A ‘Geração Canguru’

Pesquisas apontam o crescimento do número de jovens que mesmo na vida adulta continuam morando com os pais

Postado em: 18-04-2016 às 06h00
Por: Sheyla Sousa

Jéssica Torres

Sair da casa dos pais, conquistar seu próprio espaço e autonomia, tudo aquilo que seria o movimento natural de uma pessoa jovem e comum, vem perdendo força, com a chamada “Geração Canguru”. O fenômeno é usado para classificar os jovens de 25 a 40 anos que ainda moram com os pais.

O apelido vem da comparação dos cangurus, que só saem da bolsa das mães quando se sentem seguros. Os fatores que levam a situação cada vez mais comum no Brasil são diversos. Entre eles, estão aqueles que saíram de casa, mas acabaram voltando ao antigo lar.

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É o caso da agente de viagens Luciana de Araujo Gomides, 30, que voltou a morar com os pais há cinco anos. “Sai de casa aos 24 anos porque estava noiva e fui morar em Riberão Preto”, relata. Mas depois de um ano, quando o noivado acabou, resolveu voltar para Goiânia em sua antiga casa. E as vantagens não faltam, entre elas, Luciana destaca o prazer de ter companhia, além disso, o custo de vida é menor.

Comodidade é outro benefício, porém ela pondera que isso acaba também sendo um ponto negativo, já que se torna mais difícil sair daquela situação.  “É muito mais fácil morar com os pais, tendo casa pronta e bem arrumada, comida pronta, roupa, e se passar um aperto o pai ajuda, muito mais fácil do que ter que se virar sozinha”, aponta.  Quanto à privacidade, ela garante que não é um problema. “Eles acabam vigiando um pouco, preocupam- se um pouco quanto a horários, mas nada que tire a liberdade”, acrescenta.

Tendência

O relato de Luciana é o retrato de uma tendência nacional, segundo os últimos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em dez anos, houve aumento de quase quatro pontos percentuais- de 20,5% para 24,3% entre 2002 e 2012.

A funcionária pública Daphnee Iglesias, 30, apesar de prezar muito a liberdade, também é mais um exemplo de quem voltou para os pais, mesmo após viver sozinha. “Morei cinco anos fora do Brasil e sozinha. E quando voltei, cheguei bem no período da crise”, diz. 

Ela conta as dificuldades que enfrenta quando retorna para o lugar de origem. “A pessoa já criou uma identidade, e quando volta é diferente. Para os pais, o filho nunca cresce, a partir daí existem horários para sair, avisar quando irá dormir fora, e quando se mora sozinha acostuma-se a não dar satisfação”, compara. “Morar sozinha não significa que está isolada ou sem amigos. É uma outra rotina”, acrescenta. E ela garante que não pretende fazer parte da estatística por muito tempo.

O fato de a saudade bater forte para muitos, o aspecto econômico está entre os principais motivos, apesar de que a grande maioria confessa que a comidinha da mãe já pronta e o carinho que recebe também são os motivos para tal tendência.

Mas a grande maioria conforme os dados apontam, são os homens, que representam 60%. Além disso, o levantamento mostra que muitos acabam estudando por mais tempo enquanto recebem o conforto da família por perto.Eles querem se especializar mais na profissão, ter mais experiência de vida como viagens ao exterior. Nada disso seria possível se usassem o dinheiro para o aluguel, comprar sua própria comida.

O estudante de engenharia Thiago Brito,27, sabe bem o que é isso. Mas diferente de Luciana e Daphnee, não tem pretensão de sair tão cedo. “Quero primeiro terminar meus estudos. Não adianta viver sozinho antes de ter algo mais estável”, acredita. “Meus pais não se importam, pelo contrário, sempre me apoiam a não ter pressa e assim aproveito mais o tempo com eles também”, completa. 

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