Delegacia não é acolhedora para 42% da população

Maioria dos brasileiros acredita que legislação protege estupradores. Pesquisa foi divulgada ontem pelo Datafolha

Postado em: 22-09-2016 às 06h00
Por: Redação

A delegacia da Mulher foi criada na década de 1980 para oferecer um ambiente acolhedor para que as mulheres se sentissem seguras ao denunciarem casos de violência. Para 42% da população brasileira, as mulheres não encontram acolhimento nestes locais. O dado foi encomendado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e divulgado ontem (21) pelo Datafolha. O levantamento mostra a percepção dos brasileiros em relação à violência sexual em diversos pontos.
Para a titular da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher de Goiás (Deam), Ana Elisa Gomes Martins, a pesquisa concede informações para que o serviço prestado à população seja aprimorado. “Não podemos ignorar que a maior parte da população acredita que ambiente é acolhedor e que a Polícia Civil atende as mulheres com cuidado”, afirma a delegada. Em Goiás, diz Ana Elisa, a equipe da Deam tenta trazer cada vez mais a sensibilidade para o atendimento. Para que as vítimas tenham liberdade para contar suas histórias, a maior parte da equipe da Deam é composta por mulheres.
De acordo com Ana Elisa, neste ano foram registrados 73 estupros em Goiânia. Destes, 85% foram cometidos por desconhecidos, o que compreende a maior parte das denuncias também, pois nestes casos as mulheres costumam buscar ajuda médica. “Toda violência sexual precisa ser denunciada para que os números de casos sejam reduzidos. Por isso, trabalhamos para que as vítimas sintam-se acolhidas e os autores condenados por suas práticas”, diz a delegada. 

Legislação
No ano em que se comemoram os dez anos de vigência da Lei Maria da Penha, 53% dos brasileiros acreditam que a legislação protege estupradores. No Brasil a pena para o crime de estupro varia entre 6 e 12 anos, podendo chegar a 30 anos, a maior pena prevista no ordenamento jurídico brasileiro, em caso de morte da vítima. De acordo com dados do 9º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, foram registrados 47.646 casos de estupro em todo o país em 2014; o que significa um estupro a cada 11 minutos.

Um terço dos brasileiros acredita que vítima é culpada
A pesquisa aponta ainda que de cada dez brasileiros, três acreditam que o comportamento da mulher e a forma como ela se veste contribui para que o estupro aconteça. De acordo com o levantamento, 42% dos homens concordam com a afirmação de que “mulheres que se dão ao respeito não são estupradas”, enquanto 63% das mulheres discordam.
A secretária Municipal de Política para Mulheres, Teresa Sousa, afirma que os dados da pesquisa refletem que a sociedade brasileira é conservadora e preconceituosa. “Pesquisas não mostram exatamente a realidade, mas o recorte aponta a necessidade de avançarmos nas discussões e ações em relação ao empoderamento da mulher”, explica Teresa. 
Presidente interina do Centro de Valorização da Mulher Consuelo Nasser (Cevam), Dolly Soares, destaca que a quantidade de pessoas que responsabilizam as mulheres pelo estupro é menor entre os jovens. “A juventude pensa diferente e, com isso, percebemos a mudança de pensamento da população brasileira. Isso mostra que precisamos investir em educação”, aponta a presidente do Cevam. 

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