Primeiro júri de Tiago resulta em 20 anos

Defesa e acusação vão recorrer da sentença. Ambos estão descontentes com com o tempo de detenção do réu

Postado em: 17-02-2016 às 00h00
Por: Redação
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Defesa e acusação vão recorrer da sentença. Ambos estão descontentes com com o tempo de detenção do réu

Deivid Souza

O vigilante, Tiago Henrique Gomes da Rocha, 28, foi condenado, ontem, pelo 1º Tribunal do Júri do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO) a 20 anos de prisão a ser cumpridos na Penitenciária Odenir Guimarães (POG), pelo assassinato da jovem, Ana Karla Lemes da Silva, 15. Ela morreu no dia 15 de dezembro de 2013. O placar do júri pela condenação foi de 4 votos a 1, os outros 2 votos não foram contabilizados porque com os 5 primeiros já não havia mais possibilidade de absolvição. De acordo com o juiz Jesseir Coelho de Alcântara, que presidiu o júri, a pena poderia variar entre 12 e 20 anos. Como os jurados acataram a tese de homicídio duplamente qualificado, chegou-se ao resultado máximo.

Tanto a defesa quanto a acusação vão recorrer da sentença. Ambos estão descontentes com a quantidade de anos a que Tiago deverá ficar detido pelo crime. O promotor do Ministério Público do Estado de Goiás (MP), Cyro Terra Peres, considerou que havia subsídios para uma pena maior. “A personalidade do réu bastante incomum, de altíssima periculosidade, a conduta dele, o risco, as circunstâncias em que ele pratica o crime, enfim, todos os critérios da lei que nós entendemos que embasam a aplicação de uma pena mais alta”, considerou.

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A defesa ficou descontente porque o júri não acatou o pedido de consideração de imputabilidade reduzida. Os advogados afirmaram que o laudo psicológico do TJ-GO apontou que o réu sofria de transtorno pessoal de personalidade antissocial, popularmente conhecida como psicopatia, e que isso implicaria no fato de ele não ter “domínio de si”. “Entendemos que na dosimetria não foi acolhida a tese de “imputabilidade reduzida”, sustentou o advogado, Wanderson Oliveira.

Com problemas de pressão, a mãe da vítima, Ironildes Lemes da Silva, 59, passou mal durante o júri. Mas se disse satisfeita porque foi feita “justiça”. Ela espera que nos próximos júris a que Tiago deve ser submetido, as penas também sejam elevadas. “Só quem está no lugar da gente é que sabe o que , desabafou.

“O júri acatou plenamente a denúncia do Ministério Público e foi feita justiça”, avaliou Jesseir Coelho, que conduziu a sessão sem incidentes. Em Goiânia, Tiago ainda responde a 29 homicídios e há outros dois processos em análise no MP.  

“Eu não queria ter feito nada disso”, disse Tiago 

O júri começou às 8h45 com a leitura do termo de acusação. Os jurados receberam um relatório do processo e tiveram alguns minutos para tomarem conhecimento do caso. Entre eles, estavam quatro homens e três mulheres sorteadas entre 25 pessoas.

A primeira testemunha seria um vizinho do acusado que não compareceu, mas foi dispensado pela defesa e acusação. Então, a mãe de Ana Karla prestou esclarecimentos como informante. Ironildes recordou o dia do fato e contou que não acreditou no que estava acontecendo. A mãe de quatro filhos disse emocionada que não consegue levar uma vida normal. “Eu não nem consigo trabalhar direito”.

Na sequência o réu foi ouvido. Diferentemente de várias outras audiências em que ficou calado ele respondeu aos questionamentos do juiz. Ele sustentou a versão de que matava para se livrar de “um sentimento ruim”.  Em dez minutos, as respostas curtas pouco esclareceram, mas ao contrário do que disse seu advogado, Michel Ximango, antes do início da sessão, o réu não confessou o crime. Perguntado sobre a autoria, disse apenas que “não sabia”. “Eu queria pedir perdão à mãe da Ana Karla. Eu não queria ter feito nada disso”, afirmou.

Debate

Durante sua exposição, o promotor sustentou que Tiago sabia o que estava fazendo e que isto estava claro no laudo psicológico do TJ-GO. “Ele é totalmente responsável” e “sabe o que faz”. O promotor enfatizou que isto está relacionado ao fato de haverem vários outros crimes atribuídos ao réu.

A defesa começou seu pronunciamento às 11 horas e tentou convencer o júri que, embora o ciente das ações que tomava, o cliente não tinha domínio de si. “O controle dele não sobrepõe”, frisou. A explanação foi mais rápida que a da promotoria e não falou em nenhum momento em absolvição, mas em atenuantes da pena.

 “Eu não queria ter feito nada disso”, disse Tiago 

O juiz Jesseir Coelho adiantou que estão previstos dois novos júris para o mês de março. Além do homicídio de Ana Karla, Tiago responde a 29 inquéritos de assassinatos como réu e mais outros dois processos estão em análise no MP-GO. Todos casos ocorridos na Capital. Ele ainda seria o responsável por cerca de 90 roubos.

O assassinato de Ana Karla aconteceu quando a jovem voltava da casa de uma amiga no Jardim Planalto, bairro onde morava, por volta de 19h do dia 15 de dezembro de 2013. O caso foi encaminhado para o júri popular no dia 13 de maio de 2015.

A tia da vítima, Rosangela Silva de Almeida, disse que o que aconteceu foi “muito brutal e ele tem que pagar pelo que ele fez”. Desde a abertura do fórum, foi grande a movimentação da imprensa, populares, entre eles um grupo de estudantes de direito, inclusive um grupo que veio de São Luís de Montes Belos a 120 quilômetros de Goiânia.

O auditório com capacidade para 200 pessoas ficou lotado. A expectativa era grande por parte dos estudantes de direito sobre o desenrolar dos fatos. “A expectativa é estar percebendo como é que procede esse caso que foi de grande repercussão na cidade. Estamos esperando um desfecho desse caso”, finalizou.

O advogado do réu já tinha afirmado, antes mesmo da sessão, que esperava a condenação, mas com “imputabilidade reduzida”, admitiu.   

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