Perda do olfato é devido à inflamação do sistema nervoso

A inflamação sensorial provoca uma inflamação persistente do sistema nervoso olfatório.

Postado em: 22-05-2021 às 08h12
Por: Luan Monteiro
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A inflamação sensorial provoca uma inflamação persistente do sistema nervoso olfatório | Foto: Reprodução

A perda de olfato em pacientes com Covid-19 se deve à inflamação, aponta estudo feito pelo Instituto Pasteur, da França, publicado na revista Science Translational Medicine. Segundos os pesquisadores, a inflamação nos neurônios sensoriais “provoca uma inflamação persistente” do sistema nervoso olfatório. Perder parte do olfato está entre os principais sintomas da Covid-19 nos goianienses, de acordo com o boletim da Secretaria Municipal de Saúde (SMS).

O farmacêutico Matheus Xavier, 24 anos, contraiu a Covid-19 e um dos sintomas foi a perda do olfato. Tudo começou com uns sintomas de gripe e, com isso, vieram umas dores no corpo bem forte. Até então, eu não me preocupei muito, pois achei que era apenas uma gripe. Cinco dias após os primeiros sintomas, eu perdi parte do olfato. Fui ao hospital fazer o exame e em 24 horas recebi o resultado, que deu positivo para a doença”, revela.

Além disso, Matheus sentiu coriza, tosse, perda de olfato e ficou 14 dias de quarentena. Após este período, ele foi curado e pode retornar às atividades. “Muitas pessoas sentiram efeitos colaterais após a cura, mas no meu caso eu não senti quase nada, meu olfato logo voltou ao normal e voltei a trabalhar sem me sentir cansado”, diz. Hoje, como ele faz parte do grupo prioritário, já está vacinado contra a Covid-19.

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Outras pessoas que se contaminaram com a doença apresentam outros sintomas, como dores musculares, febre, dor de garganta, dor de cabeça e tosse. A perda do olfato ocorre com dois terços dos infectados, diz estudos da Academia Brasileira de Rinologia (ABR). Em caso de perda total, chama-se de anosmia. Na Covid-19, ela acontece quando o vírus consegue entrar nas chamadas células de suporte, que ficam no nariz.

Contudo, um exame pode identificar o quanto o olfato foi prejudicado. “A ideia do treinamento olfatório é fazer uma reconexão do sentido do olfato no nariz com a parte do cérebro que identifica o odor. O paciente tem que concentrar, por exemplo, no eucalipto. Ele tem que lembrar do cheiro do eucalipto à medida que ele vai sentido a essência, mesmo que ele não esteja sentindo cheiro nenhum naquele momento. De uma maneira geral, a terapia olfativa mais tradicional é feita com quatro cheiros: eucalipto, cravo, rosa e limão”, explica Fabrizio Romano, presidente da Academia Brasileira de Rinologia.

Já naqueles casos, que precisam de um tratamento mais intenso, a volta do olfato por demorar para voltar igual era antes – o que pode variar de paciente para paciente. “Aquele paciente que está com uma perda de olfato prolongada, ele deve procurar um médico, normalmente, um otorrinolaringologista”, aponta Fabrizio.

Sequelas

Mesmo após a alta hospitalar, os pacientes infectados pela Covid-19 podem apresentar diversas sequelas. A principal queixa da grande maioria é a fadiga, explica o infectologista Marcelo Daher em entrevista ao O Hoje. Contudo, as consequências variam de pessoa para pessoas e fatores como idade ou doenças crônicas também podem interferir neste processo.

Os pacientes, geralmente, têm muitos sintomas clínicos após a alta hospitalar, revela Marcelo. “Ele [o paciente] fica realmente cansado, com mal estar e isto permanece durante um tempo. Varia de paciente pra paciente, dependendo do tempo de internação, pode ficar desnutrido e a recuperação normalmente é mais lenta”, explica. Esta é uma reclamação comum, afirma o especialista. Vale lembrar que vários fatores interferem nas sequelas, como a idade, doenças crônicas e tempo de internação. “É uma doença que, para os pacientes que possuem doenças mais severas, torna-se muito debilitante e a recuperação é demorada”, finaliza.

O vendedor Wesley Menezes, 25 anos, se curou da Covid-19, mas algumas sequelas ainda permaneceram em seu organismo. O olfato e paladar também demoraram a ficar 100% como eram antes. “Existe a sequela também no pulmão, que fica fraco. Mas no meu caso não chegou a proliferar, porque quando eu senti os sintomas corri para o hospital”, relata.

Wesley desconfiou que tinha se infectado após a irmã contrair o vírus. Como dormiam no mesmo quarto, ele começou a apresentar sintomas semelhantes ao dela. “Fui ao hospital e o médico orientou que eu permanecesse em casa durante sete dias”, explica. Após 15 dias, o vendedor deixou de apresentar os sintomas.

Doença ataca o coração e pode resultar até em depressão

Além disso, a Covid-19 ataca um órgão bastante importante: o coração. Por isso, problemas cardiovasculares podem ocorrer em pacientes após a doença. De acordo com o cardiologista Rodrigo Paashaus de Andrade, membro da linha de frente da força-tarefa do combate à Covid-19 do Comando de Saúde da Polícia Militar do Estado de Goiás, as complicações podem ser leves, como Alopecia Areata ou Lesões elementares de pele ou graves, atingindo o sistema cardiovascular e também o neurológico.

No sistema cardiovascular, segundo o cardiologista, destacam-se os eventos coronarianos, tromboembólicos, sendo o mais incidente o trombo embolismo pulmonar, os derrames pericárdicos, as miopericardites, com destaque para o aumento da incidência de Takotsubo e síndrome de Kawasaki-like infantil, as arritmias cardíacas e a insuficiência cardíaca, podendo levar ao choque cardiogênico e colapso cardiovascular.

“A neurologia tem destacado aumento da incidência de Cefaleia Crônica diária persistente, anosmia persistente, neurite, Encefalomielite Disseminada Aguda (ADEM), Síndrome de Guillain-Barré, encefalite e Acidente Vascular Cerebral (AVC)”, acrescenta Rodrigo.

O especialista ressalta que ainda há inconsistência, pois os relatos e séries de casos publicados já conseguiram destacar fragmentos de vírus no interstício celular, porém não no intracelular. No entanto, o infiltrado inflamatório é evidente. “Postula-se que o processo de lesão se inicia com agressão direta pelo vírus, causando lesão endotelial e uma “tempestade de citocinas”, levando a reação inflamatória intensa e coagulopatia completa com estímulo de fatores pró-coagulantes, aumento da agregação plaquetária e diminuição da fibrinólise natural”, frisa.

Depressão

As complicações não param por aí. O ortopedista Maurício Morais revela que estes pacientes ainda precisam enfrentar outras grandes batalhas em alguns casos. Diversos deles relatam sentir dor física e interferência no estado emocional, com sintomas de ansiedade e depressão, além de fraqueza nos braços, fadiga e falta de ar.

“O processo de inflamação aguda da Covid-19 ativa uma resposta inflamatória, que pode produzir lesão direta em nervos periféricos e músculos, produzindo fraqueza e dor por todo o corpo. Por outro lado, temos o descondicionamento físico, que é provocado pela imobilidade durante a doença”, avalia. (Especial para O Hoje)

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