Segunda-feira, 22 de julho de 2024

Parte final da visita inédita a um hospital que trata Covid-19 em Goiânia

Chegamos ao fim da série de três reportagens sobre a visita inédita a um hospital que faz tratamento de pacientes suspeitos ou

Postado em: 22-08-2021 às 13h20
Por: Nielton Soares
Imagem Ilustrando a Notícia: Parte final da visita inédita a um hospital que trata Covid-19 em Goiânia
Direção rebateu acusações que na unidade privada morrem mais pacientes pela doença do que a média registrada por outras instituições de saúde | Foto: reprodução

Chegamos ao fim da série de três reportagens sobre a visita inédita a um hospital que faz tratamento de pacientes suspeitos ou confirmados com Covid-19, em Goiânia. Em abril deste ano, a unidade foi acusada pela família de Aniceto Francisco dos Reis, de 89 anos, vítima da Covid-19, de ter trocado o corpo dele por outro. Estarei narrando mais sobre esse caso no decorrer desta matéria. Neste encerramento, vamos conhecer o segundo piso do Gastro Salustiano, se há alto índice de óbitos e como são feitas as fiscalizações, por exemplo, pelo Ministério Público, quando recebe reclamações.

Para relembrar, o convite para a visita foi feito pelo hospital e foi provocada após denúncias ao jornal O Hoje de leitores reclamando dos procedimentos da divulgação dos boletins de doentes internados na unidade, de não poderem fazer visitas presenciais e alegando alta taxa de mortalidade no local. Para a visita presencial ao prédio, tive que ser paramentado e antes já havia recebido a vacina contra a Covid-19. Os detalhes foram reportados na primeira parte desta reportagem. Já, na sequência, na segunda parte da matéria, conhecemos o passo a passo da chegada dos pacientes, alguns em estados gravíssimos; do tratamento até a saída do hospital.

Após passarmos pelas instalações, conhecendo também a farmácia e amorxerifado, que de acordo com o diretor do hospital, o médico Salustiano Gabriel Neto, os departamentos são todos abastecidos, como por exemplo: kits para entubação. O especialista diz que não há desculpa para a falta de medicamentos para tratar a doença, uma vez que já se passaram mais de 17 meses em que o país enfrenta a Covid-19. “No início da pandemia, tudo bem, não tínhamos muito conhecimento sobre a doença, agora já temos conhecimento”, justifica.

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Do corredor principal do prédio uma rampa dá acesso aos leitos de enfermarias e mais alas de Unidades de Terapia Intensivas (UTIs), ao todo 200 leitos, sendo 91 de UTIs (75 delas exclusivas para Covid-19), separadas por mais corredores. A estrutura se nota como totalmente nova, muitos leitos de vidro, muitas divisões e equipamentos novos. No fim de um dos corretores, entramos em salas, indicados pelo diretor, como de uso para descanso das equipes médicas. Na ala de enfermarias, pude entrar em alguns quartos. Em um deles uma paciente estava recebendo alta, após se curar da Covid-19. “Quero agradecer o tratamento que tive aqui”, relatou a mulher.

Óbitos

Ao O Hoje, os leitores alegaram também que o Gastro Salustiano registra índices altos de óbitos por Covid-19. Em resposta, o diretor apresentou dados que colocam a unidade na proporção entre o número de mortes e o número total de internações por Covid-19 em hospitais privados no Brasil.

Um levantamento da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB), em conjunto com a Federação Mundial de Cuidados Críticos e Intensivos (WFICC), mostra que a taxa de mortalidade é de 52,9% na rede pública de saúde, após a internação e de óbitos e de 29,7% no setor privado. “Nossa taxa de mortalidade está nessa média, porém, aqui atendemos mais pacientes do SUS”, compara, acrescenta que o número de morte também aumentou na proporção do aumento das internações, após ampliação do hospital. O médico criticou ainda as acusações de que hospitais faturam por pacientes que morrem de Covid-19. “Isso não existe”, reforçou.  

Troca de corpos

No dia 29 de abril deste ano, segundo o site de notícia G1, a família de Aniceto Francisco dos Reis, de 89 anos – morto por complicações da Covid-19, no Hospital Gastro Salustiano, denunciou que o corpo do idoso foi trocado pelo o de outro paciente, sendo sepultado por outra família.

O filho de Aniceto, Adriano Francisco dos Reis, de 54 anos, contou que foi informado pela unidade que o pai morreu no dia 27 de abril e logo foi cuidar dos trâmites para o enterro. Porém, no dia seguinte, quando chegou ao hospital para reconhecimento, o corpo já não estava no necrotério do hospital.

Ao avaliar falhas durante este processo de pandemia da Covid-19, o diretor citou o esforço na qualidade da prestação do serviço de saúde. “Podemos errar, porque somos humanos, mas sempre procuramos nos aprimorar e a cada dia melhorar.  O erro é até possível, mas repeti-los, não”, afirmou Salustiano.

Reclamações 

Durante a visita, o diretor apresentou algumas respostas fornecidas pelo hospital, via e-mail, ao Ministério Público de Goiás (MPGO), após pedidos de esclarecimentos sobre denúncias sobre os boletins médicos. Questionado pela reportagem sobre como é feita a atuação do órgão nos casos gerais, o MPGO informou, por nota, que: “As denúncias recebidas pelo Ministério Público por intermédio da Área de Saúde ou pela plataforma MP Cidadão são distribuídas a uma das Promotorias de Justiça da Capital com atribuição na área. A definição sobre a forma da investigação cabe ao promotor ou promotora de Justiça para o qual o caso foi ou será distribuído”.

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