Quinta-feira, 28 de março de 2024

Sinal vira local de trabalho para pessoas nas ruas

Segundo a Secretaria de Desenvolvimento Humano, Capital conta com 1,2 mil pessoas em situação de rua.

Postado em: 08-05-2021 às 08h13
Por: João Paulo
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Segundo a Secretaria de Desenvolvimento Humano, Capital conta com 1,2 mil pessoas em situação de rua | Foto: Reprodução

Goiânia, assim como qualquer cidade grande, vive problemas em diversas áreas, como transporte, infraestrutura, segunda e no social. Com isso, acaba se tornando comum encontrar pessoas em situação de rua ou pessoas que fazem das ruas uma forma de subsistência. Dados da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Humano e Social (SEDHS) mostram que 40% das pessoas em situação de rua escolheram alguma via de Goiânia para se manterem.

O levantamento mostra que Goiânia tem cerca de 1,2 mil pessoas em situação de rua, incluindo pessoas que trabalham no sinaleiro e mendigos. Deste total, 40% são pessoas que têm as ruas como o seu lar, 30% são homens que trabalham em semáforos vendendo produtos para sobrevivência, 20% são mulheres com crianças que mendigam ou vendem balas nos sinaleiros e 10% são casais que decidiram trabalhar pelas ruas da cidade ou mendigam juntos com os filhos.

Uma pessoa que representa bem esses números é o Júnior. Muito tímido, ele não quis falar o sobrenome. A conversa foi fluindo quando ele foi se sentindo à vontade para contar a sua história difícil. Todos os dias, ele se encontra no cruzamento da Rua 1 com a Avenida Araguaia, no Centro de Goiânia, com um cartaz de papelão escrito: “Peço ajuda. Tenho filho! Toda ajuda é bem-vinda! Fé”. A frase traz a esperança de sensibilizar algum motorista que lhe dê dinheiro para sobreviver.

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Mas a vida de Júnior não era assim. Ele morava em Laguna, cidade que fica a 129 quilômetros de Florianópolis, capital de Santa Catarina. Segundo ele, era casado e tinha um filho, de 4 anos. Antes da pandemia, trabalhava em uma usina hidrelétrica nas proximidades da cidade. Porém, com a devastação do novo coronavírus, foi demitido e viu as contas apertando cada dia mais.

Não demorou muito para a pandemia causar danos em sua família. Nesse caso, as sequelas deixadas não são motoras ou físicas e, sim, psicológicas e contra a dignidade. O casamento começou a ruir com a dificuldade de arrumar emprego durante esse período e todas as despesas do lar ficaram sob a responsabilidade da esposa. Para tentar reverter essa situação, ele veio para Goiânia em busca de um emprego. Porém, a carteira de trabalho que era para estar assinada está se desgastando no bolso.

“É muito triste tudo isso, a gente não vê futuro e acaba ficando desanimado. Porém, eu tenho a esperança de encontrar um emprego. Eu estou tentando acertar com a minha mulher. Mas a situação não está fácil. E para gente que está nessa situação não é mais fácil ainda”, pontua.

Reflexos

Júnior tem apenas 28 anos. Mas os desgastes que a vida já lhe causou fazem com que ele aparenta ser mais velho. De maneira humilde, Júnior veste uma bermuda simples, camisa regata e chinelo de borracha. Apesar de tudo o que já passou, ele não se considera uma pessoa invisível na sociedade e explica o porquê. “Nós estamos em todos os lugares. Em muitos cruzamentos você vai encontrar uma pessoa pedindo ou vendendo algo. É uma situação que estamos passando e a pessoa nos enxerga, mas não querem nos acolher. O que é diferente”, conta.

Júnior destaca que, em um bom dia, ele consegue tirar R$ 40. Mas isso tem os seus perigos. Ele conta que dorme em um colchão estendido na região e, muitas vezes, é assaltado por usuários de drogas que também vivem nas ruas. Quando há a sorte de não ter o dinheiro roubado, esse valor acaba indo para necessidades básicas, como alimentação e banho. 

Ele conta que não recebeu nenhum auxílio da prefeitura para tentar reverter essa situação. “A gente também não sabe muito das coisas quando chegamos a um lugar novo. Eu não tenho parentes e não conheço ninguém por aqui. A escolha de Goiânia veio no sentido de sempre ouvir falar que aqui é bom de emprego. Mas ainda não consegui essa sorte”, desabafa.

Lugares de acolhimento

A SEDHS destaca alguns programas sociais que são realizados para acolher essas pessoas em situação de vulnerabilidade. Um deles é o Centro de Referência Especializado para a População em Situação de Rua (Centro Pop). Ele fica localizado na Alameda Botafogo, no Setor Central e é um espaço que oferece alimentações diárias, orientação sobre direitos, documentações e encaminhamentos aos demais serviços da proteção social básica e especial. Assim como as demais políticas públicas, instituições afins, conselhos tutelares, delegacias especializadas e demais serviços da rede de proteção dos direitos.

O serviço, segundo a Secretaria, é ofertado para pessoas que adotaram a rua como espaço de moradia ou sobrevivência. O espaço conta com recepção, cozinha, refeitório, banheiros com chuveiro, vestiários, lavanderia, salas de atendimento coletivo e individualizado. Os acolhidos no local recebem kit de higiene pessoal e alimentação. O local conta com uma equipe formada por coordenadores, assistentes sociais, psicólogos, advogados, educadores sociais, recepcionistas, técnicos administrativos e serviços gerais.

A secretaria também destaca o Serviço Especializado em Abordagem (SEAS), que consiste em uma forma continuada e programada com a finalidade de assegurar o trabalho social de abordagem e busca ativa que identifique, nos territórios, a incidência de trabalho infantil, exploração sexual de crianças e adolescentes, situação de rua e outras.

Para esse serviço, a prefeitura destaca que a equipe especializada conta com 19 educadores sociais e um coordenador que orienta, supervisiona e acompanha todo o trabalho. As equipes sempre atuam pela manhã nas ruas de Goiânia com o objetivo de convencer essas pessoas a saírem da rua e aceitaram ajuda e acolhimento. A pessoa que consentir é encaminhada para a Casa de Acolhida Cidadã ou instituições parceiras. Moradia, alimentação, higiene pessoal e atendimento psicossocial são alguns dos serviços prestados.

Além disso, a prefeitura destaca que há cinco equipes multidisciplinares que atendem às demandas da saúde da população em situação de rua com atendimentos presenciais. Esses serviços ocorrem de segunda à sexta-feira e são realizados em duas bases de atendimento: dentro dos Cais Vila Nova e Bairro Goiá. (Especial para O Hoje)

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