Vítima de estupro cometido por Felipe Prior relata sobre denúncia; Laudo médico constata laceração vaginal

Além de ter detalhado a noite que o crime ocorreu, a mulher explicou o que motivou a denúncia ter sido feita anos depois

Postado em: 17-07-2023 às 10h23
Por: Victória Vieira
Imagem Ilustrando a Notícia: Vítima de estupro cometido por Felipe Prior relata sobre denúncia; Laudo médico constata laceração vaginal
O caso aconteceu em 8 de agosto de 2014 e somente teve desfecho neste ano | Foto: Reprodução

A vítima do estupro cometido pelo ex-BBB Felipe Prior concedeu uma entrevista ao Fantástico, programa da Rede Globo, na noite deste domingo (16/7) e relatou sobre a denúncia do crime que condenou o arquiteto a 6 anos de prisão. Além de ter detalhado a noite que o crime ocorreu, a mulher explicou o que motivou a denúncia ter sido feita anos depois.

O caso aconteceu em 8 de agosto de 2014. Tudo começou quando a vítima estava saindo de uma festa universitária, a InterFAU. Evento esportivo em que diversas turmas de faculdades de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo participam.

A mulher lembra conta que já estava indo embora acompanhada de uma amiga, mas acabou se deparando com Felipe, que perguntou se ela queria uma carona. A vítima, não identificada, aceitou. Ela pensava que não teria perigo, já que o conhecia e pegou carona com ele algumas vezes devido o fator de todos os amigos em comum entre eles morarem na Zona Norte.

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“Na hora de ir embora, cruzei com o Prior e falei: ‘Ah, oi, tudo bem? Mas já estou indo embora’. E ele: ‘Ah, também tô indo, você quer uma carona?’. Aí falei: ‘Tá bom’. Minha amiga também morava na Zona Norte. Eu já tinha pegado carona com ele diversas vezes, não me parecia um risco, que algo pudesse acontecer”, afirmou.

Prior teria deixado a amiga primeiro, e logo depois, seguiu o caminho para a casa da vítima, pelo menos era o que ela esperava. O arquiteto parou no meio da rota, desafivelou o cinto e começou a beijar a vítima. Ele a puxou para o banco detrás do carro e começou a tirar sua roupa, forçando-a agressivamente.

“Começou a tirar minha roupa e, à medida que as coisas iam acontecendo, ele se tornava cada vez mais agressivo comigo. Eu falei ‘Felipe, eu não quero, não quero’, e ele continuou insistindo, continuou tirando a minha roupa e começou a penetração. Cada vez que eu falava que eu não queria, ele se tornava mais agressivo. Eu comecei a tentar resistir fisicamente, e ele começou a puxar meu cabelo”, contou.

A vítima aponta que em resposta aos seus pedidos para que o arquiteto parasse de prosseguir com a ação, ele se tornava cada vez mais agressivo e dizia frases como: “Agora não é hora de parar” e ‘Para de se fazer de difícil”.

“Ele começou a falar para eu parar de me fazer de difícil, que é claro que eu queria, que agora não era hora de falar que não e começou a forçar a penetração. Quantas vezes eu preciso falar não para a pessoa entender que ela está me machucando, que ela está me violentando?”, questionou.

Felipe somente parou a penetração quando se deparou com os gritos de dor da vítima e uma poça de sangue no carro.

“Aconteceu a laceração, que foi bem doloroso. Eu gritei. Começou a sair muito sangue. E eu comecei a gritar de dor, e aí ele parou imediatamente, falou: ‘O quê que é isso?  E eu, tipo, não sabia o que estava acontecendo, estava muito assustada. Só fui pegando minhas roupas e tentando estancar o sangue. Aí ele perguntou se eu queria ir para o hospital. Falei que não, que eu só queria ir para minha casa”, relembra a vítima.

Ao chegar em casa, a vítima disse que tentou estancar o sangue, mas não estava conseguindo devido a gravidade do ferimento. Então, ela recorreu a sua mãe por ajuda.

