Máfia das UTIs vai parar atrás das grades

Quadrilha direcionava atendimentos de alta complexidade para UTIs particulares

Postado em: 22-06-2016 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Quadrilha direcionava atendimentos de alta complexidade para UTIs particulares

MARDEM COSTA JR.

Uma operação do Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO), desencadeada ontem, resultou na prisão de 21 pessoas suspeitas de fazer parte de uma quadrilha especializada na fraude de encaminhamentos de pacientes para Unidades de Terapia Intensiva (UTI) privadas, em Goiânia, Anápolis, Aparecida de Goiânia e Senador Canedo. De acordo com as investigações, integrantes do grupo recebiam propina em troca do direcionamento de pacientes às unidades de alta complexidade geridas por empresários envolvidos no esquema.

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Além das prisões, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) cumpriu 43 de busca e apreensão. A operação intitulada ‘S.O.S. Samu’ foi realizada por 39 promotores do MPGO com o auxílio de policiais militares e civis.

Entre os detidos estão os médicos Carlos Henrique Duarte Bahia, diretor técnico do Samu Metropolitano, e Rafael Haddad, proprietário da UTI Centro Vida e sócio do Hospital Renaissance. A denúncia partiu de um ex-servidor do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e foi investigada por um ano e oito meses pelo Gaeco. 

Os detidos e os materiais apreendidos foram encaminhados a sede do MPGO para averiguações. Em seguida, os presos foram encaminhados à Casa de Prisão Provisória (CPP), onde aguardarão o prazo de cinco dias da prisão temporária, que poderá ser prorrogada ou transformada em preventiva. Eles poderão responder pelos crimes de associação criminosa, corrupção ativa e corrupção passiva.  Ao todo 19 pessoas jurídicas estão sendo investigadas.

Esquema

A apuração do MPGO apontou que a fraude envolvia condutores socorristas, técnicos de enfermagem, enfermeiros e médicos, além de dois bombeiros. O grupo direcionava o encaminhamento de pacientes com planos de saúde para as unidades de atendimento avançado privadas, burlando o sistema de regulação de UTI de Goiânia.

Os promotores obtiveram dados bancários que atestam o pagamento de propinas, cujos valores variavam de R$ 100 a 500 por paciente encaminhado aos servidores e até o valor de uma diária de UTI – em torno de R$ 15 mil – para os médicos, enquanto o Sistema Único de Saúde (SUS) paga R$ 508,63 pela diária. Os funcionários do Samu envolvidos no esquema rejeitavam atuar em regiões periféricas, por atenderem um maior número de pessoas através do SUS, o que era desinteressante financeiramente. 

 Para MP, suspeitos pioravam quadro de pacientes

De acordo com o promotor Luiz Guilherme Gimenes, coordenador do Graeco, também foi descoberto que os suspeitos faziam um rebaixamento artificial de nível de consciência, ou seja, por meio de medicação ou omissão de socorro, o paciente era encaminhado para a UTI particular sem necessidade. O procedimento trazia benefícios financeiros aos empresários, que ganhavam dos planos de saúde pela diária do paciente. “Estamos procurando possíveis vítimas fatais dessa associação criminosa”, pontua. 

Gimenes destacou um depoimento crucial na elucidação do caso. “Uma vítima de AVC foi atendida pelo Samu. A ambulância estava praticamente na mesma rua de um hospital aqui em Goiânia, quando fizeram contato com a regulação. O regulador determinou que o paciente fosse encaminhado para outro hospital, mesmo sabendo do risco de morte. O médico que determinou o encaminhamento é vinculado ao esquema”, salienta.

Desdobramentos

A Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia anunciou que abriu uma sindicância para a conduta dos servidores investigados e que vai colaborar com as investigações. A mesma medida foi divulgada pelo Corpo de Bombeiros Militar de Goiás (CBM-GO). O Hospital Renaissance, o Conselho Regional de Medicina (Cremego) e a Associação dos Hospitais Privados de Alta Complexidade do Estado de Goiás (Ahpaceg) não quiseram se pronunciar até o fechamento da edição. (Mardem Costa Jr.)

  

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