OUC tem debates quentes e população desinformada

Proposta de intervenção urbana na região do Jardim Botânico divide opiniões

Postado em: 10-04-2016 às 06h00
Por: Sheyla Sousa

Deivid Souza

As discussões sobre a implantação da Operação Urbana Consorciada (OUC) na região do Jardim Botânico tem acontecido com ânimos exaltados. Enquanto isso, boa parte dos moradores e comerciantes da região diz não saber do projeto. A OUC é uma iniciativa que consiste em promover melhorias na infraestrutura da região de implantação pelo poder público com financiamento privado. Em contra-partida, os investidores podem adquirir os Certificados Potenciais Adicionais de Construção (Cepacs), negociados na bolsa de valores, para aumentar a capacidade de construção na região da OUC.

A reportagem de O HOJE acompanhou durante toda a semana as discussões sobre o projeto e também ouviu moradores e comerciantes da região. A maioria desconhece a existência do projeto, e entre os que sabem da proposta, muitos dizem ter apenas uma “noção” do que está em questão.

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O motorista carreteiro, Pedro Vicente, 53, reside há 40 anos no Setor Pedro Ludovico. Ele conta que não tem muitas informações sobre a OUC e, embora acredite que as mudanças possam trazer prejuízos para o trânsito no setor com maior número de moradores, avalia que as mudanças são “inevitáveis”. “Nós temos que pensar pelo futuro, precisa mudar o bairro”, considera. O comerciante Vital Pereira dos Santos, 56, reside no Setor Pedro desde os cinco anos de idade. “Se eu for pensar pelo geral, construir prédios vai melhorar o comércio, mas no final é prejudicial para os moradores. Aqui era mais arborizado e com os prédios que foram construídos aumentou a temperatura do setor”, acredita. O comerciante, Raimundo da Paz, 51, pensa que as mudanças podem impulsionar o comércio. “Para nós que somos comerciantes isso aí é ótimo”, avalia.

Calor

Os participantes das duas primeiras audiências públicas, realizadas esta semana para tratar do tema, revelaram que as discussões foram bastante acaloradas. “Nós ainda não conseguimos ouvir os moradores. A (primeira) audiência foi pautada por discussões políticas que não ajudaram muito. Nós não conseguimos chegar onde queríamos, que era conversar, mostrar sugestões”, reclama o representante do Instituto Cidades, que atua no processo, Marcel Canedo.

A vice-presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo em Goiás, Maria Ester de Souza, criticou a divulgação e o horário das audiências públicas, que para ela deveriam acontecer “aos finais de semana”. No entanto, a especialista ressalta que o principal ponto a ser levado em conta é a opinião de quem reside na região da OUC. “Melhorar é diferente de modificar. A OUC é uma intervenção complexa, muda os usos dos espaços, e quem diz se é melhor são as pessoas”, frisou. 

Meio ambiente é o que mais preocupa

O vereador, Paulo Magalhães (PSD), que tem participado das discussões, é contra o projeto e se diz preocupado com o meio ambiente e as nascentes da região. “Nós estamos preocupados com o meio ambiente porque é uma região muito rica em água”, afirma.

Em meio as diferentes visões, o presidente da Associação Pró Melhoramento Setor Pedro Ludovico, José Carlos Sampaio, o Carlinho Café, diz que ainda não conseguiu compreender toda a proposta. “Minha preocupação é com o meio ambiente. Hoje, pelas informações que tenho eu sou contra, mas não tenho profundo conhecimento. O que for melhor para o bairro nós vamos estar nos posicionando”, afirma.

Um dos pontos mais polêmicos do projeto é o aumento da densidade habitacional. Com a OUC, que prevê a construção de 45 mil unidades habitacionais, o número de moradores pode saltar de 41 mil para 153 mil, dentro de 20 a 30 anos. “Nós estamos falando de um aumento gradual, inclusive se você analisar o crescimento da cidade, há uma grande possibilidade de, sem intervenções a população chegar a esse tamanho”, defende Canedo que informou a O HOJE que vai ampliar a divulgação das audiências, inclusive por meio de panfletagem. (Deivid Souza)

 

 

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