Um crime cibernético é registrado por mês em Goiás

A popularização da internet no Brasil ocorreu na década de 1990 e os crimes cibernéticos ganharam força a partir de 2000

Postado em: 09-01-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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A popularização da internet no Brasil ocorreu na década de 1990 e os crimes cibernéticos ganharam força a partir de 2000

Renan Castro

Viver sem internet hoje em dia é uma realidade inimaginável para todos os setores da sociedade. O encurtamento das distâncias e as possibilidades de realizar serviços outrora impossíveis de serem concluídos em pouco tempo impactou significativamente a forma de viver no meio social. E as facilidades não foram só para o bem, mas também para a criminalidade.

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Os crimes cibernéticos, praticados por meio da rede mundial de computadores, tomaram conta do mundo virtual e já causaram prejuízos para muitas pessoas. Crimes financeiros, pornografia infantil, invasão de sistemas privados e divulgação de imagens íntimas já ganharam manchetes por todo o mundo.

De acordo com dados de 2015 do Centro de Estudos, Resposta e Tratamento de Incidentes de Segurança no Brasil (Cert), os crimes virtuais cresceram 500% em todo o País e registraram 467.621 casos. Segundo informações da Secretaria de Segurança Pública e Administração Penitenciária de Goiás (SSPAP-GO), em 2016, o Estado registrou 11 ocorrências de crimes cibernéticos, um número alto se comparado com os últimos cinco anos que registraram apenas duas.

Em 2011, uma gestora de Recursos Humanos, que prefere não se identificar, almoçava tranquilamente no intervalo do serviço, em Goiânia. No horário do almoço tudo corria de acordo com a normalidade do cotidiano até o celular dela tocar. Aqui a chamaremos pelo nome fictício de “Aline”. Acostumada a receber ligações devido ao trabalho que requer muita interatividade, Aline mal sabia que aquele era o começo de um trauma impossível de esquecer. O sujeito do outro lado da linha queria saber em qual horário ela estava disponível para realizar programas. 

Aline não entendeu a situação e desligou o celular. Mas as ligações passaram a ocorrer todos os dias e de diferentes pessoas em várias partes do País. “Então, tive a ideia de perguntar para uma dessas pessoas onde ela encontrou meu número. Um homem disse que foi em um anúncio na internet que estava categorizado como garota de programa. Ele me deu o endereço do site e vi que lá estavam minhas fotos, dados pessoais, além do número do meu celular”, relembra. O site estava hospedado nos Estado Unidos e havia uma empresa responsável pela manutenção no Brasil. Aline registrou um boletim de ocorrência, mas foi informada que as investigações não tinham data para serem concluídas. Logo após, ela entrou na justiça e conseguiu que o anúncio fosse retirado. O problema é que os dados continuavam em cache e bastava uma pesquisa com nome dela no Google que os dados apareciam no buscador.

O marido de Aline conseguiu descobrir o endereço de IP do computador de onde foram divulgados os dados. Ao final, após a quebra de sigilo dos computadores desta empresa, ficou claro que uma das funcionárias foi quem praticou o crime contra Aline. A gestora, ao tentar mover uma ação contra a mulher que divulgou suas imagens, descobriu que ela já havia pedido demissão e não quis procurá-la e nem processar a empresa.

Ransomware 

O técnico em informática Antônio (nome fictício) teve os dados da sua empresa sequestrado por criminosos recentemente. Ele conta que precisou pagar para que as informações fossem devolvidas. “Cheguei para trabalhar e não consegui abrir o sistema. Aí recebi uma mensagem de que eu deveria pagar uma quantia considerável para que eu tivesse os dados de volta”, recorda. Antônio afirma que procurou a polícia, mas a demora nas investigações o desestimulou e fez com ele resolvesse pagar o resgate dos dados. O ataque que Antônio sofreu é conhecido como ransomware, um tipo de código malicioso que torna inacessíveis os dados armazenados em um equipamento. Geralmente, os criminosos usam a criptografia e exigem pagamento de resgate para restabelecer o acesso ao usuário.

O perito em computação forense Diego Elcain diz que já atendeu várias empresas que sofreram esse tipo de ataque. Ele afirma que a cada dia que passa surge uma forma nova de invadir um sistema e as normas técnicas de segurança internacional não estão adiantando por que protegem apenas o que é tangível. “O que as grandes empresas têm focado é em resiliência, ou seja, a capacidade de recuperar seu sistema o mais rápido possível e minimizar o prejuízo”, explica.

Delegacia especializada

Rafael Fernandes Maciel, presidente da Comissão de Direito Digital e Informática da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-GO) afirma que roubo de dados são de difícil solução e a falta de uma delegacia especializada em crimes cibernéticos em Goiás dificulta as investigações. “Existe um pessoal qualificado, mas como esses crimes são complexos é necessário que exista uma delegacia para investigar especialmente esses crimes”, pondera.

A Polícia Civil (PC) revela que crimes cibernéticos geralmente estão ligados a outros como estelionato. A PC destaca também que o número de ocorrências registradas nos últimos anos é muito pouco para que seja criada uma delegacia especializada. O órgão afirma ainda que todos os boletins são investigados e a demora é devido a grande demanda do departamento de informática que atende todo o estado de Goiás.

Em 2013 entrou em vigou a Lei nº 12.737/12, chamada de Carolina Dieckmann, e tornou crime a invasão de aparelhos eletrônicos para obtenção de dados particulares. A pena varia de seis meses a dois anos de detenção e multa para quem cometer esse tipo de crime.

 Foto: reprodução

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