Entulhos invadem região do reservatório João Leite

Na Avenida Militar, lixo de toda espécie é observado na via e coloca em risco qualidade da água do reservatório

Postado em: 20-01-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Entulhos invadem região do reservatório João Leite
Na Avenida Militar, lixo de toda espécie é observado na via e coloca em risco qualidade da água do reservatório

Renan Castro

Principal garantia de abastecimento de Goiânia e a Região Metropolitana, o Ribeirão João Leite ainda está longe ter sua área totalmente preservada. O Decreto Estadual nº 5.704/2002 criou a Área de Proteção Ambiental (APA) João Leite, abrangendo toda a bacia hidrográfica do Ribeirão, em Goiânia, Terezópolis de Goiás, Goianápolis, Nerópolis, Anápolis, Campo Limpo, Ouro Verde de Goiás e nas águas jurisdicionais. Contudo, o manancial corre risco de degradação a todo o momento.

Em uma das áreas de proteção ambiental, próxima ao reservatório João Leite, em Goiânia, a reportagem de O Hoje avistou uma grande extensão de entulhos de toda espécie. A sujeira começa no final da Avenida Militar, no setor Jardim Guanabara, e continua por mais de dois quilômetros. Nos dois lados da via, é possível observar sofás, vasos sanitários, entulhos de construção, vidros, colchões. É uma infinidade de lixo e, em alguns pontos, o amontoado de sujeira chegar a ficar mais alto do que uma pessoa em pé. O intrigante é que nesta via, já no trecho da zona rural, em vários locais, inúmeras placas da Polícia Militar garantem que a área é monitorada. Não é o que parece. O entulho, em pouco tempo, chegará até o reservatório se continuar no ritmo em que está.

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De acordo com o Luziano Carvalho, titular da Delegacia Estadual de Repressão a Crimes contra o Meio Ambiente (Dema), a vida útil do reservatório é de 25 anos. Ele discorda dessa forma de avaliar a capacidade de abastecimento. “Se ficar medindo em idade não vai ter de onde tirar água daqui uns anos quando Goiânia atingir 3 milhões de habitantes. O que temos de focar é na recuperação de todo o Ribeirão e isso é uma tarefa fácil”, garante.  

Segundo a Dema, cerca de cinco construções próximas ao reservatório João Leite, em Goiânia, foram embargadas pela justiça e estão paralisadas. Isso é um problema para a região já que, conforme Luziano, tudo o que for construído próximo ao João Leite precisa de licença que só é concedida após avaliação dos riscos para o manancial. Ou seja, nenhuma intervenção humana deveria ocorrer se os impactos de qualquer ação são iminentes. 

Em todo o estado, de acordo com Luziano, a Dema recebe 10 ocorrências por dia de degradação do Ribeirão João Leite no período da seca – que vai de maio a setembro. O delegado ressalta que os principais problemas do manancial são fogo e entulho.

A Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg) informou que a Avenida Militar é um local onde a população descarta, constantemente, lixo e entulho. O órgão afirmou que faz a limpeza, mas em pouco tempo está cheio de lixo novamente. A Comurg garantiu que enviará uma equipe ao local e providenciará a limpeza.

Responsável por fiscalizar questões sobre o reservatório João Leite em Goiânia, a Agência Municipal do Meio Ambiente (AMMA) informou que não há ninguém para responder sobre o assunto. O órgão justificou que o presidente ainda não foi nomeado e a assessoria de comunicação também não tem funcionários. 

“Conscientização tem que vir de cima”, afirma Dema 

O desperdício de água é um assunto que ainda não é tratado com a devida importância em todo o mundo. E a forma como se busca conscientizar sobre o consumo ocorre de maneira equivocada e genérica. A famosa afirmação científica de que a água potável do planeta irá acabar nunca foi tão verdadeira quanto agora e também tão ignorada. 

O delegado Luziano de Carvalho pondera que a conscientização acerca do Ribeirão João Leite “deve vir de cima”. Ele explica que não basta os órgãos públicos tentarem educar a população e praticarem atitudes erradas. “A dona de casa que toma banho todos os dias, muitas vezes, é educada a gastar pouca água no banho. Então, ela deixa de tomar seu banho direito para evitar o desperdício. Enquanto isso, não muito longe da residência dela, um agricultor gasta milhões de litros de água por dia. Isso está errado. O consumo residencial nem se compara com o que é gasto em indústrias e lavouras”, exemplifica. 

Ao todo, o manancial possui 491 nascentes distribuídas em todos os municípios por onde passa. Luziano garante que deste total, 150 já estão totalmente preservadas e afirma que o produtor rural, em vez de ser o vilão, precisa compreender que as nascentes são um patrimônio natural. 

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