“Fui acordar minha mãe e pedi para ela me ajudar. Ela deu uma olhada no machucado, levantou e falou: ‘A gente vai para o hospital’.” No hospital, os médicos constataram que ela estava lidando com uma laceração de grau 1. Os documentos, segundo o Fantástico e G1, alegaram que houve fricção de pênis ou introdução de algum instrumento na vagina.

“A médica me perguntou diversas vezes. Perguntou para minha mãe o que de fato tinha acontecido. Que lá era um lugar seguro, que eu podia confiar nela, que era necessário falar a verdade, mas eu não quis falar. Falei que tinha sido um namorado. Eu estava com vergonha, medo”, alegou.

Após o ocorrido, o ex-BBB mandou mensagem para ela perguntando se tudo estava bem. Depois desse dia, os dois nunca mais se falaram.

Motivação e denúncia

Apesar de ter acontecido em 2014, a vítima somente tomou consciência da gravidade do caso quando o movimento #MeToo ficou em evidência. De acordo com o relato, ela começou a entrar em contato com as denúncias de mulheres que foram vítimas de assédio e abuso sexual, e caiu a ficha que ela foi vítima de estupro.

“Em 2017, se não me engano, começou um movimento do Me Too, que bombou na internet. Eu comecei a entrar em contato com todos esses relatos, essas denúncias de mulheres, e consegui conversar com as minhas amigas sobre isso. Foi quando caiu a ficha que eu tinha sido estuprada. “Foi quando realmente caiu a ficha de que não era minha culpa. Que não era minha responsabilidade. Que eu não tinha feito nada de errado e que ele tinha me estuprado.” 

A motivação e coragem denúncia é graças aos veio prints e tuítes de outras mulheres que também alegaram que foram vítimas das ações de Prior, que chegaram até ela. “Parece um absurdo hoje, quando eu olho para trás, pensar que eu achava que eu tinha sido a única pessoa que tivesse passado por isso. Quando vi todos os relatos, as denúncias, aquilo me chocou de tal forma que eu falei: ‘Esse cara tem que ser denunciado. Esse cara tem que pagar pelos crimes que ele cometeu”, argumentou.

Isso aconteceu durante a eliminação do arquiteto no Big Brother Brasil 20. A participação do arquiteto no reality show causou um gatilho na vítima, que por anos foi assombrada e tentava esquecer o rosto de alguém que gerou traumas permanentes em sua vida.

“Eu tive uma crise de ansiedade esse dia [Paredão de Felipe contra Manu Gavassi]. Eu estava com meu companheiro, que hoje é meu marido. Vi o rosto dele [Prior] pela primeira vez em muitos anos. Tudo o que remetia a ele, eu apaguei da minha vida. E eu vi o rosto dele, aquilo me causou um choque muito grande, um medo de novo”, refletiu.

Felipe Prior foi condenado a 6 anos de prisão e responde por mais dois processos de tentativa de estupro entre 2014 e 2018. A sentença da 7ª Vara Criminal de São Paulo ouviu relato de 19 pessoas e investigou o depoimento das vítimas e as testemunhas apresentadas. Assim, foi comprovado que as provas e as declarações foram compatíveis com a acusação.

O regime de cumprimento de pena será semiaberto. O arquiteto pode recorrer a decisão e responder o processo em liberdade. Segundo sua defesa, ele se declara completamente inocente. Confira a nota dos advogados de Prior na íntegra.

“A defesa e o próprio Felipe seguem plenamente confiantes no Poder Judiciário brasileiro e, assim, na reforma de sua injusta condenação, visto que restou patentemente demonstrada a inocência de Felipe pelas provas apresentadas no bojo processual, que, lamentavelmente, vêm sendo ventiladas de forma deturpada e em desrespeito ao segredo de justiça decretado em relação à tramitação processual – fato este que, também, será objeto das providências legais pertinentes.

Reafirmando-se a plena inocência de Felipe Antoniazzi Prior, sua defesa informa que, no momento oportuno e através de alguns veículos, Felipe se manifestará esclarecendo os fatos distorcidos e inverídicos apresentados como resposta para os demais veículos de comunicação.”

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