Elas também tatuam: conheça a rotina de duas tatuadoras goianas

Tatuadoras, que estão sempre as mais requisitadas do mercado, falam da profissão e do machismo que enfrentam

Postado em: 29-04-2017 às 08h00
Por: Sheyla Sousa
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Tatuadoras, que estão sempre as mais requisitadas do mercado, falam da profissão e do machismo que enfrentam

Toni Nascimento

“Desde criança eu sabia que queria ser artista”, declarou Lays Alencar, uma das tatuadoras goianas mais requisitadas no cenário de tatuadores local. Na L.A. Tattoo Lays, de apenas 25 anos, realiza o próprio sonho de criança e o desejo de muita gente de desenhar no seu corpo, e às vezes, transformá-lo em uma tela cheia de obras de arte. Gyovanna Genopfinde também é tatuadora experiente e trabalha quase todos os dias da semana, inclusive final de semana, e em todos os horários para conseguir satisfazer os mais variados gostos e vontades. 

Antes de partir para o momento de realizar a tatuagem, Gyovanna explica que é necessário passar por uma sessão prévia com o cliente, onde será discutido qual a idéia da pessoa, o tamanho do desenho e o local para construírem  algo em conjunto e ser mais fácil de entender as verdadeiras intenções, no intuito de fazer um bom trabalho. Lays também considera a rotina bem longa, chegando a trabalhar 12 horas por dia. Ela costuma executar as tatuagens as mais simples pela manhã e as mais complexas pela tarde. Quando termina vai para casa para criar o desenho da tatuagem da tarde do dia seguinte. 

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Porque tatuadoras

Lays sempre sonhou em trabalhar com desenho, era a sua maior ambição desde criança.”Porém, eu fui mãe muito cedo, na época do vestibular eu precisava desesperadamente construir um futuro para mim e para o meu filho. Eu estava disposta a enfrentar qualquer situação para conseguir isso” contou a tatuadora. Foi neste momento da sua vida que ela conheceu o seu mestre. “Tornei-me aprendiz de um tatuador goiano muito experiente. Ele acreditou que eu tinha talento e determinação o suficiente para empenhar seu tempo em me ensinar. Na época eu precisava muito de uma profissão que tivesse a possibilidade de me dar retorno mais rápido que uma faculdade” completou.

Para Gyovanna a tatuagem foi mais que um sonho, e sim uma forma de salvação. Ela aprendeu uma noção de técnica de desenho com um curso técnico, cuja a intenção era abrir as portas para futuramente se tornar uma engenheira civil. O que não era previsível é que naquele momento ela também entraria em depressão. A tristeza e a insatisfação com o próprio corpo a levou para o mundo da tatuagem. De repente ela se viu apaixonada pelo estilo de vida e por aquela profissão, que logo viria a se tornar o seu modo de vida. 

“Me relacionei com o cara que fez minhas tatuagens e conheci este mundo da tatuagem e comecei a amar aquele estilo de vida, aquela forma de viver. Isso coincidiu com a época em que eu estava saindo da depressão e pra mim foi maravilhoso ter tido a oportunidade de ter a vida transformada pela tatuagem” afirmou. 

Mercado de portas abertas

Na primeira semana de abril, Goiânia recebeu o Go Art, Festival de Artes Integradas, que reuniu mais de 100 tatuadores de todo o Brasil. O festival reafirmou a força que Goiás tem no segmento da tatuagem, e mostrou que o mercado de tatuadores vêm crescendo cada vez na capital e no país inteiro. Gyovanna acha ótimo o crescimento do mercado, e consequentemente, a existência de mais tatuadores. “Quando mais gente tem no mercado, mas você tem que se destacar naquilo que você faz, forçando a nossa evolução na qualidade do trabalho realizado” afirmou.

Lays também vê o crescimento do mercado de tatuagem. “O mercado da tatuagem está crescendo muito, e não só em Goiânia. Com a popularização da internet a tatuagem está sendo muito difundida e desejada” afirmou.  “As pessoas se dispõem a esperar meses e até anos para conseguirem se tatuar com o tatuador que elas elegeram para fazer aquela ideia especial” contou Lays sobre a agenda dos tatuadores. 

Estereótipos e preconceitos 

Infelizmente ainda existe muitos preconceitos com pessoas com o corpo tatuado. Gyovanna conta que sempre que vai tatuar uma pessoa muito nova tem uma conversa na qual pergunta se isso é realmente o que a pessoa quer e se as circunstâncias sociais e pessoais em que a pessoa se encontra permitem uma maior ousadia na hora de desenhar. Os tatuadores também sofrem preconceito, mas felizmente Gyovanna e Lays afirmam já ter superado essa fase e estarem em um bom momento da carreira, onde os preconceitos já são bem menores do que já foram.

“Já passei por constrangimentos. Quando fui fazer meu título de eleitor, não tinha a opção de profissão tatuador, me colocaram como estudante. Fiquei chateada, mas sempre acontece quando preencho formulários, nunca tem essa opção” lembra Lays.

O machismo também afeta. Lays conta que já ocorreu de perguntarem onde estava o tatuador homem, duvidando que ela era tatuadora. “Alguns tatuadores também não ficam muito satisfeitos com mulheres tatuando, alguns não gostam de tatuagens pequenas e delicadas, e ao invés de assumir que não gostam de executar, preferem dizer não é tatuagem de verdade, o que eu vejo como machismo, o repúdio a coisas que são vistas como femininas” afirmou.

Gyovanna começou a tatuar com 18 anos e se descreve como uma garota que tinha aspecto magra e infantil. Quando começou a fazer as tatuagens afirma ter passado por situações difíceis devido à aparência. Apesar disso ela afirma ter feito das dificuldades sua força para superá-los e se tornar melhor. Ainda lembra que hoje em dia muitas mulheres preferem se tatuar com outras mulheres por causa do traço delicado. 

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