Peso da inflação obriga goianos a trocarem carne e ovos por verduras

Alimentos importantes para a nutrição acabam sendo substituído por conta dos custos da cesta básica

Postado em: 20-08-2021 às 07h40
Por: João Paulo
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Alimentos importantes para a nutrição acabam sendo substituído por conta dos custos da cesta básica | Foto: Reprodução

Não é de hoje que se fala da alta nos preços de alimentos. E dois deles podem disparar muito acima da inflação: a carne bovina e os ovos. A estimativa é que a inflação sobre proteínas seja quase o dobro da inflação oficial projetada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que é de 5,9% em 2020. Diante disso, algumas pessoas já adotam a substituição de um alimento pelo outro.

Além disso, especialistas destacam que a maior alta deste ano será a carne de boi, com 17,6%. Logo em seguida, vem a de porco, com 15,1%, e a carne de frango, com 11,8%. A alternativa mais comum de substituição da carne, os ovos de galinha, também têm previsão de alta de 7,6%, mas mesmo assim bem menor que a elevação do preço da carne bovina.

É o caso da influenciadora digital Rayssa Alvarenga. Ela afirma que notou uma constante alta nos preços dos alimentos, que estavam presentes quase diariamente na mesa da família. “A principal modificação que fizemos foi a diminuição da compra. Antes, a gente trazia uma grande quantidade de alimentos. Como as coisas encareceram muito, a gente passou a ir semanalmente nos supermercados e pegar as promoções”, destaca.

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Ela conta que, na medida do possível, consegue economizar. Ela disse que, diante dos preços, passou a guardar mais a carne no congelador, mesmo sendo o principal acompanhamento no prato – junto com o arroz e feijão – do brasileiro. Por causa disso, ela procurou outros alimentos para substituí-la. “Aqui em casa a gente passou a consumir mais verduras e legumes, como brócolis, couve-flor, que substituem a carne. Além disso, outros alimentos como castanha do Pará, a castanha de caju e frutas, que ajudam a sustentar”, pontua.

Ela conta que, há três meses, as compras realizadas para casa davam, em média, R$ 400. No mês retrasado, os produtos somados deram R$ 600. No mês passado, ela já decidiu fazer compras semanais para tentar economizar. “É insano essa disparada dos preços. Hoje em dia, você compra cinco coisas e que já dá mais de R$ 100. É muito assustador. E não é só a comida, a gasolina também subiu”, destaca.

Por fim, Rayssa dá dicas para as demais donas de casa de como lidar com o aumento. “O que eu falo é pesquisar mais receitas para substituição de alimentos que não deixem o nosso corpo sem nutrientes. Dá para você encontrar uma série de alimentos que substituem tudo o que o nosso corpo precisa. E funciona”, afirma.

Substituição

O nutricionista e educador físico Fernando Castro afirma que a maior dificuldade de substituição dos dois alimentos é o ovo, já que é uma proteína mais barata. “O ovo e a carne fazem parte do grupo de proteínas e são essenciais para o nosso corpo. Assim como o arroz é um carboidrato cereal que pode ser substituído por outros alimentos. O ovo e arroz são os alimentos mais difíceis de serem trocados, dentro do seu grupo, pelo fato do preço já que ambos são mais acessíveis à maioria da população”, destaca.

A nutricionista Djamilla Fabiana ainda complementa que carnes e ovos no geral são fontes de proteínas, vitaminas e minerais importantes como B12 e Ferro, importante para manter sua capacidade neuromuscular em bom funcionamento. “Para substituí-los o ideal seria alimentos com mais proteínas como laticínios e leguminosas (feijão, ervilha e grão-de-bico). Lembrando que os alimentos in natura são sempre melhores e caso fique na dúvida, olhar sempre lista de ingredientes de tudo que estiver embalado”, afirma.

Consumo de carne tem queda em 2020

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgou dados que mostram que o consumo de carne bovina dos brasileiros caiu 5% em 2020 em relação ao ano anterior. O levantamento destaca que no ano passado os brasileiros consumiram 29,3 quilos por habitante. Já em 2019, foram 30,7 quilos por habitante. O patamar registrado no ano passado é tido como o menor da série histórica da Companhia, em 1996.

A Conab mede o chamado consumo aparente ou disponibilidade interna per capita, que é o volume produzido, descontadas as exportações e somadas as importações. O número para 2020 é uma estimativa, já que ainda não há dados fechados para a produção pecuária no ano passado.

Os dados da Conab consideram apenas a carne bovina fiscalizada. Mas, considerando a produção informal, a tendência é a mesma.

Sem sombras de dúvidas que a alta nos preços contribuiu para essa retração no consumo. Uma pesquisa do Procon Municipal realizada no início do ano mostrou variações de mais de 114% no valor do quilo para alguns cortes bovinos. A pesquisa abrangeu 12 supermercados localizados em diversos bairros de Goiânia.

Nas carnes consideradas de segunda, o quilo da costela bovina foi o que apresentou a maior variação de preço, que pode custar entre R$ 14,67 a R$ 31,49 dependendo do mercado, Isso representa uma variação de 144,66%. O segundo lugar fica com a fraldinha, que tem variação de 86,99%. Os preços estão entre R$ 23,90 e R$ 44,69.

Os cortes mais caros também sofreram os reajustes. A picanha pode custar entre R$ 35,89 e R$ 99,90, sendo uma diferença de 178,35%. O lagarto foi encontrado entre R$ 28,98 e R$ 43,69, variação de 50,76%. Já o quilo do patinho varia de R$ 29,98 até R$ 45,98, alcançando uma variação de 53,37%. O quilo do coxão mole apresentou variação de 53,40%. O menor preço encontrado foi de R$ 29,98 e o maior R$ 45,99.

A pesquisa também trouxe informações sobre produtos como frango e porco. No geral, a maior variação encontrada foi para o quilo do filé de frango, que custa entre R$ 9,99 e R$ 22,98, variação de 130,03%. Em seguida, o quilo do frango inteiro congelado, que custa R$ 7,49 até R$ 10,90, alcançando uma variação de 45,53%. O quilo da asa de frango que apresentou diferença de 53,22%. O menor preço encontrado foi de R$ 15,99 e maior R$ 24,50. O quilo do lombo suíno apresentou a maior variação de 112,43%. O menor preço encontrado foi de R$ 16,90 e o maior R$ 35,90.

O presidente do Procon Goiânia, Gustavo Cruvinel, explica que a perspectiva para este ano é de que os preços da carne de boi continuem em alta e com isso, o consumidor vai deixar de comprar o produto com muita frequência. “Com o desemprego acima dos 14%, o consumidor de baixa renda vai procurar proteínas alternativas, como ovo, frango e suíno, que também estão com valores altos, mas a carne bovina é a que mais sente quando o poder aquisitivo da população diminui”, disse Gustavo. (Especial para O Hoje)

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