Frigoríficos são acusados de vender carne estragada

A Polícia Federal cumpre em Goiás mandados judiciais da Operação Carne Fraca. As investigações apuram o envolvimento de fiscais em um esquema de liberação de licenças

Postado em: 18-03-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Frigoríficos são acusados de vender carne estragada
A Polícia Federal cumpre em Goiás mandados judiciais da Operação Carne Fraca. As investigações apuram o envolvimento de fiscais em um esquema de liberação de licenças

WILTON MORAIS 

Visando desarticular organizações criminosas lideradas por fiscais agropecuários federais e empresários do agronegócio, a Polícia Federal deflagrou, na sexta-feira (17), a operação Carne Fraca. A operação expediu a prisão preventiva do vice-presidente da BRF José Roberto Pernomian Rodrigues, do gerente de Relações Institucionais do Grupo BRF Roney Nogueira dos Santos e do executivo do grupo JBS Flávio Cassou.

Também foi determinado o bloqueio de até R$ 1 bilhão das contas de 46 investigados, além de buscas na sede da JBS. De acordo com PF, a operação é considerada a maior na historia da corporação. Foram expedidos 194 mandatos judiciais de busca e apreensão em residências e locais de trabalho dos investigados e em empresas supostamente ligadas ao grupo criminoso, 27 mandatos de prisão preventiva, 11 de prisão temporária e 77 de condução coercitiva. O que totaliza 309 mandados judiciais expedidos pela 14ª Vara da Justiça Federal de Curitiba/PR.

Continua após a publicidade

Ao todo são sete estados brasileiros envolvidos na operação: Goiás, Distrito Federal, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Santa Catarina. Segundo a apuração da Polícia Federal, as Superintendências Regionais do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) do Estado do Paraná, Minas Gerais e Goiás atuavam diretamente protegendo grupos empresariais em detrimento do interesse público. As investigações duraram aproximadamente dois anos. 

Para atender interesses dos grupos empresariais no âmbito do serviço público, agentes públicos eram removidos, com desvio de finalidade. Dessa forma, a conduta permitia a continuidade do delito em frigoríficos e empresas do ramo alimentício. Para a PF, o grupo atuava com total desrespeito à legislação vigente. Com o pagamento de propina, os agentes públicos, responsáveis por fiscalização atuavam para facilitar a produção de alimentos adulterados. Os servidores emitiam certificados sanitários sem fiscalização efetiva. 

A operação “Carne Fraca” é uma a alusão à conhecida expressão popular em sintonia com a própria qualidade dos alimentos fornecidos ao consumidor. O nome também demonstra uma fragilidade dos agentes públicos federais. 

Em nota, o grupo JBS destaca que adota “rigorosos padrões de qualidade” para garantir a segurança alimentar de seus produtos. “A companhia repudia veementemente qualquer adoção de práticas relacionadas à adulteração de produtos – seja na produção e/ou comercialização – e se mantém à disposição das autoridades com o melhor interesse em contribuir com o esclarecimento dos fatos”, diz o texto.

Segundo a empresa, a ação deflagrada atingiu três unidades da companhia – duas no Paraná e uma em Goiás. A JBS ressalta que “não há nenhuma medida judicial contra os seus executivos”.

Também em nota oficial, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, diz que, diante dos fatos narrados na operação, decidiu cancelar a sua licença de 10 dias do ministério. “Estou coordenando as ações, já determinei o afastamento imediato de todos os envolvidos e a instauração de procedimentos administrativos”, informou. “Todo apoio será dado à PF nas apurações. Minha determinação é tolerância zero com atos irregulares no ministério”, acrescentou.

O Ministério da Justiça também divulgou nota depois que a operação foi deflagrada. O texto afirma que a menção ao nome de Osmar Serraglio na investigação é uma prova de que o ministro não vai interferir no trabalho da Polícia Federal.

Veja Também