Atitude violenta da polícia tem paralelo com a comunicação, diz linguista

Recentemente, três casos de abordagens policiais filmadas em Goiás repercutiram negativamente perante a sociedade. Na última quarta-feira (21/07), foi a agressão ao

Postado em: 25-07-2021 às 09h59
Por: Nielton Soares
Imagem Ilustrando a Notícia: Atitude violenta da polícia tem paralelo com a comunicação, diz linguista
Especialista em linguagem explica que agressões físicas se iniciam com “discurso de absoluta violência”. Relembre os últimos episódios de abuso de autoridade envolvendo a PMGO | Foto: reprodução

Recentemente, três casos de abordagens policiais filmadas em Goiás repercutiram negativamente perante a sociedade. Na última quarta-feira (21/07), foi a agressão ao advogado Orcelio Ferreira Silverio Junior, de 32 anos, por agentes do Giro. No domingo (18/07), sem grande alarde, dois adolescentes foram filmados apanhando de PMs, em Aruanã. E, no dia 28 de maio, o youtuber Filipe Ferreira denunciou que policiais o abordaram de maneira truculenta, na Cidade Ocidental.

Mas como explicar a “promoção” da violência por aqueles que deveriam contê-la? Há vários motivos quando se trata de ação ostensiva. Um deles, segundo o especialista em linguística, Carlos André, está na linguagem. “Quando nós falamos em linguagem, nós falamos que toda e qualquer linguagem, seja ela verbal, a palavra, seja a linguagem não-verbal, desde as vestimentas até a perspectiva da violência, isso tudo está ligado à lógica do discurso,” esclarece.

Nesse sentido, o especialista defende mudar a abordagem comunicacional das forças de segurança. Ele sugere, não apenas novos treinamentos aos policiais, mas também pensar no novo modo de agir deles, a partir do processo de comunicação. “A linguagem policial deve mudar imediatamente. Agredir um advogado é agredir a cidadania”, frisa.

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Na semana passada, o governador Ronaldo Caiado (DEM) chegou a admitir “nítido excesso” e afirmou que o governo está tomando todas as providências sobre o episódio. Esses excessos eles não serão admitidos de maneira alguma, nem pelo governador, nem pelo comando da PM, nem pelo secretário de segurança pública”, reforçou.  

Discurso violento

Carlos André é professor de Português e conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Goiás (OAB-GO). Em fevereiro deste ano, ele redigiu um parecer, a pedido do Ministério Público de Goiás (MP-GO), baseado nas análises feitas acerca da linguagem utilizada pela polícia.

“É bom lembrar que a palavra “polícia” vem de polis (cidade), é aquele que protege a cidade, que tem a função de proteção. Mas o que temos percebido é que a polícia assusta as pessoas, a linguagem policial é uma linguagem completamente equivocada e ela traduz um discurso de absoluta violência”, opina. “A linguagem policial é uma linguagem que não traduz a importância que a polícia tem para o Estado brasileiro”, acrescenta o especialista.

Abordagens policiais

Policiais militares do Grupamento de Intervenção Rápida Ostensiva (Giro) foram filmados agredindo com socos o advogado Orcelio Ferreira Silverio Junior, em uma calçada da Capital. Nas imagens, que foram divulgadas nas redes sociais, mostram quando o profissional é jogado ao chão, algemado e arrastado pelos PMs.

Em um dos vídeos, gravado por testemunhas, mostra quando Orcelio, mesmo imobilizado no chão, apanha no rosto por um dos militares, e na sequência, tem o pescoço preso entre as pernas de um deles.

No boletim de ocorrências, os PMs narram que tiveram de conter o advogado porque ele teria desobedecido uma ordem deles, quando era realizada uma abordagem a um morador de rua. Segundo os policiais, ele teria desferido chutes contra a equipe e mordido o dedo de um policial.

Por nota, a PM-GO informou que instaurou um Procedimento Administrativo Disciplinar, que irá apurar os fatos e, além disso, determinou o afastamento das atividades operacionais do policial envolvido no episódio. A corporação reafirmou que não compactua com qualquer tipo de excesso.

Adolescentes negros

No domingo (18/07), dois adolescentes denunciaram que foram agredidos por PMs em Aruanã. Eles contam que levaram tapas no rosto sem motivo, uma que estavam apenas ouvindo música, juntamente com um amigo branco, que foi o único a não apanhar.

Um dia depois, a família de um dos jovens registrou boletim de ocorrência na Polícia Civil de Goiás (PC-GO). Segundo os familiares, os rapazes estavam no comércio do pai de um deles, um guarda-barcos, quando houve a interpelação policial.

Youtuber

No fim de maio, o youtuber Filipe Ferreira estava gravando manobras para o canal dele na Cidade Ocidental (GO), município no entorno do Distrito Federal, quando foi abordado por PMs.

Nas cenas, o jovem aparece, inicialmente, testando movimentos com a bike e no fundo surge uma viatura. Um dos policiais desce e dá uma ordem para o jovem se afastar. Após questionamento do youtuber, o PM sacou uma arma e disse: “Coloca a mão na cabeça”. Filipe divulgou os vídeos e criticou a maneira de agir dos policiais. O caso repercutiu negativamente no país.

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