Menos da metade realiza tratamento em Goiás

Dos 116 casos confirmados de microcefalia em Goiás, 45 realizam terapia de estimulação precoce. Questões sociais e de aceitação da doença são os principais entraves

Postado em: 28-03-2016 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Dos 116 casos confirmados de microcefalia em Goiás, 45 realizam terapia de estimulação precoce. Questões sociais e de aceitação da doença são os principais entraves

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Na tentativa de avançar no tratamento dos problemas causados em pacientes com microcefalia, o Centro de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo (Crer) atua com um grupo especializado para trabalhar nos casos identificados da doença. Foi montada uma equipe multidisciplinar de profissionais para tratar os pacientes e auxiliar os pais diante da situação. Em Goiás, existem 116 casos confirmados. Destes, 45 fazem algum tipo de terapia, seja no Crer, em Goiânia, ou nos municípios de origem.

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De acordo com o diretor técnico de reabilitação do Crer, Fabríccio Queiroz Correa, o principal motivo dessa baixa procura pelo tratamento pode estar relacionado ao fato de que, na maioria dos casos, é preciso que o paciente tenha disponibilidade de ir mais de uma vez por semana ao Crer, durante no mínimo os três primeiros anos, dependendo do caso, para participar de terapias e fazer todos os exames e acompanhamentos necessários. 

O especialista acredita que isso pode ser um empecilho para o tratamento. As famílias dos pacientes que moram longe da capital podem encontrar dificuldades de fazer esse deslocamento. O diretor técnico do Crer explica que apesar da doença não fazer distinção social, em algumas regiões, a maioria dos bebês nascidos com microcefalia são de classes menos favorecidas. 

Por isso, defende mudanças nas políticas públicas de combate à doença no sentido de que exames básicos necessários sejam inclusos em protocolos de atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS). “De 100 mil crianças nascidas em Goiás por ano, cerca de 2 mil podem estar infectadas com toxoplasmose, por exemplo, sem o conhecimento dos pais ou médicos. A toxoplasmose é uma das enfermidades que podem levar à microcefalia”, explica.

A dona de casa de Abadiânia, entorno do Distrito Federal, Thaíz Reis de Souza, viaja com a filha de quatro meses de duas a três vezes por semana para Goiânia para participar dos atendimentos e terapias do Crer. Ela só descobriu que a filha tem a doença na hora do parto. Na ocasião, a recém-nascida teve que ficar três dias internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para então iniciar o tratamento. 

Thaíz conta que é mãe de primeira viagem e garante que a realização do tratamento só é possível graças ao transporte que consegue na prefeitura. Ela e o marido são naturais de Luiz Eduardo Magalhães, Oeste da Bahia, e veio realizar o parto em Goiânia. Quando soube que no Estado tinha o de tratamento e que a filha iria precisar de acompanhamento até os seis anos de idade, não pensou duas vezes, a família resolveu fixar residência aqui. 

A pequena Júlia Manoella está bem desenvolvida e apresenta um controle cervical completo para um bebê dessa idade com o problema. Os médicos acreditam que com uma terapia regular, a criança não apresentará maiores sequelas. “Minha filhinha é perfeita para mim ela não tem nada de mais”, comenta Thaíz. Ela recebe o apoio da mãe e do esposo que constantemente participam das terapias com a criança. 

Apoio

Para a fisioterapeuta do grupo de estimulação precoce do Crer, Izabella Moreira, esse apoio da família é primordial para o tratamento e influencia diretamente no desenvolvimento do paciente. “Quando a mãe está bem e se sente amparada ela consegue participar e se concentrar nos atendimento. Dessa forma consegue aceitar melhor a doença para procurar alternativas de tratamento”, explica a médica.

Os atendimentos no Crer são realizados constantemente. Às quartas-feiras esse grupo de terapia de estimulação precoce reúne além de fisioterapeutas, fonoaudiólogos, psicólogos e terapeutas ocupacionais para atender além da criança qualquer familiar que deseja participar. São atendidas em média oito famílias por vez. 

A médica destaca o preconceito que as famílias sofrem quando a criança apresenta o quadro, por questões estéticas, muitas mães nem admitem que o filho tem a doença. “Por isso a importância da participação dos pais e familiares no processo de terapias”, diz. 

Causas da doença

Fabríccio conta que é possível destacar três causadores predominantes da microcefalia. Causas infecciosas que pode ser acometidas por doenças graves como herpes, zica entre outros. Causas traumáticas ocorridas durante o parto e motivos genéticos que necessitam de uma investigação mais aprofundada do histórico familiar do paciente.

Segundo o especialista, todas essas doenças podem levar à má formação do cérebro e, com isso, resultar na alteração do desenvolvimento visual, auditivo, motor e de cognição. “Em muitos casos o paciente consegue ter uma vida adulta independente, mas esse resultado depende do desenvolvimento do bebê durante as terapias de estimulação, seja no Crer ou em outros centros de atendimento”, explica. 

Médicos buscam avanços no tratamento 

O atendimento ao paciente com microcefalia se inicia logo após o nascimento. Todas as maternidades do Estado devem informar o caso ao poder público imediatamente diante do nascimento do bebê. Logo que chega à unidade, o recém-nascido com microcefalia é submetido a um exame que confirma seu quadro clínico.

Ele será acompanhado por diferentes especialidades, na busca pelas respostas de seu organismo à má formação do cérebro. A doença é rara e considerada uma falha no desenvolvimento do sistema nervoso central. A má formação do crânio da criança é apenas um dos efeitos do problema. Mas segundo o diretor de reabilitação do Crer, Fabríccio Queiroz Correa, é possível que um paciente com microcefalia tenha um bom desenvolvimento e uma vida adulta independente.

No entanto, há casos em que o crânio pequeno não permite ao cérebro se desenvolver adequadamente. “Não temos como falar em um padrão de sintomas. A microcefalia não atinge a todos de maneira uniforme”, esclarece o médico. Fabríccio reforça que a microcefalia afeta outras áreas como a visual e a auditiva. “Por esse motivo a composição de uma equipe multidisciplinar, para mapearmos todas as áreas”, resume. Mais de 50% dos casos de microcefalia apresentam algum tipo de comprometimento visual. 

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