Mulheres trabalham 7,5 horas a mais que homens devido à dupla jornada

O estudo é feito com base em séries históricas de 1995 a 2015 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad)

Postado em: 06-03-2017 às 14h00
Por: Toni Nascimento
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O estudo é feito com base em séries históricas de 1995 a 2015 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad)

As
mulheres trabalham, em média, 7,5 horas a mais que os homens por semana devido
à dupla jornada, de tarefas domésticas e trabalho remunerado. Apesar da taxa de
escolaridade delas ser mais alta, a jornada também é.

Os
dados estão destacados no estudo Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça,
divulgado hoje (6) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O
estudo é feito com base em séries históricas de 1995 a 2015 da Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística.

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Em
2015, a jornada total média das mulheres era de 53,6 horas, enquanto a dos
homens era de 46,1 horas. Em relação às atividades não remuneradas, a proporção
se manteve quase inalterada ao longo de 20 anos: mais de 90% das mulheres
declararam realizar atividades domésticas; os homens, em torno de 50%.

“A
responsabilidade feminina pelo trabalho de cuidado ainda continua impedindo que
muitas mulheres entrem no mercado de trabalho e, ao mesmo tempo, aquelas que
entram no mercado continuam respondendo pela tarefas de cuidado, tarefas
domésticas. Isso faz com que a gente tenha dupla jornada e sobrecarga de
trabalho”, avaliou a especialista em políticas públicas e gestão governamental
e uma das autoras do trabalho, Natália Fontoura.

Ela
explicou que a taxa de participação das mulheres no mercado de trabalho
aumentou muito entre as décadas de 1960 e 1980, mas que nos últimos 20 anos
houve uma estabilização. “Parece que as mulheres alcançaram o teto de entrada
no mercado de trabalho. Elas não conseguiram superar os 60%, que consideramos
um patamar baixo em comparação a muitos países”, disse.

Chefes
de família e mulheres negras

O
estudo observou ainda que aumentou o número de mulheres chefiando famílias. Em
1995, 23% dos domicílios tinham mulheres como pessoas de referência. Vinte anos
depois, esse número chegou a 40%.

As
famílias chefiadas por mulheres não são exclusivamente aquelas nas quais não há
a presença masculina: em 34% delas havia a presença de um cônjuge. “Muitas
vezes, tais famílias se encontram em maior risco de vulnerabilidade social, já
que a renda média das mulheres, especialmente a das mulheres negras, continua
bastante inferior não só à dos homens, como à das mulheres brancas”, diz o
estudo.

O
Ipea verificou a sobreposição de desigualdades com a desvantagem das mulheres
negras no mercado de trabalho. Segundo Natália, apesar de mudanças importantes,
como o aumento geral da renda da população ocupada, a hierarquia salarial –
homens brancos, mulheres brancas, homens negros, mulheres negras – se mantém.

“A
desvantagem das mulheres negras é muito pior em muitos indicadores, no mercado
de trabalho em especial, mas também na chefia de família e na pobreza. Então, é
quando as desigualdades de gênero e raciais se sobrepõem no nosso país”, disse,
destacando que a taxa de analfabetismo das mulheres negras é mais que o dobro
das mulheres brancas. Entre os homens, a distância é semelhante.

Menos
jovens domésticas

O
Ipea destacou também a redução de jovens entre as empregadas domésticas. Em
1995, mais de 50% das trabalhadoras domésticas tinham até 29 anos de idade
(51,5%); em 2015, somente 16% estavam nesta faixa de idade. Eram domésticas 18%
das mulheres negras e 10% das mulheres brancas no Brasil em 2015.

“Nesse
últimos 20 anos, podemos ver algumas tendências interessantes, como o aumento
da renda das trabalhadoras domésticas. Só que, ainda assim, em 2015, a média do
Brasil não alcançou nem o salario mínimo”, disse Natália. Em 2015, a renda das
domésticas atingiu o valor médio de R$ 739,00 em 2015, enquanto o salário mínimo,
à época era de R$ 788,00.

O
número de trabalhadoras formalizadas também aumentou, segundo o Ipea. Em 1995,
17,8% tinham carteira e em 2015, a proporção chegou a 30,4%. Mas a análise dos
dados da Pnad mostrou uma tendência de aumento na quantidade de diaristas no
país. Elas eram 18,3% da categoria em 1995 e chegaram a 31,7% em 2015.

Escolaridade
entre raças

Segundo
o Ipea, nos últimos anos, mais brasileiros e brasileiras chegaram ao nível
superior. Entre 1995 e 2015, a população adulta negra com 12 anos ou mais de
estudo passou de 3,3% para 12%. Entretanto, o patamar alcançado em 2015 pelos
negros era o mesmo que os brancos tinham já em 1995. A população branca com o
mesmo tempo de estudo que a negra praticamente dobrou nesses 20 anos, variando
de 12,5% para 25,9%.

O
estudo Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça está disponível no site do
Ipea. 

(Agência Brasil)

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