Desperdício de alimentos na mira de empresas

Além do fator social, preço do descarte motiva organizações a serem mais sustentáveis

Postado em: 01-02-2016 às 00h00
Por: Redação
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Além do fator social, preço do descarte motiva organizações a serem mais sustentáveis

Deivid Souza

Enquanto mais de 7 milhões de pessoas passam fome no Brasil, milhares de toneladas de alimentos que poderiam ser aproveitadas vão para o lixo. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a cada três quilos de comida produzida no mundo, um vai para o lixo.  Além do desperdício, esse também é um grande problema para empresas porque o descarte deste material tem custo. Em Goiânia, por exemplo, a Prefeitura cobra R$ 98 por tonelada de lixo orgânico que é encaminhada para o já sobrecarregado aterro sanitário.

A ONU criou um grupo com 30 líderes mundiais para reduzir à metade o desperdício de alimentos até 2030. No entanto, algumas instituições já estão vários passos adiantados em relação a este assunto. Uma das iniciativas pioneiras neste campo é o Programa Mesa Brasil do Sesc que encaminha alimentos que “não têm valor comercial, mas tem valor nutricional” para entidades cadastradas. Colaboram com o programa 258 empresas. Elas são responsáveis por fazer possível o atendimento a 583 mil pessoas de mais de 500 instituições cadastradas. “A procura de instituições é sempre maior do que a de empresas interessadas em doar. Mas a gente tem uma pessoa que é responsável por captar novas empresas doadoras”, explica a gerente do programa, Suellen Carneiro de Lima.

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“É um custo muito alto, nós dependemos dessa ajuda para funcionar”, afirma o diretor do Lar Espírita Francisca de Lima, Paulo Cesar Ferreira dos Santos. A instituição filantrópica mantém uma creche que cuida e alimenta aproximadamente 200 crianças todos os dias.

Economia

A Central de Abastecimento do Estado de Goiás (Ceasa-GO) ampliou a capacidade de redistribuição do Banco de Alimentos de menos de mil quilos para mais de 153 mil quilos entre setembro e dezembro de 2015. Além de encaminhar as doações de alimentos que não podem ser mais vendidos, no entanto ainda estão próprios para consumo para entidades filantrópicas, mais de mil famílias carentes recebem doações no local. A secretária do Banco, Naiara Batista dos Santos Andrade, explica que os vendedores doam os alimentos que estão mais maduros. “A gente não doa nada podre, mas é para uso imediato. Tudo bem maduro, não pode deixar para consumir bem depois”, detalha. Mesmo com as mudanças, o gasto com descarte ainda custa R$ 72 mil por mês.

Dados levantados pelo Instituto Senai de Tecnologia e Alimentos apontam que o manuseio, transporte e a operação nos centros de distribuição respondem pela maior parte do desperdício (Veja gráfico na página). “Se nós conseguirmos ter práticas de manuseio, de transporte mais aprimoradas e uma consciência melhor das pessoas que o fazem a gente consegue reduzir cerca de 80% do desperdício”, ressalta a gerente do Instituto, Christiane Starling.

Enxugar

A especialista acredita que locais como a Ceasa podem ter resultados “surpreendentes” na diminuição dos resíduos gerados. “Hoje nós temos algumas técnicas de produção mais enxuta que são adotadas em indústrias de ponta, mas os princípios e os fundamentos que estão por trás dessas técnicas podem ser aplicadas a qualquer processo e a gente vê a Ceasa como uma grande oportunidade”, defende.  

Desperdício pode virar crime

Várias propostas tramitam na Câmara Federal para a redução do desperdício de alimento. A mais conhecida e polêmica é o PL 3070. O projeto de lei altera a Política Nacional de Resíduos Sólidos (LEI 12.305/10) para garantir tratamento diferenciado aos restos alimentares. No texto consta que: o poder público e os diversos envolvidos na produção e no uso de alimentos terão responsabilidade compartilhada no manejo dos excedentes e dos resíduos alimentares.

Polêmica

Um ponto bastante polêmico do projeto é a criminalização das pessoas que jogam alimento próprio para o consumo no lixo. A medida afetaria diretamente os agricultores que às vezes descartam a colheita quando os custos de distribuição não cobrem o investimento na cultura. O gerente técnico do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural em Goiás (Senar), Flávio Henrique Silva, entende que é “injusto” tomar medidas como essa. Para ele, o mais importante é investir na infraestrutura de transportes do Brasil e continuar aprimorando as práticas no campo. “As máquinas estão cada vez mais preparadas para reduzir essa perda. Elas já contabilizam a perda em tempo real, mostrando para o operador que talvez seja o momento de parar e regular a colheitadeira”, comenta. (Deivid Souza)

 

 

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