Segunda-feira, 22 de julho de 2024

Desemprego e baixa renda puxam inadimplência

Especialista afirma que população prefere se endividar a mudar o comportamento em relação a compras

Postado em: 27-04-2016 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Especialista afirma que população prefere se endividar a mudar o comportamento em relação a compras

Karla Araujo

Goiânia é a 16ª capital brasileira com mais cidadãos inadimplentes. O dado foi divulgado ontem (26) pela a Serasa Experian e aponta que o desemprego e baixo rendimento são as principais causas que levam ao atraso e descontrole das contas. Entre as 27 capitais, Goiânia apresenta a 22ª maior taxa de desemprego, de 6,1%. O rendimento médio dos goianienses é de R$ 2.352, o 17º menor do Brasil. 

No Centro-Oeste, Brasília está na 11ª posição com índice de 30,2% de inadimplência; Campo Grande (MS) está no 25º lugar da lista, com 24,4% de nomes negativados; e Cuiabá aparece em 10º, com índice de 30,6%, o maior da região. Já no Brasil, Manaus, Porto Velho, Macapá, Palmas, São Luís, Teresina, Boa Vista, Maceió e Belém são as nove capitais com maiores percentuais de inadimplência. 

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O professor do Departamento de Economia da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO) e vice-presidente do Conselho Regional de Economia de Goiás, Edilson Aguiais, afirma que Goiânia está bem posicionada em relação ao restante do país. De acordo com o docente, os incentivos à indústria e consolidação do setor de serviços fazem com que a população da capital goiana consiga certo controle mesmo em meio à crise. 

Dívidas

A auxiliar de contabilidade Luciana Pereira de Araújo, 37, faz parte das estatísticas. Ela está com o nome negativado há 20 anos e, com a crise, ficou ainda mais difícil quitar a dívida. Ela conta que “emprestou o nome” para o ex-cunhado adquirir uma linha telefônica, mas ele deixou de pagar muitas contas. “Na época, a dívida era de R$ 3 mil, mas faz tempo que não olho, então deve estar bem maior”, diz. 

Além disso, Luciana fez um financiamento pela Caixa Econômica Federal para pagar um curso superior, teve problemas para quitar as parcelas e o nome foi negativado mais uma vez. “Essa dívida já está negociada. Sou solteira e moro com meus pais, mas tenho despesas em casa e meu salário é de R$ 1.200. Não tenho condições de arcar com a primeira dívida agora. Quero limpar meu nome, mas no momento não é possível”, lamenta. 

No caso de Alexandre Rodrigues de Sousa, 42, seu nome entrou para lista de inadimplentes quando começou a ter problemas na loja de tecidos da qual era proprietário. “Tive muito prejuízo, fiz empréstimo para tentar pagar as contas, mas não consegui arcar com os compromissos e acabei devendo para o banco”, conta Alexandre, que está desempregado, é casado e tem dois filhos. 

Padrão

Aguiais explica que a inadimplência dos brasileiros é conseqüência do comportamento do setor econômico nos últimos 20 anos. Primeiro, a classe média ganhou poder de compra, explica o economista. Depois, os bancos começaram a liberar crédito para os cidadãos. Agora, em momento de retração, a população não quer deixar de adquirir o que estava acostumada. “Muitos dizem que é preciso cortar o supérfluo, mas o que é desnecessário hoje?”, questiona. 

O professor afirma que parte da população não consegue deixar hábitos adquiridos recentemente– como ir ao shopping com frequência e trocar de telefone celular– e prefere endividar-se para manter um padrão que não condiz mais com a realidade da economia do núcleo familiar. “Isso causa ainda mais desigualdade de renda. E a crise existe exatamente para separar ainda mais ricos de pobres”, conclui. 

 

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