seu ato preconceituoso contra a jornalista.

“Os fatos são graves, reincidente específico, confesso, utiliza-se do nome da dupla, e sua fama, para induzir seus parças para atividades criminosas, e, diante disso, ou a suspensão de suas atividades por 90 dias [com uso de tornozeleira] ou a prisão preventiva, para que não torne a praticar atos criminosos previstos na Legislação Penal”, apontou a Associação.

De acordo com o portal Splash Uol, o Grupo Especial de Combate aos Crimes Raciais (GECRADI) está avaliando as alegações relatadas pela ABGLT e assim poderá decidir se irá punir ou não o músico.

Entenda o caso

Bruno havia concedido uma entrevista para a jornalista Lisa Gomes. Ela estava se preparando para entrevistar o cantor no camarim da dupla, durante um show no Villa Country, em São Paulo, quando ele a questionou se ela tinha uma genitália masculina.

“Você tem p?”, perguntou Bruno. “Como assim?”, perguntou retoricamente, Lisa. O cantor, então, repetiu o termo: “P. P**”.

A repórter comentou sobre o caso. Segundo ela, o momento foi horrível, doloroso e difícil. A fala do músico ativou diversos gatilhos nela.

“Esse processo de transição é um processo muito doloroso, muito difícil, porque eu nunca soube lidar muito bem com essa questão da aceitação do corpo, tudo isso que vocês já conhecem em relação às mulheres trans. De uma forma mais clara, porque a gente nasce no corpo errado”, declarou.

Continuando o desabafo, a profissional de comunicação ressaltou que foi exposta de forma absurda, assim como ela também se sentiu desrespeitada.

“Eu me senti invadida. Senti minha intimidade exposta de uma forma como eu não gostaria que fosse. Então, tudo isso me fez muito mal, de voltar a um lugar que eu não gostaria. E quanto vem de um artista tão consagrado, tão querido do público, porque como artista, como cantor, eu acho ele sensacional, sabe? Como cantor, assim, [ele tem] uma voz incrível”, elogiou.

“Mas, no mais, não tem o que falar. Eu me senti desrespeitada, sim, por você, Bruno. E eu não gostaria que você sentisse isso também, porque é muito ruim”, acrescentou. “Eu acho que você nunca vai passar e nunca vai sentir o que eu estou sentindo agora, nesse momento, que é justamente essa coisa de sentir invadida, sabe? Como mulher, como mulher trans”, refletiu.

Lisa ainda relembrou que a falas transfóbicas aconteceram enquanto ela estava apenas exercendo o seu trabalho e que a maior retratação seria pedir perdão para toda a comunidade transsexual, que busca por respeito em um local tão restrito no mercado de trabalho.

“Eu estava lá para trabalhar, eu estava lá para exercer a minha função como repórter, com todo o amor do mundo, como eu sempre faço. Eu estava lá trabalhando. Não fui me divertir, eu fui trabalhar para divulgar você, divulgar seu trabalho. A retratação maior é reconhecer mesmo que o que fez não foi legal, que machucou, que incomodou, não só a mim, mas toda uma comunidade. Essa comunidade que busca por respeito, que busca por espaço no mercado de trabalho”, alegou.

Anteriormente, o cantor publicou um vídeo nas suas redes sociais, lamentando o ocorrido.

O sertanejo caracterizou sua atitude como “infantil” e “inconsequente”. “Estou aqui para pedir desculpas para Lisa Gomes, pelo que eu perguntei para ela. Fui totalmente infantil, fui totalmente inconsequente. Eu quero pedir desculpa, não tem como voltar no tempo. Pedir perdão para ela”, disse no vídeo.