Associação ensina balé para cegos em São Paulo

Além dos passos, as alunas aprendem sobre igualdade e autoestima

Postado em: 22-09-2016 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Além dos passos, as alunas aprendem sobre igualdade e autoestima

Um riso frouxo de vergonha por conta de um desequilíbrio aqui e outro lá. A coragem de querer girar para concluir um fouett com exatidão e o medo de não sair tudo perfeito. Essas foram algumas das impressões e sentimentos capturados durante aula de balé para deficientes visuais na Associação de Ballet para cegos Fernanda Bianchini. Localizada na Vila Mariana, em São Paulo, a escola é a primeira e única escola de balé para cegos no mundo. 
Comandada pela bailarina Fernanda Bianchini, a associação não é apenas sobre dança. É um espaço de igualdade, de coragem, Em 1998, aos 15 anos, Fernanda recebeu o convite para dar aulas no Instituto de Cegos Padre Chico. As palavras de incentivo do pai foram o que a motivou a aceitar o convite: “Filha, nunca diga não para um desafio, pois são sempre destes que partem os maiores ensinamentos das nossas vidas”.
Apesar de não saber como ensiná-las e, até então, nunca ter contato com deficientes visuais, desenvolveu um método próprio baseado no toque e na percepção corporal. Os cegos costumam olhar para o chão e o balé exige uma postura que mire o horizonte. Assim, a professora diz às alunas que elas devem olhar para as estrelas, mesmo que não as enxerguem. E assim, elas alcançam todo aquele brilho.
Dar aulas tão jovem e para um público bem específico certamente trouxe muita responsabilidade e uma super maturidade que Fernanda carrega até hoje. “Meu maior aprendizado foi a enxergar o mundo com os olhos do coração. Com certeza a partir disso eu aprendi a enxergar um mundo mais bonito, com mais significado e mais inclusivo”. Mas, para ela, a inclusão só acontecerá verdadeiramente quando um se colocar no lugar do outro, que é uma das premissas da entidade, fundada em 2003.
Com o preconceito e um monte de obstáculos pelo caminho, o local acaba sendo muito mais do que um lugar para se aprender balé. “Às vezes as crianças chegam aqui com muitos problemas de vida mesmo, problemas sociais. Acredito que a gente tem que ensinar o balé e também a dança da vida, sabe? É um acolhimento além”. As mães também são acolhidas como gostariam de ser, assim como os filhos e filhas, porque a sociedade não recebe uma pessoa com deficiência desta mesma forma.
A dança envolve tanta coisa boa. Postura, equilíbrio, noção de espaço, sociabilização, autoconfiança, autoestima são só alguns dos benefícios. Ali se forma uma grande família que só soma, nunca subtrai. A música clássica embala as bailarinas de baixa ou nenhuma visão ao redor do salão que, sem elas, pouca luz tem.
As aulas para as mais de 200 pessoas são gratuitas e misturadas, incluindo alunos com e sem deficiência que aprendem juntos. O que as separa são apenas o nível da dança, evoluindo de acordo com a idade. Além do balé clássico também há exercícios de pilates, fisioterapia e cursos de teatro, sapateado, dança do ventre, dança de salão e danças para a terceira idade.

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