Sorriso não cura, mas ameniza dor

O trabalho de recreadores hospitalares tem como objetivo humanizar as relações entre hospital e paciente, para diminuir o sofrimento imposto pela doença

Postado em: 19-06-2016 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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O trabalho de recreadores hospitalares tem como objetivo humanizar as relações entre hospital e paciente, para diminuir o sofrimento imposto pela doença

MARDEM COSTA JR.

O ambiente de um hospital é pautado pela frieza. Normas, protocolos, regras e mais regras intercaladas com horários de remédios, visitas de enfermeiros, técnicos em enfermagem, médicos e familiares e os momentos das refeições.  Com isso, o lugar torna-se nada convidativo para quem precisa ficar ali internado.

Para atenuar o sofrimento e humanizar o atendimento, grupos de voluntários se juntam para entreter os pacientes, especialmente aqueles cujo tratamento requer uma longa estada. Os recreadores hospitalares, como são conhecidos, visitam os leitos hospitalares e entre uma ou outra brincadeira, conhecem histórias e realidades de pessoas.

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A vontade de fazer a diferença na vida de alguém chamou a atenção da empresária Keilla Alves, 42. Ela fundou o grupo Arte & Vida, que desde 2010 atua no Hospital Materno Infantil, em Goiânia. Keilla, também conhecida como Palhacinha Felícia, acredita nas apresentações como uma forma de exercer o amor ao próximo. “Nosso objetivo é tocar os corações das pessoas com alegria. A nossa recompensa é o melhor dos salários: o sorriso sincero”, entusiasma-se.

Para a jornalista Janda Nayara, 28, coordenadora do Medicócegas, o encontro das crianças com os recreadores reduz as agruras da dura rotina de um tratamento como o realizado contra o câncer no Hospital Araújo Jorge. “Nosso trabalho é tornar um pouco mais caloroso aquele espaço frígido. A recepção é boa, especialmente dos pais, que se emocionam com a nossa presença. Se uma criança não quiser nos receber, respeitamos. Aquele é o único momento que algumas delas podem dizer não”, salienta.

Responsabilidade

“Nosso maior desafio é ter membros que realmente assumam a responsabilidade para o trabalho. Trabalhamos com poucas pessoas, mas que atuam constantemente. Isso é importante até para criar um vínculo com as crianças”, pontua Janda.

Por serem associações informais, os grupos não recebem nenhum tipo de assistência governamental, porém dependem de verbas entre os membros e de colaborações junto à iniciativa privada. Os gastos são, basicamente, para a compra de materiais a serem elaborados para as apresentações.

Comprovação

Uma pesquisa feita no hospital infantil IRCCS Burlo Garofolo, na cidade italiana de Trieste, constatou a importância dos recreadores no tratamento dos pacientes nas unidades hospitalares. O estudo selecionou 40 crianças e as dividiu em dois grupos: o primeiro recebeu o tratamento burocrático e processual aplicado em qualquer hospital e o segundo teve contato com voluntários que visitaram os centros hospitalares vestidos de palhaço. 

Os resultados do estudo atestaram a diminuição significativa da ansiedade antes e durante a realização de algum tratamento ou procedimento médico entre as crianças que receberam visitas dos voluntários. A instituição, em nota, promete explorar ainda mais o potencial da recreação hospitalar.

 

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