Três pessoas morreram por hora da Covid-19 em Goiás em 2021

Estado ultrapassou as 20 mil mortes na última sexta-feira (16) e, dessas, mais de 13 mil foram registradas em 2021

Postado em: 19-07-2021 às 08h26
Por: João Paulo
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Estado ultrapassou as 20 mil mortes na última sexta-feira (16) e, dessas, mais de 13 mil foram registradas em 2021 | Foto: Reprodução

Goiás ultrapassou as 20 mil mortes causadas pela Covid-19 na última sexta-feira (16), de acordo com dados da Secretaria Estadual de Saúde (SES). Foram 13.232 mortes registradas em 197 dias de 2021. Isso significa que, em média, 67 pessoas morreram por dia no estado pela doença. Apesar da vacinação avançar de acordo com a chegada de novas doses em território, cerca de três famílias, em média, choraram por hora a perda de um ente querido para a doença. Essas pessoas, infelizmente, não tiveram a chance de tomar pelo menos a primeira dose do imunizante. 

A maioria das vítimas é do sexo masculino, com 11.416 mortos até a última sexta. Já as mulheres somam 8.621 vítimas fatais da doença. Uma dessas histórias foi interrompida ainda quando tudo estava muito recente. Ninguém ainda sabia ao certo como seria essa pandemia e a gravidade de toda essa doença, mas vidas já eram perdidas. Ao contrário do que muitos pensavam, idosos não eram os que eram mais suscetíveis a morrer pelo novo coronavírus. Pessoas jovens, sem nenhum histórico de comorbidade, também se tornavam vítimas fatais. 

Um exemplo disso foi o engenheiro agrônomo Rafael Rodrigues, de 31 anos. Ele morreu na madrugada de 11 de abril do ano passado. Ele passou 14 dias internado no Hospital da Unimed em Itumbiara. Antes disso, ele passou por Aloândia, cidade em que moram os pais, e Goiatuba antes de ir direto para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da unidade. 

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O interfone da minha casa começou a tocar muito. Fui abrir a porta e era meu irmão, chorando e falando pra mim que o Rafael tinha morrido. Isso era às 6 horas da manhã. Eu comecei a chorar e arrumar a casa. Era como se eu não quisesse acreditar”, relembra a empresária Juliane Severo, de 30 anos, esposa de Rafael. 

Segundo ela, o sonho dele era ser pai de uma menina. Ele conseguiu realizar o feito, que se chama Alice, de 2 anos. Porém, o coronavírus retirou o direito do pai de vê-la entrar na escola, namorar, entrar na faculdade e tornar-se adulta. Juliane conta que o marido era um exímio fã de sertanejo, mas adotou a música Every Breath You Take, da banda de rock inglesa The Police, como sendo do casal. Esta, inclusive, foi a primeira música que a filha dançou. Ele me acordava à noite, quando eu dormia primeiro que ele, e falava que olhava a Alice dormir e não acreditava que tinha realizado o sonho de ser pai”, recorda.

Mudança

A vida da empresária mudou totalmente após a morte do marido. A ficha só caiu após receber o atestado de óbito dele pelo Correios, pois os velórios para vítimas do Covid-19 são vedados para evitar contaminação. Ela destaca que sequer teve um último contato com o amado. “Eu vi ele saindo de casa e nunca mais voltar. É um negócio estranho, porque você não vê a pessoa de novo, nem que fosse num caixão. Eu acho que ele não iria querer que a gente visse ele do jeito que estava, porque ele estava muito debilitado”, relata.

Ela conta que viveu sete anos ao lado dele e que, após dez meses da morte, afirma que não consegue retirar a aliança do dedo. Não sei se vou conseguir tirar tão cedo, porque é uma coisa muito difícil de acreditar, sabe”, conta. Para tentar amenizar a saudade, ela assevera que teve que mudar de casa. “Qualquer buzina na porta a Alice saía correndo e chamando o pai. Hoje eu mudei para outro lugar, um apartamento. Mas quando chega alguém, ela pega a pessoa pela mão e sai mostrando tudo, inclusive as fotos do pai”, revela Juliane. 

A filha do casal também sente muita falta do pai e sempre pede para desenhá-lo como forma de relembrar de mais uma vítima fatal da doença. “Ela sempre me pede para eu desenhar o Rafael com asas, como se fosse uma borboleta. Uma vez ela estava no quintal da casa do meu irmão, comendo, e minha cunhada falou que uma borboleta amarela apareceu e ficou voando em volta dela. Nunca tinha aparecido uma borboleta amarela lá antes”, conta emocionada.

Juliane revela que produz um diário sobre quem era o pai da pequena Alice. O objetivo é trazer como toda a história de amor aconteceu na vida deles e como o jovem gostava de viver intensamente. “O Rafael tinha uma humildade que poucas pessoas têm nesse mundo, e um coração enorme. Lembrar dele é lembrar de uma pessoa que tinha uma vontade incrível de viver. Hoje eu entendo porque ele queria viver tanto e tão rápido, ficar tanto perto da família: ele não ia estar muito tempo ainda com a gente. Parece que no fundo, no fundo ele sabia disso”, diz.

1º Semestre

Dos 927.568 registros de óbito no primeiro semestre no Brasil, 314.036 foram por covid-19, ou seja, um terço das mortes registradas em cartórios no país. No estado de Goiás os números assustam mais: das 29.867 mil mortes no Estado de janeiro a junho de 2021, 11.632 foram pelo novo coronavírus, 38,9%. Os números estão no Portal da Transparência do Registro Civil e foram atualizados no dia 30 de junho deste ano.

De acordo com informações da Agência Brasil, os dados do portal são atualizados duas vezes por dia e seguem os prazos legais. A família tem até 24 horas após o falecimento para registrar o óbito em cartório, porém esse prazo foi estendido para 15 dias por causa da pandemia. O cartório tem até cinco dias para efetuar o registro de óbito e depois até oito dias para enviar o ato à Central Nacional de Informações do Registro Civil, que atualiza a plataforma online.

Até o momento, os dados oficiais do Ministério da Saúde somam 518.066 mortes causadas pelo novo Coronavírus no Brasil desde o início da pandemia. Em Goiás somam-se 19.045 mortes provocadas pelo Covid-19.

O registro de óbitos por covid-19 vem caindo. Em março, a média móvel de mortes dos últimos sete dias chegou a 3.357 no dia 30. Foi o ponto mais alto do primeiro semestre. Em junho, essa média ficou entre 1.600 e 2.000 óbitos. O mês terminou com média móvel de 592 mortes. Apesar da incidência de casos continuarem acima de 70 mil novos casos diários. No pico da pandemia no ano passado, entre o fim de maio e o fim de agosto, a média móvel de óbitos ficou em torno de 1.000 registros por dia.

O presidente da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais de Goiás (Arpen-GO), Bruno Quintiliano, disse que esse número não leva em conta as mortes causadas por outras doenças que podem ser associadas ao agravamento da covid-19, principalmente a síndrome respiratória aguda grave (SRAG), responsável por 7.413 óbitos em 2020 e 11.632 este ano. “Houve aumento considerável no número de óbitos. No cartório em que eu sou titular, em Aparecida de Goiânia”, afirmou Bruno.

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