Motoristas da Uber tentam fugir de intimidações

Motoristas da Uber criam métodos para não serem reconhecidos por taxistas. Falta de regulamentação favorece disputa

Postado em: 01-06-2016 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Motoristas da Uber criam métodos para não serem reconhecidos por taxistas. Falta de regulamentação favorece disputa

Karla Araujo

Motoristas da Uber, em Goiânia, estão adotando estratégias para não serem reconhecidos como tal e evitar confrontos com taxistas. Nenhuma agressão física foi registrada pela Polícia Militar, mas discussões entre motoristas dos dois seguimentos são confirmadas pelas partes envolvidas. 

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Paulo (nome fitício), 38, trabalha para Uber há dois meses e já teve que fingir amizade com um cliente para evitar discussão com taxistas no estacionamento da Rodoviária de Goiânia. “Quando coloquei a bagagem do passageiro no porta-malas ele me contou que os taxistas perceberam o momento em que ele usou o aplicativo e falaram que iriam ‘colocar para correr’ o motorista da Uber”, conta Paulo. 

Para evitar o embate, Paulo perguntou em alta voz ao cliente como foi a viagem e pediu que ele se sentasse no banco da frente. “Já tive que fazer isso duas vezes na rodoviária e no aeroporto. Me sinto muito inseguro”, diz. Antes de ser motorista da Uber, Paulo estava desempregado. Ele é casado e tem três filhos e o dinheiro adquirido no trabalho como motorista sustenta a família.

Também motorista da Uber, Ricardo (nome fictício), 32, vive situação parecida. Ele trabalha como palhaço em festas infantis e viu na Uber oportunidade para aumentar a renda da família. Para isso, roda pela cidade 12 horas por dia e arrecada cerca de R$ 2 mil por mês. “Não sabemos de brigas físicas, mas a tensão existe. Não deixo mais o celular no suporte do para-brisa para não ser identificado por pessoas de fora do carro como motorista da Uber”, afirma Ricardo. Além disso, o motorista trava a tela do celular quando entra em locais como aeroporto ou rodoviária, para que os taxistas não possam ver que ele usa o aplicativo. 

Disputas

O presidente da Associação dos Permissionários de Táxi do Município de Goiânia (Aspertagyn), Hugo Nascimento, confirma que existe tensão entre taxistas e motoristas da Uber e que as discussões acontecem com frequência, mas a responsabilidade, diz ele, é dos dois seguimentos. “A Aspertagyn repudia qualquer ação de violência, física ou verbal. Não queremos extinguir o serviço e sim a regularização. Há casos de discussões, mas elas foram provocadas também por motoristas da Uber”, explica Nascimento.

Por meio de nota, a Uber informou que a empresa considera inaceitável o uso de violência. “Todo cidadão tem o direito de escolher como quer se mover pela cidade, assim como o direito de trabalhar honestamente”, diz o texto.

 Serviço continua sem regulamentação 

No início de fevereiro, a Prefeitura de Goiânia, por meio da Secretaria Municipal de Trânsito, Transporte e Mobilidade (SMT), disponibilizou o texto base do decreto que tinha como objetivo regularizar o serviço da Uber em Goiânia. A intenção era que os cidadãos dessem opinião sobre quais deveriam ser as regras do serviço. Entretanto, o processo não continuou. A assessoria de imprensa do prefeito Paulo Garcia informou que ele está avaliando o documento. 

O serviço é visto pelas prefeituras de Goiânia e Aparecida de Goiânia como transporte clandestino de passageiros. De acordo com a Secretaria Municipal de Planejamento Urbano e Habitação (Seplanh), quatro carros de motoristas da Uber foram apreendidos por equipes de fiscalização. Também foi aplicada multa de R$ 1.505,32. 

Aparecida

A Superintendência Municipal de Trânsito de Aparecida de Goiânia (SMTA) também tem investido na fiscalização do transporte particular de passageiros. O presidente da SMTA, Franklin Junior, afirma que o único transporte de passageiros regularizado na cidade é o táxi e não há nenhum projeto para estabelecer a Uber como tal. 

Em Goiânia, o projeto de lei para regulamentar o serviço da Uber na Capital segue para segunda votação em plenário. Além disso, a Aspertagyn entrou com representação no Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO) para investigar supostas irregularidades apontadas pelos taxistas.

  

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