Preso um dos suspeitos de matar jornalista

Servidor público teria dirigido o carro usado no assassinato de jornalista em Santo Antônio do Descoberto

Postado em: 29-07-2016 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Servidor público teria dirigido o carro usado no assassinato de jornalista em Santo Antônio do Descoberto

MARDEM COSTA JR.

A Polícia Civil apresentou ontem um dos suspeitos de envolvimento da morte do jornalista João Miranda do Carmo, 54, na cidade de Santo Antônio do Descoberto, no Entorno de Distrito Federal. Douglas Ferreira de Morais, 40, é chefe da Guarda Patrimonial da prefeitura da cidade e foi preso anteontem na casa da mãe, após o depoimento de uma testemunha apontar que o servidor público dirigia o Fiat Palio de cor vermelha utilizado no crime. 

O suspeito de efetuar os disparos ainda está foragido, enquanto Morais, que nega participação no homicídio, cumprirá prisão preventiva de 30 dias – que pode ser alterada para provisória no decorrer das investigações. A Prefeitura de Santo Antônio do Descoberto, informa que ainda não foi notificada oficialmente do caso. “Logo que tivermos ciência dos fatos, tomaremos as providências legais cabível”, disse o procurador-geral da cidade, Rafael Rossi.

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A principal linha de investigação trabalhada é de que o assassinato de Carmo pode estar relacionado ao trabalho do jornalista e ainda por motivos políticos – ele era pré-candidato à vereador pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB). João era dono do site “SAD sem Censura”, que divulga notícias policiais e outras relacionadas a problemas da cidade, como, por exemplo, falta de asfalto e coleta de lixo. 

Orlene Ribeiro dos Santos, esposa do vítima, relata que ele criou o site em 2013, com objetivo de denunciar e criticar as mazelas da cidade. A atividade jornalística era feita em paralelo ao trabalho de reciclagem – principal fonte de renda de Carmo, natural de Goianésia. Ele também publicava seus textos no site “Folha da Copaíba”. “Perdi o artilheiro do time.”, lamenta Fernando Oliveira, proprietário da publicação digital. 

Crime

Segundo o delegado Fernando Gama, titular da Delegacia Regional de Águas Lindas – que responde pelo município – testemunhas contaram que duas pessoas chegaram à casa do jornalista em um carro Fiat Palio vermelho. Morais e o suspeito de efetuar os disparos ficaram parados por um tempo em frente à casa de Carmo.

Quando ele estava prestes a sair para atender ao chamado dos criminosos, eles se aproximaram. Ao perceber o movimento, o jornalista ainda tentou escapar, mas os suspeitos conseguiram arrombar o portão, entraram na residência e efetuaram sete disparos. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionado, mas quando chegou ao local, João já estava morto.

Não é a primeira vez que Carmo era vítima de algum tipo de intimidação. Ele teve o carro incendiado em 2014 e segundo amigos e familiares do jornalista, recebia ameaças de morte há algum tempo. “O enteado dele relatou que a vítima era conhecida na cidade pelo trabalho de jornalista e que esse pode ser o motivo do assassinato”, disse o soldado Alisson Assis de Moraes, que esteve no local do crime.

Carmo estava receoso com as conseqüências da publicação de reportagens sobre tráfico de drogas e denúncias contra o prefeito de Santo Antônio do Descoberto Itamar Lemes Prado (PDT). “Eu mesmo aconselhava o João a não ser tão corajoso, a não afrontar pessoas tão perigosas”, afirmou o vereador Geraldo Lacerda (PSD), opositor à Prado.

Repercussão

O Sindicato dos Jornalistas de Goiás (Sindjor-GO), a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) e a Unesco cobraram celeridade nas investigações e a punição dos responsáveis. A Fenaj ressalta a necessidade das empresas de comunicação e forças de segurança do Brasil implementarem medidas preventivas aos profissionais.

A Abert pontua o risco ao direito de informação. “Num país democrático, que um jornalista seja friamente assassinado por sua atuação profissional ao cumprir a função de informar o cidadão”. A entidade finaliza que “esse tipo de violência coloca em risco um dos direitos fundamentais da sociedade: a liberdade de expressão”.

A mesma posição é corroborada pela diretora-geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), Irina Bokova. “A impunidade de crimes contra jornalistas restringe a capacidade dos profissionais de mídia de realizarem seu trabalho e promoverem o acesso do público a fontes de informação diversas e independentes”, alertou. 

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