Técnicos de necropsia ameaçam cruzar os braços

Serviço de Verificação de Óbito em Goiânia trabalha em ritmo ‘tartaruga’ para pressionar por gratificação. Espera chegou a oito horas ontem

Postado em: 04-06-2016 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Serviço de Verificação de Óbito em Goiânia trabalha em ritmo ‘tartaruga’ para pressionar por gratificação. Espera chegou a oito horas ontem

RHUDY CRYSTHIAN e MARDEM COSTA JR.

Como se não bastasse a dor e sofrimento pela perda de um ente querido por causas naturais, familiares correm o risco de ficar sem a retirada do corpo do local na hora do falecimento ou enfrentam horas de espera que se arrastam aguardando pelo Serviço de Verificação de Óbito (SVO). Isso porque os técnicos que realizam o serviço travam uma batalha com a prefeitura para conseguir uma gratificação que elevaria em 90% o salário da categoria. 

Pode parecer muito, mas o salário médio de um técnico em necropsia em Goiânia é de R$ 1.042. Isso para um profissional que faz tudo no trabalho. Tudo mesmo: busca o corpo, faz as avaliações necessárias, exames cadavéricos e emite laudos. Indignados, os profissionais trabalharam ontem (3) em regime de ‘tartaruga’ para protestarem contra o descaso da prefeitura. 

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O regime de lentidão causou uma fila de espera de quase oito horas. Cinco famílias tiveram que esperar essa média de tempo para poderem dar continuidade com os serviços póstumos de seus parentes. “Sabemos que é um momento delicado, mas como a prefeitura está com descaso com nossa categoria precisamos pressionar de alguma forma”, justifica o porta-voz da categoria, Reginaldo Sabino Mendes Júnior.

Motivo 

Ele explica que desde 2012 a categoria não recebe nenhum tipo de reajuste ou recomposição salarial. Eles enviaram um ofício concedendo um prazo de 72 horas para a prefeitura se reunir com a categoria para tratar das reivindicações da categoria. “Precisamos do apoio da população para conseguirmos continuar prestando um serviço humano e de qualidade para os familiares”, argumentou. 

Apoio esse difícil de conceder para quem estava há horas com um parente falecido e necessitava dar continuidade aos trabalhos póstumos. O promotor de vendas, Reginaldo Rodrigues dos Santos, 34, estava ontem desolado e bastante abatido na sede do SVO no Setor Sudoeste, ao lado do Instituto Médico Legal (IML). A mãe dele de 59 anos faleceu naquela madrugada.  

Demora no atendimento causa revolta 

Por volta das 7h o serviço foi acionado e Reginaldo só conseguiu finalizar todos os procedimentos às 15h. “Eu entendo que os funcionários precisam lutar pelos seus direitos, mas é humilhante ter que ficar tanto tempo esperando pela liberação do corpo da minha mãe que sempre foi uma mulher guerreira e ativa e trabalhou duro até quase os últimos dias de sua vida”, protestou com os olhos cheios de emoção. 

O caso ainda pode piorar, a categoria ameaça paralisação total dos trabalhos a partir da próxima terça-feira (7) caso a prefeitura não aceite sentar para negociar. O órgão conta com 11 técnicos que trabalham em regime de escala de 12 horas. “Não tem nem como a prefeitura rebater que será um peso significativo na folha de pagamento, é pouca gente”, argumenta o porta-voz.

A Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia (SMS) esclareceu, por meio de nota, que para conceder essa reivindicação, seria necessário alterar a Lei 8.846 e isso requer estudo de impacto financeiro; além disso, todo aumento depende da autorização da Comissão de Controle de Despesas e Orçamento (CCDO). A Lei municipal 8.846, de 2009, dispõe sobre gratificação de urgência para profissionais de saúde, não contempla a categoria de técnicos de necropsia.

Resposta

A SMS afirma ainda que todas as reivindicações são discutidas, mensalmente, na Mesa de Negociação Permanente. Na edição de junho, essa pauta não foi tratada especificamente. ‘Atualmente, a SMS está impossibilitada de realizar atos que incorram em aumento de despesa, por meio do decreto 3.164, de 29 de dezembro de 2015’, disse a nota de resposta da Secretaria.

 

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