Máfia das UTI’s: 4 são liberados

Operação ‘S.O.S. Samu’ prendeu 21 na quarta-feira. Grupo é suspeito de esquema para aumentar lucro de hospitais

Postado em: 24-06-2016 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Operação ‘S.O.S. Samu’ prendeu 21 na quarta-feira. Grupo é suspeito de esquema para aumentar lucro de hospitais

Mardem Costa Jr. 

Pelo menos quatro pessoas das 21 detidas na operação “S.O.S. Samu”, deflagrada na terça-feira (21), pelo Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO). Enquanto isso, as investigações seguem a todo vapor, com a finalização dos depoimentos dos presos e oitivas de testemunhas arroladas no decorrer da apuração que desbaratou o esquema envolvendo servidores do Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu), Corpo de Bombeiros e donos de Unidades de Tratamento Intensivo (UTI’s) particulares. 

Os promotores se reunirão ainda hoje para avaliar os rumos da operação e decidirão se vão prorrogar ou não as prisões preventivas, que expiram no amanhã. Dos 24 mandados de prisão expedidos, 21 foram cumpridos na terça-feira. Na tarde de ontem, o técnico em enfermagem Osvaldo José de Oliveira Filho se entregou na sede do MPGO, onde estava sendo ouvido até fechamento desta edição. O condutor socorrista Joelson Machado da Silva e o médico urologista Maurício Batista Leitão permanecem foragidos.

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A repercussão da operação desagradou os servidores lotados no Samu, que reclamam o julgamento equivocado por parte da população e lideranças políticas. “Somos mais de 300 servidores, e estamos sofrendo um processo de generalização, como se toda a categoria estivesse envolvida nesse tipo de conduta criminosa”, queixa-se Márcio Linhares, presidente do Sindicato dos Condutores de Ambulância do Estado de Goiás (Sindambulancia). 

Esquema

Deflagrada após um ano e oito meses de investigações, a ‘S.O.S. Samu’ contou com o apoio de 39 promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). Foram presas pessoas em Goiânia, Anápolis Aparecida e Trindade. Entre os detidos estão os médicos Carlos Henrique Duarte Bahia, diretor técnico do Samu da capital, e Rafael Haddad, proprietário da UTI Centro Vida e sócio do Hospital Renaissance.

O grupo direcionava o encaminhamento de pacientes com planos de saúde para as unidades de atendimento avançado privadas, burlando o sistema de regulação de UTI em Goiânia. Os promotores obtiveram dados bancários que atestam o pagamento de propinas, que chegava a R$ 500 por paciente encaminhado aos servidores e até o valor de uma diária de UTI – em torno de R$ 15 mil – para os médicos.

Os funcionários do Samu envolvidos no esquema rejeitavam atuar em regiões periféricas, por não serem atrativas aos interesses da quadrilha.  De acordo com o Luiz Guilherme Gimenes, coordenador do Graeco, os servidores faziam um rebaixamento artificial de nível de consciência, encaminhando pacientes para as UTI’s alinhadas ao esquema sem necessidade, por meio de medicações ou omissão de socorro. O procedimento trazia benefícios financeiros aos empresários, que ganhavam dos planos de saúde pela diária do paciente.

 Secretaria garante funcionamento do Samu

O secretário de Saúde de Goiânia, Fernando Machado, comunicou oficialmente a abertura de processo de sindicância para apurar a conduta dos funcionários públicos detidos na ‘S.O.S. Samu’, durante entrevista coletiva na tarde de ontem. Na ocasião, ele anunciou a reorganização das escalas dos servidores do serviço. “Estamos garantindo a manutenção do atendimento, com as equipes completas, dada a importância do atendimento prestado. Agora também precisamos da ajuda da população, que pode denunciar qualquer irregularidade através da Ouvidoria, no telefone 0800-646-1510”, salientou. 

Machado também anunciou que será reforçado o monitoramento dos atendimentos realizados pelo Samu. “Montamos grupo de auditores independentes fará a análise dos prontuários dos pacientes atendidos pelo serviço. Vamos utilizar ainda as gravações, back-ups de registros médicos e entrevistar pacientes para fins de auditagem”. Quanto aos envolvidos no esquema, o secretário enfatizou que poderão perder os cargos públicos caso a participação no crime seja comprovada. “Ainda que soltos, os detidos não voltarão ao Samu. Responderão ao processo afastados de suas funções”, finaliza.

  

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