Acumulador de lixo dificulta combate ao Aedes

Imóveis são monitorados duas vezes por mês, mas a quantidade de material aglomerado impede que criadouros sejam eliminados

Postado em: 20-04-2016 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Acumulador de lixo dificulta combate ao Aedes
Imóveis são monitorados duas vezes por mês, mas a quantidade de material aglomerado impede que criadouros sejam eliminados

Karla Araujo

Goiânia tem 60 imóveis com acumuladores de lixo. Na maioria dos casos, os responsáveis possuem síndromes que os levam a amontoar todo tipo de material. Latas, garrafas, pneus e sacos plásticos tornam-se objeto de cuidado destas pessoas, mas também criadouro do mosquito Aedes aegypti. Os dados são da Secretaria Municipal de Saúde (SMS).

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Um dos casos é do senhor J.L., 77, deficiente auditivo e mudo, morador da Vila Santa Helena, em Goiânia. De acordo com a irmã, Maria Lopes da Silva, 68, ele foi diagnosticado com esquizofrenia. O homem acumula lixo no quintal da casa e na calçada há pelo menos 30 anos. “A situação é muito difícil para nós também. Ele já foi internado tantas vezes que nem sei dizer. Fica melhor durante algum tempo, mas sempre volta a pegar lixo e colocar no quintal e na casa de novo”, lamenta Maria. 

Além dos dois irmãos, outras quatro pessoas moram na casa. Por ter se apegado ao material coletado, J.L. dorme em uma cama improvisada na calçada para vigiar o lixo, segundo vizinhos. Uma equipe multidisciplinar da Prefeitura de Goiânia formada por assistente social, médico psiquiatra e psicólogos visitou a família na tarde de ontem (19) e decidiram pedir a internação do responsável pela acumulação. 

Criadouros

A decisão foi aprovada pela família, que também autorizou a retirada do material, que deve ser feita durante o tratamento de J.L. para que ele entenda e se adapte ao novo cenário. O diretor de Vigilância em Zoonoses da SMS, Gildo Felipe de Paula, afirma que os locais mapeados como acumuladores de lixo em Goiânia são monitorados por agentes de endemias com visitas de quinzenais. “Devido a quantidade de lixo, não conseguimos, infelizmente, eliminar todos os criadouros do Aedes aegypti”, explica o diretor.

De Paula afirma ainda que apenas no imóvel da Vila Santa Helena foram encontrados 20 criadouros do mosquito no início dessa semana. De acordo com o diretor, a SMS trabalha com aplicação de inseticida por meio de bombas costais para matar o mosquito adulto, mas, diz De Paula, tratam-se de locais problemáticos. 

 Vizinhos reclamam, mas família tem dificuldades

 O aposentado Jeová Nunes, 65, mora ao lado da família há nove anos e reclama dos perigos que o acúmulo de lixo traz para a população local. “Imagina se algum vândalo coloca fogo nesse lixo todo, pode matar alguém. Precisa tirar tudo daqui o mais rápido possível”, diz Jeová. Porém, o vizinho entende a situação complicada pela qual a família passa. 

“São pessoas muito humildes e receberam notificação de multa por causa de criadouros do Aedes aegypti encontrados na casa. Eles não têm como pagar. O poder público precisa fazer alguma coisa, pois eles não podem”, afirma Jeová. Na casa de outra vizinha que não quis se identificar, duas pessoas já tiveram dengue, sendo que o esposo já teve a doença quatro vezes. A mulher lamenta a situação que “faz mal para eles e para gente”, mas defende a família: “gente boa demais”. 

Em parceria com o Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO), a SMS planeja formas para atuar nestes locais e retirar todo o lixo e entulho que existem nos 60 imóveis mapeados em Goiânia com o problema, inclusive por meio de autorização judicial. Hoje, a liminar que a secretaria possui permite apenas vistoriar estes locais mesmo sem permissão dos donos. De acordo com De Paula, representantes do MP-GO garantiram, em reunião realizada nessa semana, que o assunto é tratado com máxima prioridade. Diante disso, espera-se solucionar o problema dentro dos próximos meses. 

 

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