Estar na moda é consumir com consciência

Brechós invadem as redes sociais e conquistam clientela cada vez mais preocupada com consumo sustentável e econômico. Há quem prefira as tradicionais lojas físicas, mas a motivação da procura é a mesma

Postado em: 27-08-2016 às 06h00
Por: Redação
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Brechós invadem as redes sociais e conquistam clientela cada vez mais preocupada com consumo sustentável e econômico. Há quem prefira as tradicionais lojas físicas, mas a motivação da procura é a mesma

Milleny Cordeiro

Que a sustentabilidade está na moda todo mundo já sabe. Falam-se muito em ações menos agressivas ao meio ambiente, que podem contribuir para a sua preservação e diminuir a exploração de recursos naturais. Agora, o que muitas pessoas não sabem ou fingem não saber é que a sustentabilidade está literalmente ligada à moda e ao consumo consciente, e que você pode ajudar o planeta simplesmente fazendo compras e trocando roupas em brechós.

Os brechós têm caído no gosto das pessoas de forma crescente e despertam o interesse de quem quer comprar barato e escolher peças boas, bonitas e únicas, verdadeiros achados que já nem se encontram no grande mercado do fast fashion. Aquela imagem de que brechó é uma salinha mofada, com roupas rasgadas, velhas e manchadas tem sido desconstruída cada vez mais e a internet tem dado uma força aí. Grupos no Facebook e perfis do Instagram dedicados à troca e venda de roupas usadas estão fazendo sucesso e conquistando espaço. 

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É o caso do Brechó Sopa Vintage (@sopavintage) que, há um mês e meio ativo no Instagram, já conquistou quase dois mil seguidores. A criadora é a publicitária Keloane Mendes, de 22 anos. Ela explica que a ideia do brechó online partiu da preocupação com um mundo mais sustentável e ético, além de ser um caminho para fugir do descontrole financeiro. “Eu percebi que realmente era viciada em comprar roupas e que, além disso ser prejudicial para o meu bolso, era também para o planeta”, afirma.  

Foi esvaziando o guarda-roupa que Keloane encontrou as peças para as vendas. “Eu retirei duas malas de roupas e ainda acho que ele está cheio”.  O Sopa Vintage não tem loja física, mas as vendas online são direcionadas para todo o Brasil. O maior foco da loja virtual está nas roupas, mas nada que impeça Keloane de vender outras coisas, como assessórios, por exemplo. 

Desapego
O nome não nomeia apenas o brechó da Edilaine Silva, 35, mas também a sua personalidade. Totalmente desapegada, ela reúne em dois grupos no Facebook milhares de pessoas como ela, a maioria mulheres. Nos grupos Brechó do Desapego II e Desapegos Femininos a quantidade de membros ultrapassa os 44 mil, todos eles dispostos a comprar, vender e trocar. 

Além disso, Laine, como é mais conhecida, também administra um grupo de desapego no Whatsapp e fez de seu perfil pessoal uma “página” mais fechada para as vendas. O trabalho nas redes já ocorre há mais de três anos e, desde que começou, ela tem praticado a troca e venda de suas próprias roupas sem sentimentalismo: “Eu nunca repito as roupas, uso uma vez e já vendo”, afirma. 

A princípio, Laine não imaginava que os brechós online dariam tão certo. Tudo começou quando ela se viu cheia de roupas G e GG que não as serviam mais. Como a internet oferece um contato “ilimitado” com pessoas de todos os lugares, ela imaginou que poderia encontrar alguém que compartilhava os mesmos gostos que ela, além de vestir os tamanhos citados. Não deu outra. Hoje ela tira em média R$ 1.000 com as vendas. 

As negociações podem ser feitas por qualquer membro. Tudo é compartilhado! Qualquer pessoa pode anunciar, vender, trocar, comprar. Laine explica que as pessoas têm procurado cada vez mais os brechós e participado desse movimento de desapego, além disso, “aquela história de que roupas de brechós eram velhas ou de defuntos já virou lenda”. “É a maneira mais econômica de você andar linda e atualizada”, completa a comerciante. 

Consumo
E desse assunto Anne Magalhães Rodrigues, 24 anos, entende bem. Desde o ano de 2011, ela visita os brechós do Centro de Goiânia por serem lugares que apresentam peças únicas, diferentes e, um dos aspectos mais importantes, baratas. Ela explica que nesse meio tempo chegou a abrir o brechó virtual Baú para vender e prestar uma espécie de consultoria também, a pessoa solicitava a peça e ela fazia um garimpo pelos brechós apresentando opções e preços. 

Baú foi ficando pequeno para o número de clientes que chegavam e Anne teve que pausar o projeto para se dedicar ao trabalho em agência e faculdade. No entanto, os estudos sobre empreendedorismo e consumo sustentável não pararam e ela pretende voltar ao brechó virtual em breve.

O aumento pela procura dos brechós, também devido à crise econômica, é explicado por Anne como uma adoção crescente do consumo sustentável, além disso, ela fala da importância das discussões atuais que envolvem o empoderamento feminino. “As mulheres querem mais liberdade de escolha, e o poder de consumir segundo suas necessidades, renda e convicções (no consumo consciente, por exemplo)”, afirma a estudante.

E consumo consciente é tema bem conhecido pela Keloane também. A publicitária escreve no blog Consumenos (www.consumenos.com.br), onde ela fala de sustentabilidade, produção consciente, slow fashion, economia colaborativa, entre outros temas. Sobre os brechós, ela afirma que as vantagens não existem apenas para quem compra ou vende, a natureza também é beneficiada, pois se evita o uso de recursos para produzir roupas novas. Para fazer uma camisa de algodão, por exemplo, gasta-se 2.500 litros, uma calça jeans é fabricada com quase 11 mil.

Desapegue do preconceito!
A pessoa tem todo o direito de escolher onde comprar, e não visitar um brechó é uma opção. Mas desprezar as roupas simplesmente por não serem totalmente novas pode ser um erro, um erro corrigível. O ideal mesmo é conhecer, visitar brechós, garimpar e descobrir peças incríveis. A mãe de Keloane é um exemplo: “Ela achava super estranho eu chegar em casa com roupas de brechós, mas de tanto ver que as peças eram de qualidade e são verdadeiros achados, ela se transformou na rainha do garimpo”, brinca a filha. 

E mesmo que o preconceito ainda exista, o público de brechós está cada vez mais diverso. “São diferentes perfis. Eu não vejo aquele estereótipo de comprador mais hipster e com um gosto mais vintage”, afirma a publicitária. É o que nota também a Cristiane Rodrigues, 35, ela trabalha com a mãe no Breshop, localizado na Avenida Paranaíba, em Goiânia. Segundo ela, o público está bem variável e aparecem pessoas com situação econômica da mais alta pra mais baixa. 

Paixão
Milla Coutinho é dona do Milla Fashion Elshaday, também localizado na Paranaíba. Ela começou o negócio há nove anos movida pela paixão. “Eu sempre gostei de customizar as peças. Eu amo brechó, é uma área que você tem que gostar do que faz”, diz. Milla prova que os brechós não são feitos apenas de desapego e, que às vezes, desapegar não é uma tarefa tão fácil. É um lugar com muito sentimentalismo, seja de quem compra ou de quem vende. “Você desfaz daquilo que não gosta e compra aquilo que te agrada”. 
 

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