Autismo: aprendizado duplo todo dia

Mães com filhos autistas contam o que aprendem enquanto eles desenvolvem habilidades

Postado em: 02-04-2016 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Mães com filhos autistas contam o que aprendem enquanto eles desenvolvem habilidades

Deivid Souza

“Ele gosta muito de sentir o vento, então ele  observa as folhas balançarem, e eu aprendi com ele a dar valor a essas pequenas coisas”. Esse é um dos aprendizados que a jornalista, Carla Lacerda do Nascimento Marques, 35, relata ter tido com o filho, João Lucas, 3. O garoto tem Transtorno do Espectro Autista (TEA), mais conhecido como autismo, e desde que isso foi descoberto a vida de Carla e do esposo passou por muitas transformações, mas ela diz que o menino a ensina muito “do jeito dele”.

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O autismo é um transtorno que interfere no desenvolvimento de várias habilidades como interação social, linguagem e comportamento. Carla descreve com detalhes o susto que teve ao receber o diagnóstico do filho há aproximadamente um ano, depois de suspeitas da pediatra e da professora dele. “Eu e meu esposo saímos da clínica e sentamos em um banco na Alameda Ricardo Paranhos (no Setor Marista) e ficamos ali olhando um para o outro querendo dizer ‘e agora?’ ”, relata.

A jornalista conta que a notícia significou a “morte do sonho do filho idealizado”, mas que, apesar dos desafios que vive para proporcionar mais de dez horas semanais de diferentes terapias a João Lucas, sente-se ainda mais próxima do garoto. “Amor de mãe é incondicional, mas o amor a ele é mais que isso, é amar sem receber nada em troca”, diz referindo-se ao fato de as manifestações afetivas de João Lucas serem diferentes da maioria das crianças. “Quando ele abraça, quando ele beija é um beijo do jeitinho dele”, completa.

Benefício

A fisioterapeuta, Milena Borges, convive há seis anos com situações semelhantes à de Carla. Para ela, o filho Samuel, 8, a ajudou a amadurecer. “Na verdade não foi ele que mudou, quem mudou fui eu mesma”. A profissional trabalha no Centro de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo (Crer) e explica que, além do desenvolvimento de habilidades motoras, a fisioterapia contribui para vários outros aspectos importantes. “A gente consegue organizar a criança, consegue fazer com que ela tenha uma concentração maior, que ela tenha um tempo de atenção maior, e de espera também”, avalia.

 Terapias proporcionam qualidade de vida

O médico neuropediatra, Hélio Van Der Linden, explica que várias ciências do conhecimento são aplicadas para melhorar a qualidade de vida do autista. “O tratamento é  voltado para que a criança possa sair do isolamento. Com profissionais da psicologia, terapia ocupacional, fonoaudiologia, educadores físicos, musicoterapeutas”, ressalta.

Geralmente, os sinais de autismo aparecem quando começam a falar e a andar. Eles podem ficar mais evidentes quando vão para a escola. O acompanhamento terapêutico que ajuda a desenvolver as habilidades é necessário por toda vida do autista. “São situações novas, a cada fase a pessoa apresenta dificuldades e limitações sem ter nenhum tipo de patologia”, explica a psicóloga do Crer, Fernanda Barros.

Informação

Um dos grandes problemas de quem convive com o autismo é o preconceito. A falta de informação prejudica a inserção social dos autistas. Entre os profissionais da educação e da saúde também falta esclarecimento. Por este motivo, a ONU criou, em 2008, o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, celebrado todo dia 2 de abril. Para lembrar a data, o Crer promoveu ontem uma mesa redonda para troca de experiências. O público formado por médicos, profissionais da área de reabilitação, pais, e sociedade em geral assistiu às discussões no auditório da instituição que atende 180 pessoas com autismo. No Brasil, de acordo com estimativa da pesquisa Retratos do Autismo no Brasil, de 2013, existem 1.182.543 de pessoas com o transtorno. 

 

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