Segunda-feira, 01 de julho de 2024

Estudo prevê extinção de um terço de espécies nativas do Cerrado em 30 anos

A razão para isso é que há 4.600 espécies de plantas endêmicas no bioma, que não existem em nenhum outro lugar do planeta

Postado em: 23-03-2017 às 14h00
Por: Toni Nascimento
Imagem Ilustrando a Notícia: Estudo prevê extinção de um terço de espécies nativas do Cerrado em 30 anos
A razão para isso é que há 4.600 espécies de plantas endêmicas no bioma, que não existem em nenhum outro lugar do planeta

Estudo
internacional, coordenado por pesquisadores brasileiros e publicado hoje (23)
na revista Nature Ecology and Evolution, aponta perda significativa de espécies
nativas do Cerrado nos próximos 30 anos se o ritmo atual de desmatamento do
bioma continuar. A razão para isso é que há 4.600 espécies de plantas endêmicas
no bioma, que não existem em nenhum outro lugar do planeta. Os pesquisadores
projetam um quadro de extinções de espécies de grande magnitude se nada for
feito.

Eles
estimam que até 1.140 espécies podem desaparecer pelo desmatamento acumulado.
“Esse é um número oito vezes maior do que todas as espécies registradas como
extintas no mundo até hoje”, disse o coordenador da pesquisa, Bernardo
Strassburg. Desde o ano de 1.500, quando foram feitos os primeiros registros
das espécies de plantas no planeta, 139 foram declaradas oficialmente extintas.

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Segundo
Strassburg, o Cerrado já perdeu metade da área original. “Se tudo continuar no
cenário que a gente chama de tendencial, vai perder um terço do que sobrou nas
próximas três décadas”. O Cerrado já perdeu 88 milhões de hectares, o
equivalente a 46% da cobertura nativa.

Isso
gera problemas ambientais de diversas naturezas. A crise hídrica que a região
Centro-Oeste, como o Distrito Federal, passam no momento seria agravada pela
falta do bioma e também haveria a emissão de gases de efeito estufa de 8,5 bilhões
de toneladas de gás carbônico.“Isso tudo seria consequência direta do
desmatamento projetado para os próximos 30 anos”, diz.

Strassburg,
que é secretário-executivo do Instituto Internacional para a Sustentabilidade
(IIS) e coordenador do Centro de Ciências para a Conservação e Sustentabilidade
da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), destaca que o
Cerrado é um hotspot mundial de biodiversidade (região biogeográfica que é
simultaneamente uma reserva de biodiversidade e pode estar ameaçada de
destruição).

Mix
de políticas

A
pesquisa diz que esse cenário pode ser evitado sem comprometer o aumento da
produção agrícola programado, que projeta em torno de 15 milhões de hectares de
expansão de soja e cana-de-açúcar nos próximos 30 anos no Cerrado.

“Isso
tudo pode ocorrer, desde que aconteça para dentro de áreas que já foram
desmatadas, que hoje são utilizadas como pastagens de baixa produtividade. Você
melhora a produtividade de pastagens em outros locais, libera algumas pastagens
para soja e cana, faz toda essa expansão. Esses 15 milhões de hectares cabem
nessa metade do Cerrado que já foi desmatada sem necessitar fazer nenhum
desmatamento adicional”, ressalta.

Segundo
Strassburg, o Código Florestal Brasileiro estima que os fazendeiros terão que
restaurar 6 milhões de hectares, o equivalente a 6 milhões de campos de
futebol, caso queiram ficar em conformidade com a lei. O artigo da revista
mostra, ainda, que restaurar essa quantidade de vegetação nativa é bom, mas se
isso for feito nas áreas otimizadas para a proteção das espécies, se conseguirá
evitar 83% desse quadro projetado.

“Ou
seja, se você expande a agricultura para áreas já desmatadas e restaura o
Cerrado nas áreas mais importantes para as espécies, você consegue evitar 83%
do quadro projetado”, diz o pesquisador.

O
estudo cita um conjunto de oito políticas públicas e privadas existentes,
algumas em aplicação no Cerrado e outras na Amazônia. Mas sugere que algumas
delas, como o caso da Moratória da Soja, por exemplo, deveria ser estendida
para o Cerrado. O coordenador disse que esse mix de políticas precisa ser
coordenado entre si e financiado de forma apropriada.

Além
da Moratória da Soja, implantada na Amazônia, que praticamente eliminou a
conversão direta de áreas de floresta para o cultivo da soja na região, as
políticas em vigor incluem a expansão da rede de áreas protegidas, uma vez que
o Cerrado tem hoje menos de 10% de sua área protegida em unidades de
conservação. Strassburg diz que seria importante também o aumento do
financiamento para conservação, inclusive verbas oriundas de projetos de combate
às mudanças climáticas.

Além
disso, uma série de políticas nacionais, estaduais e municipais diretamente
focadas na preservação de espécies ameaçadas, devem ser fortalecidas. Ele citou
o plano de agricultura de baixo carbono, do Ministério da Agricultura, que
poderia ser implementado em escala maior, tendo a preocupação de orientar a
expansão da soja e da cana para áreas já desmatadas e melhorar a pecuária em
outras áreas.

Para
tudo isso funcionar, Strassburg afirma ser essencial que haja um planejamento
espacial estratégico para identificar as áreas que são prioritárias para a
conservação e restauração da vegetação nativa e as áreas onde a expansão da
agricultura teria menor impacto ao meio ambiente, além de serem boas para a
atividade agrícola.

O
estudo conta com a parceria dos ministérios do Meio Ambiente (MMA) e do
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.

O
diretor do Departamento de Conservação de Ecossistemas do MMA, Carlos Alberto
de Mattos Scaramuzza, é um dos autores do artigo, segundo o coordenador. Ele
espera que o trabalho seja útil para a formulação de políticas públicas ambientais
no país e também para mobilizar o apoio necessário para a preservação do
Cerrado.

(Agência Brasil) 

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