Violência contra idosos cresce em Goiás

Em 2016, o número de ocorrências teve aumento de mais de 300% em comparação com 2015

Postado em: 04-02-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Em 2016, o número de ocorrências teve aumento de mais de 300% em comparação com 2015

Renan Castro

O envelhecimento é algo quase inevitável para todos os seres humanos. Após os 30 anos, começamos a sentir o peso da idade rondar todo o corpo e também a mente. Ficamos mais vulneráveis. E nada mais justo do que estarmos cercados por pessoas possam nos auxiliar em tarefas que já não poderemos realizar sozinhos, além de nos livrar de um momento que perturba a todos que temem a velhice: a solidão. 

Todavia, nem sempre seremos tratados com o respeito que deveria ser dirigido à pessoa idosa. E pode ser que sejamos agredidos por nossos próprios filhos. Essa é a realidade de milhares de idosos por todo o mundo. Para conseguir atender a demanda crescente de crimes contra idosos em Goiânia foi criada a Delegacia Especializada no Atendimento ao Idoso (Deai), em março de 2016. Comandada pela delegada Ana Lívia Batista, a Deai conta com sete policias, ao todo, quatro viaturas e uma moto.

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De acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública e Administração Penitenciária de Goiás (SSPAP-GO), em todo o estado, registrou-se 269 ocorrências em que foram aplicadas o Estatuto do Idoso no de 2015. Já no ano passado, o total registrado é preocupante. O número subiu para 976 ocorrências, ou seja, mais de 300% de aumento. Em Goiânia, 76 ocorrências foram registradas em 2015 e número saltou para 742 em 2016.

Crimes

Desde que a delegacia foi criada, as principais ocorrências registradas são de crimes como exploração financeira, agressão física e verbal. Até dezembro do ano passado, segundo a delegada, aproximadamente 300 inquéritos foram finalizados e remetidos ao poder Judiciário. “Na maioria das vezes, os acusados negam o crime e afirmam que não fizeram nada”, revela Ana Lívia. Ela afirma que a violência dos casos impressiona. No segundo semestre de 2016, conforme a delegada, uma idosa de 102 anos era explorada por um familiar. Em outro caso, uma enfermeira agredia verbalmente uma idosa de quem ela deveria cuidar. “Os familiares instalaram câmeras na residência que registraram as agressões”, completa Ana Lívia. 

De acordo com a delegada, o aumento no número de ocorrências em Goiânia é um reflexo da atuação da Deai. “A demanda cresceu bastante depois que foi criada a Deai. Contudo, isso não quer dizer que os crimes aumentaram. Os idosos é que passaram a enxergar mais a delegacia devido ao grande número de casos solucionados”, explica. Ana Lívia afirma que as denúncias recebidas pela delegacia, em grande parte, são anônimas e as ferramentas utilizadas para incentivar que crimes contra idosos sejam denunciados foram fundamentais. “Nós temos Whatsapp, um perfil no Facebook, e qualquer pessoa pode denunciar. Por meio destas redes conseguimos imputar responsabilidade a vários autores de violência contra idosos. E quando a denúncia é anônima, obrigatoriamente vamos ao local verificar”, conta.

Resistência

A maioria dos casos de agressão física e verbal atendidos pela Deai envolve idosos que sofrem a violência por parte dos próprios familiares. Alguns, com dificuldade de locomoção e fala, ficam impossibilitados de expor o crime a alguém. Com isso, a denúncia é algo que precisa partir de pessoas que estão de fora e percebem alguma coisa. Desta forma, a delegada Ana Lívia ressalta a importância de um vizinho, por exemplo, acionar a delegacia caso note algo parecido. 

Outra ponto importante e que necessita de um trabalho muito mais cauteloso diz respeito a resistência de idosos em afirmar que, de fato, sofre qualquer tipo de agressão ou exploração. “Quando o agressor é um familiar a situação é mais difícil. O idoso resiste em denunciar, por exemplo, que seu filho o agride. Em vista deste tipo de situação, temos uma equipe que auxilia o idoso. Vale ressaltar também que os crimes são sempre muito chocantes uma vez que a vítima é muito vulnerável”, revela a delegada. Ela destaca também que quando as ocorrências envolvem o Estatuto do Idoso, basta que sejam reunidas provas para que o agressor seja indiciado.

Sensibilidade

Ouvir que as pessoas precisam “ter estômago” para aguentar seguir certas profissões como, por exemplo, médicos, jornalistas, policiais, fazem parte do senso comum do meio social em que vivemos. Esses estereótipos e todos os tipos de afirmações esdrúxulas derivam do fato de esses profissionais lidarem diariamente com a violência. Todavia, um dos pontos fundamentais é todos saberem que o princípio de qualquer profissão é a responsabilidade. E para isso, só estômago não basta. 

“A Deai trabalha para solucionar violência contra idosos. Não estamos acostumados com esse tipo de crime. Muito pelo contrário, ficamos bastante sensibilizados. Ainda mais quando o agressor é um parente da vítima”, confessa Ana Lívia. 

“Conflito familiar é comum”, afirma delegada 

Em alguns casos atendidos pela Deai, a investigação já concluiu que a denúncia era infundada. A delegada Ana Lívia afirma que, como a pessoa que faz a denúncia tem resguardado o seu direito de anonimato, muitos se aproveitam para tentar se vingar de algum parente com quem tem uma rixa, por exemplo. 

“Tem vez que verificamos que o problema nem sempre é apenas agressão ao idoso, mas um ambiente familiar conturbado. Uma briga entre parentes faz com que um ou mais deles tente incriminar a pessoa que cuida do idoso. E isso, muitas vezes, por que essa pessoa é quem administra a aposentadoria”, revela.

Como o conflito entre familiares é muito prejudicial ao idoso, a delegada ressalta que sempre conta com apoio de psicólogos e da Secretaria Municipal de Assistência Social de Goiânia (Semas). Ana afirma ainda que a Deai atende exclusivamente denúncias que envolvem o Estatuto do Idoso e qualquer outro boletim diferente deve ser registrado na delegacia especializada para o tipo de ocorrência.

Fraude

Um estudo feito pela Serasa para descobrir quem são as pessoas com alta propensão de ser vítima de fraude revelou quais brasileiros tem mais chances de serem vítimas do roubo de identidade e ter os dados usados por criminosos para obterem crédito com a intenção não pagar. 

De acordo com os dados, a alta chance de idosos sofrer golpes foi a que mais cresceu de 2014 a 2016. O total de 36,5%, no primeiro semestre de 2014, deu um salto para 43,6%, no mesmo período de 2016. Dentro da categoria de pessoas acima de 60 anos, o sexo masculino representa a maioria (71,6%). 

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