Agricultura sofrerá com mudança climática

Produção de soja poderá cair até 80%. Pela primeira vez, cientistas brasileiros detalham como alterações no clima vão influenciar País

Postado em: 06-08-2016 às 06h00
Por: Redação
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Produção de soja poderá cair até 80%. Pela primeira vez, cientistas brasileiros detalham como alterações no clima vão influenciar País

Uma publicação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), pela primeira vez, revelou a previsão dos impactos das mudanças climáticas para a agricultura nas próximas décadas. Dados da empresa e modelos do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) foram combinados para descobrir, especificamente o aumento dos riscos para culturas como soja, milho, milho safrinha, feijão e arroz. A longo prazo, produção de soja pode ter mais de 80% de redução até 2085.
De acordo com a análise, a área de risco para o milho, por exemplo, seria reduzida em 9% até 2025. Os estados de Goiás e Mato Grosso passariam a ter um aumento significativo de área com alto risco para plantio nos cenários simulados para 2055. A alteração deve incentivar o aumento do plantio da cultura para o norte de Mato Grosso.
Além da diminuição das chuvas, as mudanças nos regimes hídricos vão tornar, cada vez mais, a agricultura uma atividade delicada e sujeita a prejuízos. O preço do feijão, atualmente, no Brasil é um exemplo de como alterações nos momentos das chuvas podem ter consequências trágicas para a população. Em alguns estados, a chuva não veio quando a planta precisava se desenvolver, em outras regiões, o momento de secagem foi prejudicado pelo excesso de água.
Também foi verificada uma forte tendência no registro de acréscimo na frequência de dias com temperaturas superiores a 34ºC para os próximos anos. Tais situações já estão sendo vividas nas últimas décadas. A ocorrência desses eventos extremos provocam o abortamento de flores de café, feijão, morte de frangos, perda de crias em porcas e diminuição da produção de leite.

Variação
“As chances de perda e as condições meteorológicas são muito variáveis. Às vezes você tem anos bons e anos ruins, mas a frequência dos anos ruins está aumentando, e de uma maneira geral implica em produção mais baixa”, pontua o pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária que participou do estudo, Eduardo Monteiro.
O encolhimento da produção ou acréscimo no valor do manejo que as circunstâncias podem demandar, caso as previsões se confirmem, influenciarão no preço dos alimentos. No entanto, o assistente técnico da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), Cristiano Palavro, explica que existem outras variáveis a serem consideradas como oferta e demanda. “A demanda não deve cair, a população de crescer, ainda que o crescimento no Brasil seja mais estável. Nós temos países que têm níveis de crescimento de população elevada, a gente vai ter pressão sobre o preço e a produção pode ficar limitada”, acrescenta. 

Tecnologia pode minimizar riscos

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Os resultados mais específicos vão contribuir para que pesquisas futuras e outras já em andamento possam atacar diretamente os desafios previstos. O melhoramento genético pode tornar as plantas mais resistentes. Um exemplo é o milho. O vegetal que pode ter redução na produção em até 90% poderá minimizar os riscos com exemplares de raízes maiores, que infiltrem mais profundamente no solo e resistam melhor à redução de chuvas.
“Eu tenho muita esperança que a gente consiga, mesmo tendo mudanças climáticas, adaptar as nossas cultura para isso. O histórico que temos me leva a acreditar nisso. Hoje temos uma expertise na cultura da soja, que é uma planta tipicamente de clima temperado e subtropical, hoje adaptada ao clima do Cerrado”, exemplifica Palavro.
Em se tratando do manejo, a aplicação de técnicas que propiciem a produção em sombriados, com sistemas agroflorestais, por exemplo, é um dos muitos exemplos de como é possível contornar as circunstâncias desfavoráveis que estão por vir. No entanto, há uma preocupação entre os especialistas sobre como vai se dar essa transferência de tecnologia, sobretudo em relação aos pequenos produtores. Palavro lembra que, se não for bem conduzido, este passo importante poderá ampliar a desigualdade social no campo. “O pequeno agricultor depende muito mais de assistência técnica pública. O grande compra o produto e ganha assistência técnica ou ele mesmo tem os profissionais especializados”, destaca.

Papel
Para Monteiro, os governos têm mecanismos que podem contribuir com a inevitável transição para o modelo de agricultura que teremos no futuro. “Um aspecto que tem papel fundamental diz respeito às políticas públicas com adoção de determinadas práticas, seja através da oferta de incentivo como taxas de juros diferenciadas para sistemas mais eficientes de produção ou incentivos na questão do subsídio do seguro rural”, frisa. 

 

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