Transporte público: longe do ideal e perto do reajuste

Ministério Público pede melhorias antes de reajuste de tarifa e usuários temem ser enganados

Postado em: 03-04-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Ministério Público pede melhorias antes de reajuste de tarifa e usuários temem ser enganados

Jéssica Nazareth 

A novela do transporte coletivo na Grande Goiânia está longe do fim. O preço das passagens pode sofrer novo reajuste em breve, mas a notícia não tem agradado usuários, que estão insatisfeitos com a qualidade do serviço. Na semana passada, promotores de justiça se reuniram com representantes da Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC) para cobrar fiscalizações e cumprimento de melhorias, previstas em contratos com o poder público, para que só então seja aplicado o reajuste. 

Se depender dos usuários, os principais desafios para a CMTC serão a insegurança e a superlotação, já que um levantamento indicou que eles são os itens que mais causam insatisfação. A pesquisa, realizada pela Universidade Federal de Goiás (UFG) em parceria com o Ministério Público de Goiás (MP-GO), o Instituto Federal de Goiás (IFG) e o Procon Goiânia, ouviu 2.420 pessoas em 21 terminais de ônibus, entre os meses de novembro e dezembro de 2016.

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De acordo com os dados, o transporte público na região metropolitana é percebido como regular, avaliado com nota média global de 2,8, em uma escala de 1 a 5. No entanto, os itens segurança e a lotação são apontados como os vilões pelos usuários, com média de 2,2, entre ruim e regular. O professor do curso de Engenharia de Transportes da UFG e um dos coordenadores da pesquisa, Willer Luciano Carvalho, explica que os dois elementos estão correlacionados.

“O que mais preocupa o usuário em relação à superlotação não é o conforto, e sim o medo de furtos. O mesmo vale para os pontos de embarque, se eles não têm cobertura ou apresentam mato ao redor, a pessoa vai identificar uma situação de risco”, afirma. O professor também lembra que, embora a segurança possa ser melhorada no transporte, a questão é também um problema público, complexo, e que atinge toda a cidade. 

Indignação

A secretária e assistente de odontologia Renata Alves de Oliveira já sentiu na pele o que mais assusta grande parte dos usuários. Durante as viagens no transporte coletivo, que utiliza para ir à faculdade no período noturno, Renata já foi assaltada duas vezes. Uma delas dentro do ônibus e na outra no ponto de embarque. “Não sei se colocar mais ônibus nas linhas seria o certo, mas melhorar os pontos e diminuir o intervalo de um ônibus para o outro ajudaria. Se eu perco os ônibus das 22h, tenho que esperar até às 23h para pegar outro”, conta.

Já o publicitário Abner Vinicius relata que não foi vítima de violência no transporte coletivo, mas tem medo. “Nunca fui assaltado, mas não me sinto seguro. Dependendo da situação, evito usar o celular dentro do ônibus”. O jovem concorda com Renata e afirma que diminuir o tempo de espera dos ônibus ajudaria, embora não acredite que melhorias aconteçam realmente. “Sempre em época de reajuste as empresa dizem que vão melhorar a qualidade dos serviços, porém eu nunca vejo essas melhorias. Me sinto roubado pelas empresas de transporte”, desabafa. 

Acessibilidade na mira do Ministério Público 

Outro aspecto do transporte coletivo que está na mira do MP-GO é a acessibilidade. Em dezembro de 2015, a CMTC assinou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público de Goiás. No documento, estava previsto que todos os veículos da frota seriam adaptados para transportar pessoas com deficiência, em um período de até seis meses. De acordo com o órgão, a promotora Marilda Helena dos Santos requisitou uma vistoria nos veículos para verificação do cumprimento do TAC, no mês de janeiro deste ano.

O laudo, com as conclusões, foi entregue há cerca de duas semanas, e não trouxe bons resultados.“O documento aponta falhas. A promotora, então, determinou o encaminhamento do relatório à CMTC para que se manifeste sobre o que será feito para corrigir os problemas detectados. A partir da resposta a ser enviada ao Ministério Público, a promotora deverá definir as medidas a serem tomadas”, informou a assessoria do MP em nota. 

Também em nota, a CMTC afirmou que “é responsável apenas pelos estudos e os cálculos previstos nas cláusulas contratuais dos valores da passagem do transporte coletivo da Região Metropolitana de Goiânia”, e não quis comentar sobre as melhorias exigidas pela promotoria da justiça e tampouco o cumprimento do Termo de Ajustamento de Conduta.   

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