Acidentes de trabalho matam 1.172 em dez anos

Número de fiscais do trabalho despencou nos últimos dez anos, enquanto quantidade de acidentes cresceu

Postado em: 12-08-2016 às 06h00
Por: Redação
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Número de fiscais do trabalho despencou nos últimos dez anos, enquanto quantidade de acidentes cresceu

Deivid Souza

A morte de dois operários, vítimas de um soterramento na tarde de quarta-feira (10), em Goiânia, vai engrossar a triste estatística que consome a vida de trabalhadores. Entre 2004 e 2013, 1.172 trabalhadores morreram em serviço em Goiás. Carlito Francisco dos Santos, 39, e Wender César de Oliveira, foram soterrados quando faziam uma escavação na esquina da Rua 124 com a Avenida 87. 
O ano mais trágico no período levantado por O HOJE foi 2004, quando 139 empregados perderam a vida. O ano de 2013, o último com dados disponíveis registrou 101 casos, o que deu ao Estado a 10ª colocação no ranking nacional de mortes no trabalho. A capital concentra praticamente um terço dos óbitos. Em 2012 foram 16 registros e 27 no ano seguinte. O setor em que mais aconteceram óbitos foi o da construção civil. 
O número de acidentes tem apresentado evolução nos últimos anos. Entre 2011 e 2013, a quantidade de acidentes de trabalho aumentou 9,3% e fechou o último ano do levantamento com 17.158 casos.
A Superintendência Regional do Trabalho em Goiás (SRT) tem desenvolvido um trabalho de análise das estatísticas, além do trabalho preventivo, que verifica o cumprimento das normas. 
“Quando há a ocorrência de acidentes que tragam consequências mais severas como afastamentos do trabalho por períodos superiores a 30 dias ou infelizmente quando o trabalhador vai a óbito, as Superintendência faz a análise desse acidente identificando fatores de risco que contribuíram para a ocorrência do evento. E em função dessa auditoria são lavrados autos de infração e a empresa toma ciência desse problema para evitar novas ocorrências de acidentes”, explica o chefe de fiscalização da SRT, Afonso Rafael Fernandes Borges.

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Deficiência
No entanto, os resultados esbarram no número de auditores fiscais do trabalho. Como O HOJE publicou no mês passado, em 1990, havia em Goiás 115 auditores fiscais do trabalho, mas este número caiu para 65 atualmente. Só entre 1990 e 2004, os dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) apontou evolução de 112,4% no indicador. 
A Associação dos Auditores Fiscais do Trabalho no Estado de Goiás (Aafitego) defende que seriam necessários, pelo menos, 150 profissionais para cuidar da fiscalização. O Ministério do Trabalho e Previdência Social informou ao O HOJE que a realização de concursos públicos para o cargo é autorizado pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. 
Mesmo com o déficit, entre 2014 e junho deste ano, foram emitidos 9.637 autos de infrações para 2.445 empresas. O ano com mais notificações foi 2014 com 4.356 registros multas geradas. O segmento da construção é o que tem maior participação nas multas. Em 2015, respondeu por 41,67% das irregularidades apuradas .

Falta de contenção pode ter sido causa de acidente

A falta de uma contenção no talude onde era feita a escavação de uma obra no Setor Sul, em Goiânia, é levantada pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Goiás (Crea-GO) como uma das causas do acidente que vitimou dois operários nesta quinta-feira (10). Os dois trabalhavam nas escavações de ampliação de uma clínica.
Membros do Conselho visitaram o local, que está interditado, juntamente com integrantes da Defesa Civil. “Vamos identificar os responsáveis técnicos pela obra, analisar as condições de segurança dos trabalhadores que estavam trabalhando e as condições de trabalho que os profissionais estão seguindo com relação a esse empreendimento”, explica o gestor do Departamento Técnico do Crea-GO, Edivaldo Maia.
A Defesa Civil, por sua vez, foi ao local para avaliar as condições de segurança do local. De acordo com o órgão, a empresa responsável pelo serviço se comprometeu, após a perícia, a realizar o trabalho de escoramento do talude para que seja estudada a possibilidade de liberação do trânsito na Rua 124 no Setor Sul.
Na placa da obra, não havia o nome de um engenheiro em segurança do trabalho, que seria o responsável técnico pelo programa de proteção aos trabalhadores e à vizinhança. A reportagem não conseguiu contato com os gestores da obra. O 1º Distrito Policial (DP) vai apurar as circunstâncias da morte de dois operários.

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